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Hamas diz ter que refém português está morto

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Um dos dois reféns israelitas na Faixa de Gaza declarados mortos esta segunda-feira pelo movimento palestiniano Hamas tem nacionalidade portuguesa, segundo informação prestada pela Embaixada de Israel em Lisboa.

Trata-se de Yossi Sharabi, 53 anos, que surgia num vídeo propagandístico divulgado no domingo pelo Hamas na rede Telegram, pedindo ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a cessação da guerra na Faixa de Gaza.

A Embaixada de Israel em Portugal indicou hoje à Lusa que Sharabi tem nacionalidade portuguesa e que a sua mulher, Nari, esteve em Lisboa no mês passado a pedir ajuda ao Governo para exercer esforços no sentido da sua libertação.

“Amanhã [hoje] será revelado o seu destino”’, afirmava o Hamas no vídeo, segundo a tradução enviada à Lusa pela Embaixada de Israel, que divulgou uma fotografia de Nari Sharabi, com familiares de outros reféns num encontro há um mês com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

Num novo vídeo hoje difundido pelo Hamas, é revelado que Yossi Sharabi e Itay Svirsky, de 38 anos, morreram em cativeiro.

Nas imagens, vê-se uma jovem, também refém, visivelmente sob pressão, afirmando que dois homens com quem estava detida desde o ataque do Hamas em solo israelita em 07 de outubro estão mortos.

Em comunicado citado pela agência France-Presse (AFP), o braço militar do movimento palestiniano alegou que os reféns “foram mortos em bombardeamentos sionistas em Gaza”.

Nenhuma indicação da data da captação das imagens é dada nos vídeos, nem há confirmação oficial da morte dos dois reféns.

A Lusa contactou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas não obteve ainda resposta.

A refém Noa Argamani, 26 anos, que supostamente ainda está viva, conta no vídeo hoje revelado como os seus companheiros de cativeiro morreram.

“Colocaram-me num prédio que foi bombardeado por um ataque aéreo das Forças de Defesa de Israel [FDI] por um avião de combate F16. Três foguetes foram disparados. Dois dos foguetes explodiram e o outro não”, relatou Noa Argamani, segundo a descrição da agência espanhola EFE.

A mulher conta que ela, Itay e Yossi estavam naquele prédio, com milicianos das Brigadas Al-Qasam, braço armado do Hamas, quando o edifício foi atingido: “Ficámos todos soterrados sob os escombros. Os soldados do Al-Qasam salvaram a minha vida e a de Itay. Infelizmente, não conseguimos salvar a de Yossi”, explicou o refém.

“Depois de duas noites, o Itay e eu fomos transferidos para outro local. Enquanto éramos transportados, o Itay foi atingido por outro ataque aéreo das FDI”, descreveu ainda a refém, cuja libertação tem sido amplamente solicitada devido à situação da sua mãe, que sofre de um cancro terminal.

O Exército israelita ainda não comentou a veracidade das informações fornecidas no vídeo do Hamas.

“Fui abandonado pelo meu governo duas vezes, uma vez quando fui sequestrado em [‘kibutz] Be’eri e outra agora. Por favor, Netanyahu, pare esta guerra, leve-nos para casa. As condições são muito difíceis, não temos comida nem água. Estou em perigo, em todos os lugares”, ouve-se Itay Svirsky dizer no início do primeiro vídeo propagandístico.

“À medida que a guerra continua, a situação torna-se mais difícil. Corremos um perigo cada vez maior. É por isso que a guerra tem de acabar”, afirmava por sua vez Yossi Sharabi.

Familiares de Eli e Yossi Sharabi, Idan Shtivi e Tsachi Idan, reféns com nacionalidade portuguesa em posse do Hamas desde 07 de outubro, estiveram em dezembro em Lisboa, onde, no dia 06, deram uma conferência de imprensa dando conta do seu desespero e esperança e pedindo insistentemente esforços no sentido da sua libertação.

Na véspera do encontro com os jornalistas, estes familiares reuniram-se na sinagoga de Lisboa para rezar pela sua libertação e o “fim do pesadelo”, reconstituindo à Lusa os acontecimentos de 07 de outubro.

“É realmente uma realidade diferente porque não consigo entender como pode ser cruel neste mundo, no nosso século, nas nossa vidas, pegarem nas nossas pessoas mais queridas e colocá-las noutro lugar sem nada, sem sabermos qual é o seu estado, condição e como são tratados”, desabafou Nira Sharabi.

Nira “escapou miraculosamente à morte com as três filhas adolescentes no dia em que elementos armados do grupo terrorista Hamas massacraram muitos dos mil habitantes do ‘kibutz’ Be’eri”, referiu hoje a representação israelita em Lisboa.

De acordo com um comunicado da Comunidade Israelita do Porto, Yossi Sharabi é filho de pai marroquino, de apelido Turgeman, e de mãe marroquina, de apelido Sharabi.

“Membros da família Turgeman regressaram a Portugal, provenientes de Marrocos e Gibraltar, nos séculos XIX e XX, estando sepultadas no cemitério judaico de Lisboa”, refere o comunicado.

Assinalando os cem dias de guerra, as famílias dos mais de cem reféns em posse do Hamas convocaram uma manifestação massiva no domingo em Telavive durante 24 horas para exigir que o Governo israelita faça todos os possíveis e negocie o que for necessário para trazê-los de volta, enquanto Netanyahu está empenhado na manutenção da pressão militar sobre o grupo islamita como única alternativa.

Após 07 de outubro, os combates só foram interrompidos durante uma semana – entre 24 e 30 de novembro – numa trégua mediada pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, que incluiu a libertação de 105 reféns detidos pelo Hamas em troca de 240 prisioneiros palestinianos e a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita, massacrando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis, e levando mais de 200 reféns, segundo números oficiais de Telavive.

Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 24.000 pessoas – na maioria mulheres, crianças e adolescentes – e feridas acima de 57 mil, também maioritariamente civis.

O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.

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