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Scottuguese Rita: uma portuguesa apaixonada pela Escócia

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Rita Simões-Muir sempre teve várias paixões, o que nem sempre a fez sentir que pertencia a algum lugar. Foi a procura por um sítio onde pudesse ser feliz com todas elas que a levou à Escócia, país onde começou a viver e a trabalhar com apenas 20 anos. Hoje, já lá vive há 11 com a sua família metade escocesa, metade portuguesa, e onde tem vindo a construir carreira numa área “difícil de explicar à família”. Através do nome Scottugueserita, cria conteúdos para as redes sociais sobre como é ser uma portuguesa na Escócia, mas não só. Esta semana, a “Rita from the Pit Lane” está ao volante do TikTok do BOM DIA, com vídeos novos de segunda a domingo.

Nasceu em Coimbra, mas sempre viveu com a família em Anadia. Enquanto crescia, Rita sentia-se um pouco deslocada do meio em que vivia, tendo chegado a um ponto em que, depois de ter terminado a sua licenciatura em design, “precisava de sair, de conhecer outros sítios, outra realidade”, explica em entrevista ao BOM DIA.

“Por várias razões eu tive uma vida complicada e nunca me senti parte de nada mesmo. Tenho uma família maravilhosa, mas fora da família sempre me senti muito à parte e estava muito infeliz, então tive que ir à procura dessa felicidade e encontrei!”, diz.

Rita tinha um amigo a viver na Escócia e, sabendo falar inglês, foi com uma mala e a sua gata à procura de uma vida diferente. “Não tinha emprego, não tinha nada”, mas “com 20 anos não tinha preocupações nenhumas, não tinha nada a perder”, explica, não pensando duas vezes antes de rumar à aventura.

Hoje, com 32 anos, já vive na Escócia há 12, e desde logo adaptou-se muito bem ao país muito diverso, e com pessoas muito diferentes que encontrou quando chegou. “Quando me comecei a habituar à cultura, apercebi-me que aqui há imensas pessoas de imensas religiões, países, orientações sexuais, experiências diferentes, coisas com as quais eu nunca tive contato por ter crescido naquele cantinho”, recorda. 

Outra coisa que encontrou foi uma maior abertura para falar de problemas do foro psicológico e mental, algo que em Portugal não acontecia na época. “Em termos de neurodiversidade é algo que é muito mais falado, mais aceite, então senti-me mais acarinhada nesse sentido de poder ser eu e conhecer outras pessoas assim. Acho que há mais diversidade mas, lá está, se tivesse crescido em Lisboa ou no Porto se calhar tinha visto isso!”, diz, para Rita mudar-se para uma das metrópoles portuguesas nunca foi uma opção. Ou era “tudo ou nada”, diz.

“Eu precisava de distância para me poder voltar a reaproximar do meu país e das minhas raízes, o que já consegui agora” explica, não considerasse a melhor parte da Escócia “as pessoas”, que diz serem “muito semelhantes aos portugueses”.

“Eu acho que são povos muito semelhantes no sentido em que são muito afáveis, muito simpáticos, divertidos e engraçados. Agora a minha família é portuguesa e escocesa, tenho a minha família portuguesa e o meu marido é escocês, e eu acho que eles têm um bom coração também”, confessa Rita.

“Eu acho que os portugueses são pessoas que são muito caridosas, que gostam muito de se ajudar e de se apoiar uns aos outros e os escoceses também são muito assim, são muito de coração. Eu acho que em termos de valores, há valores semelhantes, mas depois em termos de mentalidade, depende. São países diferentes, não há países perfeitos, isso é o que eu posso garantir”, explica.

Arranjou trabalho logo no segundo dia no restaurante de um conhecido do amigo. Mesmo sem nunca ter trabalhado na área, aceitou o desafio de aprender e acabou por ficar, até porque cedo percebeu que a qualidade de vida deste tipo de trabalho era bastante melhor do que o que estava habituada a ver em Portugal.

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A oportunidade também lhe permitiu começar a aprender e a conhecer melhor a língua, ficando cada vez mais fluente: não só no inglês, mas no sotaque escocês que hoje já emprega com toda a naturalidade.

“Nos primeiros oito, nove meses em que estive aqui não me conseguia expressar completamente e não conseguia ser 100% eu ainda por causa da língua”, explica. Rita nunca achou que iria apanhar o sotaque do país, mas estando lá sozinha e falando em português apenas com a família, essa era a sonoridade que a rodeava constantemente, tendo acabado por ir copiando a sua maneira de falar.

“Eu acho que os portugueses têm muita capacidade linguística”, diz Rita. “Nós que temos tantos sons na nossa língua, acho que temos imensas capacidades de nos adaptar em termos de línguas”, mas não só. Já decidida a ficar no país, Rita foi se adaptando às oportunidades que lhe iam surgindo, e acabou por ser recrutada pela Apple, onde trabalhou durante sete anos. 

Esse trabalho levou-a a descobrir e orientar a sua carreira para o percurso que segue hoje em dia, mas que até agora ainda “é difícil de explicar bem à família”, confessa. Rita trabalha numa empresa de advocacia, enquanto formadora em ‘Personal Skills’, na indústria de ‘Learning and Development’, estando encarregue do desenvolvimento pessoal e das ‘soft skills’ dos advogados. 

“Eles têm todo o conhecimento em termos de leis, em termos técnicos, mas depois há coisas que não se aprendem na escola nem na universidade como a resiliência, o fazer uma boa apresentação, comunicar bem com os outros, etc.. Isso não se aprende em lado nenhum, então é isso que eu ensino”, explica Rita.

Esta foi uma área pela qual se apaixonou, mas outra área que também adora e que se vê a fazer profissionalmente no futuro é a comunicação, razão pela qual começou a experimentar produzir vídeos e conteúdos digitais durante a quarentena para o TikTok, por não poder fazer tanto aquilo que mais gosta: falar e socializar.

“Eu gostava muito de fazer apresentação na televisão, entrevistas, porque gosto muito de falar com as pessoas, de conhecer as pessoas, e conhecer o lado mais autêntico das pessoas.” diz Rita que inclusivamente já trabalhou vários meses com a BBC Scottland enquanto apresentadora em vídeos que criava sobre comida escocesa.

Esta foi uma oportunidade que surgiu através dos conteúdos que publicava no Tiktok, que Rita confessa criar não de forma estratégica, mas pelo gosto que tem de criar conexões com outras pessoas. “Para isso eu também tenho que dar o meu lado mais autêntico, então eu não vou atrás do que dá ‘views’, tem que ser algo que venha com autenticidade e com paixão”, diz, sendo também isso que lhe deu motivação para continuar até hoje.

No digital, construiu uma comunidade de pessoas que tem vindo a crescer desde então.. “Para mim é mais uma forma também de me sentir aceite. As pessoas identificam-se com o conteúdo e eu já não sou a pessoa que está a destoar dos outros, sou alguém com quem as pessoas se identificam, o que não sentia ser antes”, confessa.

Para além das pessoas, também adora animais, tendo chegado ao ponto de ter um “gerbo, um gato e um cão”, assim como carros, sendo uma aficionada da fórmula 1. Começou a ver quando era pequena com o pai, aos domingos, na televisão, e a paixão manteve-se sempre até hoje. A “Rita from the Pit Lane” é uma das personagens que veste nos seus tiktoks, que um dia criou para comentar algo passado numa corrida, e que o sucesso que fez manteve até hoje.

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No seu tiktok, tem também um guia dos melhores pastéis de nata na Escócia, garantindo que atualmente ganha o d’“Os Pastéis de Lisboa”, em Glasgow. “Os donos são escoceses, mas a receita e os cozinheiros são portugueses”, garante, dizendo que os escoceses também adoram pastel de nata, e sabem que é um doce português.

Para além de confessar que não encontra muitos portugueses na Escócia, havendo mais portugueses em Edimburgo do que em Glasgow, onde vive, a perceção dos escoceses por este povo é “muito boa”.

“A minha experiência até agora tem sido fantástica e que eles têm mesmo muito boa imagem dos portugueses. Os escoceses gostam muito de conversar, que é uma coisa que eu também gosto. A Escócia não é um país para pessoas introvertidas, então sempre que alguém diz que é de Portugal, a próxima meia hora vai ser a falar daquela vez em que eles foram para não sei onde em Portugal, e gostaram tanto… eles adoram Portugal, adoram portugueses, portanto há uma relação muito positiva”, explica.

Rita é atualmente casada com um escocês, que confessa achar que tem “uma costela portuguesa, em algum lado” isto porque “é apaixonado por Portugal, é apaixonado por comida portuguesa, por uma portuguesa, claro, e fala bem português. Quando está em Portugal parece que está em casa”, diz.

Quanto às próximas aventuras, Rita confessa que gosta de viver “ao sabor do vento, sem grandes planos” sentindo-se em casa na Escócia. Para já, não tem como objetivo regressar para Portugal, visto que vai ao país várias vezes ao ano e a família também a visita com regularidade. “O tempo não me chateia, em termos económicos as coisas são muitíssimo melhores aqui, por isso para já não há assim nada que me faça querer voltar”, confessa.

Esta semana, estará pelo TikTok do BOM DIA a partilhar os seus vídeos e experiência enquanto portuguesa na Escócia, desta segunda-feira até ao próximo domingo. O primeiro já saíu do forno, e pode vê-lo aqui.

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