“Quem acredita levianamente tem um coração leviano.”
José Saramago
Na minha reflexão desta semana irei centrar-me num personagem da história de Portugal, um herói chamado D. Luis que durante o dia era Rei de Portugal mas de noite era Dr. Tavares, mas não era para curar ninguém.
D. Luis, filho de D. Maria II e D. Fernando, era irmão de D. Pedro V do qual foi sucessor ao trono entre os anos 1861 e 1889. O trabalho de D. Luis fora notável em Portugal, a sua dedicação positiva no reinado lhe dera o cognome de “o popular”, pelos vistos também era popular na vida noturna, e aí era conhecido por Dr. Tavares.
D. Luis era uma pessoa sensível e culta devido à sua educação rigorosa, desenvolveu qualidades como tolerância, conciliação, prudência e moderação. Falava vários idiomas, que usou para traduzir alguma obras shakespearianas. Era um amante das artes, desenho e música ocupavam grande parte do seu dia-a-dia.
De noite dedicava-se a outras atividades menos próprias, como a pesca de garinas, a degustação de tabaco e daquelas ervas que fazem rir, gastronomia portuguesa e um pouco de enologia. Como amante da vida noturna, ele era frequente em clubes noturnos, disfarçado de Dr. Tavares. E, sim, era fácil as pessoas não o reconhecerem como sendo o rei porque na altura não havia fotos, poucas pessoas sabiam como ele era, e os retratos da altura não andavam expostos em museus como hoje. As pinturas, estavam colocadas na casa deles e só as pessoas que frequentavam os castelos é que as viam, eram poucas as pessoas a entrarem nos castelos.
A desgraçada da esposa, D. Maria Pia de Sabóia, era uma mulher de classe que apesar de saber da vida leviana do marido mantinha o nível, apesar de uma ou outra vez ter tido um ataque de ciúme. Que era de entender perfeitamente, com um marido daqueles, a fazer-lhe maldade durante o sono era pouco daquilo que ele realmente merecia. Mesmo no fim da vida de D. Luis, ela manteve-se do lado dele confortando-o no seu leito.
O rei teve de ser sangrado várias vezes ao longo da sua vida, por causa dos seus abusos. Ele podia disfarçar a sua vida por usar outro nome, mas o corpo nunca mente. Então, a técnica de sangria era usada naquela época para fins medicinais, desta forma a viscosidade do sangue era controlada e a quantidade de ferro exagerada diminuída, assim ao retirar uma média de 500ml de sangue do corpo este beneficiava-se de uma regeneração celular.
Nas tavernas antigas eram servidos pratos tais como sopa de castanhas e cogumelos, perninhas de rã, pernil de porco com molho de castanhas e bacalhau à mercador, entre outros.
Hoje, deixo-vos a receita de pá de porco com castanhas e abacaxi, e lembrem-se de aproveitar a vida mas com juízo, porque como dizia o António Variações “Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga…”
Receita
Ingredientes:
1,5 kg de pá de porco sem osso
300 g de castanhas cozidas
1 abacaxi
4 dentes de alho
50 g de açúcar
300 ml de vinho tinto
50 g de manteiga
1 ramo de alecrim
Sal e pimenta q.b.
Preparo:
Coloque a carne num tabuleiro e tempere com sal, pimenta, os alhos picados, o alecrim, o açúcar e o vinho tinto. Leve ao forno, pré-aquecido a 170ºC, durante 1 hora, virando e regando de vez em quando com o próprio molho.
Adicione depois o abacaxi, previamente descascado e cortado em 8 pedaços, as castanhas e a manteiga e leve ao forno por mais 30 minutos, regando igualmente com o molho. Se for necessário, acrescente um pouco de água.
Corte a carne em fatias e disponha-as numa travessa, juntamente com as castanhas e o abacaxi. Coloque o molho numa molheira e sirva de imediato.
Bom apetite!
Dévora Cortinhal