De que está à procura ?

Lifestyle

Novo livro de Ivandro Soares Monteiro. Será que “mudamos pelo que fazemos”?

© Maria Cunha / BOM DIA

Psicólogo clínico, psicoterapeuta, professor universitário, speaker motivacional, coach executivo e empreendedor, Ivandro Soares Monteiro é também colunista do BOM DIA desde 2018. Contando já com dezenas de artigos e outros livros publicados na vertente académica, este é o seu primeiro livro dedicado ao público em geral. 

O lançamento, que aconteceu no dia 4 de junho, na Feira do Livro, contou como convidado para a apresentação oficial do livro o jornalista Rui Miguel Mendonça, assim como a presença de Jorge Reis-Sá, consultor e representante da editora Glaciar, responsável pela edição do livro. No final, foi possível um momento de Meet & Greet e sessão de autógrafos com o autor, assim como a oportunidade de aquirir o livro no stand da Glaciar, que estará presente na feira até ao próximo dia 7 de junho.

Na ocasião do lançamento do livro do psicólogo clínico e nosso colunista, Ivandro Soares Monteiro, “Mudamos Pelo Que Fazemos – Sobrevivência com ciência para o autoconhecimento”, o BOM DIA esteve na Feira do Livro de lisboa, no passado domingo, em entrevista ao autor. 

Como surgiu a ideia do lançamento do livro “Mudamos pelo que Fazemos” e a quem é destinado?

Este livro tem a ver com a minha experiência de 23 anos enquanto psicólogo clínico, assim como com a experiência ao longo deste percurso – não só a dar aulas aos meus alunos, mas também com a prática clínica entre empresários, executivos e empreendedores. Comecei a perceber que grande parte daquilo que é comum a todos tem muito a ver com o dar sentido ao sofrimento ou, melhor dizendo, a falta dele. Muitas vezes, quando temos falta de sentido para as experiências que a vida nos vai dando, como transições, conflitos, lutos, perdas, ou momentos de déficits interpessoais em termos de comunicação, começamos a tirar conclusões permanentes em fases temporárias. Quando fazemos isto, causamos dano àquilo que é a nossa personalidade e a nossa identidade. Juntando ciência, metáforas e exemplos (porque quando se fala só de ciência é chato, e quando se fala só de metáforas é interessante mas faz falta uma ligação mais sustentada), comecei por ligar os exemplos às metáforas que, depois sustentados pela ciência, e através dos exercícios práticos do livro, permite que as pessoas possam usar a sua própria história de vida para integrar o que leram na parte mais teórica. Daí o livro chamar-se “Mudamos pelo que Fazemos”, pois não basta ter a consciência da sede para ela passar, temos que executar o comportamento.

Dois dos objetivos que tem com este livro são aumentar o sentido de responsabilidade individual e reduzir a perspetiva de vitimização do leitor. Que tipo de ferramentas os leitores podem esperar encontrar, que os permita pôr em prática estes desafios?

O livro está sustentado em modelos de diátese-estresse, a sua parte mais técnica, mas sempre numa linguagem muito acessível. Estes são os modelos hoje cientificamente mais sustentados na área das ciências sociais e do comportamento, em que respeitamos a parte da neurobiologia, ligando depois às trajetórias de vida (que é aquilo que vem com a nossa vulnerabilidade anterior), combinando com as situações atuais, do presente. É esta combinação entre o passado e o presente que abre a vulnerabilidade ou a resiliência dos nossos problemas. O livro tem um conjunto de perguntas que são muitas vezes utilizadas em processos de terapia estruturada como, por exemplo, o modelo de psicoterapia interpessoal, e também estratégias cognitivo-comportamentais, sempre numa lógica que permite a pessoa sentir que pode responder sem consequências por aquilo que escreve. É por isso que o livro acaba por ser muito autobiográfico se a pessoa o quiser – pode utilizá-lo para a sua própria história de vida, o que acaba por ir de encontro ao objetivo do livro: aumentar a responsabilidade, e retirar as desculpas que fazem com que continue a arrastar-se nos problemas.

Diz-nos também que a escrita do livro é emoldurada com a filosofia milenar do estoicismo. Pode explicar-nos, resumidamente, o que é o estoicismo e qual o seu impacto nesta obra?

Enquanto cientista do comportamento, psicólogo, a minha maior fonte é sempre a ciência. Portanto, a minha opinião não conta porque é uma vida, e uma vida nunca é modelo, pois ao copiarmos exemplos a cópia é sempre pior que o original. Assim, ao longo dos anos, e à medida que a experiência clínica e a investigação também foram acontecendo, comecei a perceber que a ciência precisa de uma moldura para a embelezar, trazer-lhe mais significado. Daí ir buscar uma das filosofias que está na base da construção de vários modelos científicos de psicoterapia, como a lógica da cognitivo-comportamental ou da interpessoal.

Na época do estoicismo, que nasceu 400 anos a.C., vivia-se um tempo de escravatura, em que o sofrimento era muito mais atroz do que estes tempos de hoje. Assim, a filosofia estóica procura dar um sentido ao sofrimento tirando lições, aceitando aquilo que não se controla, e aumentando o empoderamento sobre aquilo que está ao nosso alcance, considerando os contextos e as pessoas que existem na nossa realidade presente. Portanto, se tivermos mais consciência daquilo que é o mundo real, em relação aos contextos que temos e pessoas que estão à nossa volta, podemos ver se isso é suficiente para melhorarmos a nossa condição de vida, se estamos a fazer o melhor que podemos na condição que temos, ou até que ponto temos que fazer uma escolha de expandir contextos e melhorar relacionamentos para que a vida não seja um destino mas sim uma consequência do presente.

Maria Cunha / BOM DIA

“A vida não é o que nos acontece, mas, acima de tudo, o que fazemos com o que nos acontece”. Quais têm sido os maiores desafios e as maiores surpresas na escrita e lançamento deste livro?

Eu tenho o privilégio de estar numa área em que se ouve os “cofres secretos” de muita gente. Passei este ano as 25 mil consultas, e aprende-se muito a ouvir e a ajudar os outros. O que vemos é que, perante as mesmas realidades, há pessoas que deprimem e outras não. Perante as mesmas realidades, há pessoas que “empancam” a sua vida e outras que ganham raiva e foco para conseguirem sair das suas situações. Portanto, se fosse aquilo que acontece a explicar os nossos problemas, todos teríamos as mesmas respostas emocionais perante as mesmas coisas. E é por isso que a vida não é aquilo que nos acontece, mas muito mais aquilo que fazemos com aquilo que nos acontece. Para isso, temos que saber pensar, e a nossa maior arte e engenho é saber articular o pensamento por forma a que através desse aumento de consciência consigamos gerir melhor as emoções. Desta forma, conseguimos que os comportamentos sejam muito mais conscientes e menos impulsivos, para que não nos causem dano, arrependimento, sentimentos e perda de valor permanente por causa de fases temporárias. 

Durante a escrita do livro, encontrou alguns desses desafios em que pode aplicar a si próprio o conhecimento transmitido no mesmo?

Claro. Eu tenho o azar de ter uma doença crónica desde 2006, uma nevralgia do trigémeo que entretanto já passou para nevralgia do glossofaríngeo. Numa fase inicial, somos todos reativos, com sofrimento sem sentido, raiva, tristeza, depressão… Graças a esta forma de aprender com a vida dos outros, com a ciência do meu lado, e aumentando a consciência sobre como poderia lidar com as minhas próprias dores (quer num sentido físico, quer num sentido filosófico), percebi que, aceitando aquilo que é inevitável na vida, eu posso provavelmente retirar lições que me põem mais maduro e mais capaz para passar para níveis mais competentes de superação. Quando conseguimos superar a vida ou o sofrimento que tínhamos, acabamos por relativizar o peso dos problemas. Então, neste momento quase que posso dizer que sou daquele tipo de pessoa que pode estar no cimo de uma montanha a apreciar o momento. Entre duas tempestades, há sempre um sol que nos bate na cara. Por muito alta que seja a sombra e por muito grande que seja a montanha, o sol há sempre de brilhar.

Como é que os seguidores do BOM DIA, residentes na diáspora, podem adquirir o livro “Mudamos pelo que Fazemos”?

Este livro lida, e tem muitas histórias que encaixam perfeitamente com as fases de transição que a emigração causa. Muitas vezes emigramos porque queremos mudar de vida, queremos uma vida melhor do que aquela que temos no presente. Eu próprio fiz parte dos meus estudos fora, nos Estados Unidos, e viajo bastante ao longo dos anos, principalmente desde que acabei o meu doutoramento em 2010. Só falta quase a Nova Zelândia, Austrália… e ir a Marte!

Gosto muito de viajar, e muito do que faço em empresas e comunidades é fazer palestras. A comunidade portuguesa pode comprar o livro online, no meu website, ou através das nossas redes sociais Instagram e Facebook, ou até pelas livrarias portuguesas pelo mundo fora. Porém, estamos também agora num tour nacional e internacional, juntamente com a minha equipa da editora e os meus parceiros, em que podemos estar disponíveis para levarmos uma palestra do “Mudamos pelo que Fazemos”, com as ferramentas do livro. Nesta tour, as pessoas poderão assistir, ter pequenos momentos de Meet & Greet, autógrafos e conversas, e assim trazer um melhor entendimento às transições e sofrimentos que vamos tendo. Porque quando a vida é melhor entendida, tudo fica mais leve.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA