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“Madame X” está aí! Madonna volta a surpreender…

“Madame X”, o novo álbum de Madonna, está aí! Para além de várias surpresas, ela canta em português. É verdade! O muito aguardado novo disco de Madonna já está disponível a partir de sexta-feira. E mal saiu é já um sucesso! Em menos de 24h após o seu lançamento, o álbum “Madame X” alcançou a marca de primeiro lugar em 58 países pelo iTunes, com Portugal incluído! É obra! Parabéns, Madonna!

Em “Madame X”, Madonna recupera o seu peculiar atrevimento e volta a soar imprevisível e diferente. Os sons tradicionais de Portugal surgem diluídos ao longo do álbum, assim como o funk brasileiro onde divide os vocais com Anitta, além do trap e reggaeton latino em dose dupla com Maluma. Sem dúvida, Madonna absorve novas referências e projeta novas tendências. Visualmente, a principal influência é a pintora surrealista Frida Kahlo, onde se denota a referência da artista mexicana na estética e na imagem da capa do álbum standard. Multifacetado, vê-se bem que Madonna não tem pretensões comerciais com este seu novo trabalho, pois à parte das parcerias que contém, o conceito do álbum não remete para tal, nem para os tops de preferências.

Dele já se escreveu: “Muito poucos artistas vivos se comparam a Madonna pelo seu impacto cultural e legado musical. Ao longo de quase quatro décadas aos olhos do público, ela tem causado polémica apenas por existir. A escolha dos colaboradores é, de longe, o mais forte do álbum e os momentos mais interessantes vêm quando ouvimos como ela navega no seu mundo particular.” (The Irish Times) Ou “Um retorno esplendidamente bizarro. Este é um álbum cujas músicas mais memoráveis são definitivamente as mais estranhas. Todo o conceito de Madame X – uma misteriosa mulher internacional – se dissipa rapidamente à medida que esse álbum inesperadamente cativante continua. Madame X é certamente um álbum fluido, mas temperado pela sólida confiança da Madonna em suas próprias decisões estéticas.” (The Guardian). E “Provavelmente é o seu álbum mais ousado e mais estranho ainda. Madame X passa entre música pop, latina e dance music, salta do pessoal para o político e está unido por um clima exótico e alegre que parece estranhamente íntimo, como se ela estivesse revelando uma parte até então oculta de sua alma.” (The Times) e ainda “Numa indústria que está rapidamente a se tornar desprovida de personalidade, ela retornou com o seu álbum mais diversificado e extraordinário de todos os tempos. É ultra-contemporâneo, cheio de variedade e totalmente diferente de tudo o que ela já fez antes. Assim como fez com o “Ray of Light”, esta é a reinvenção de Madonna.” (The Sun). De facto, “Madame X” já fez correr muita tinta…

É este o resultado após meses de especulação e espera. E outro é o da influência de Lisboa e de Portugal. Além de alguns sons tipicamente nossos, como a guitarra portuguesa e o acordeão, em “Madame X” Madonna escolheu a língua portuguesa para se expressar em alguns versos de vários temas… em “Killers Who Are Partying”, diz: “O mundo é selvagem, o caminho é solitário, eu sei o que sou e o que não sou”; em “Crazy”, ouvimo-la a proferir frases como: “Você pensa que eu sou louca” e “Eu te amo, mas não deixo você me destruir”; por último, em “Extreme Occident”, um dos temas extra da versão Deluxe, entoa: “Aquilo que mais me magoa é que eu não estava perdida”. Isto para além do tema “Faz gostoso”, claro, quase todo em português do Brasil. E ainda canta em castelhano, nos dois temas com Maluma: “Medellín” e “Bitch I’m Loca”. Um terceiro tema, “Soltera”, em que também ambos cantam, apenas surge no álbum “111” do cantor colombiano.

Mas “Madame X” também tem alguns temas mais entusiásticos, como “God Control”, com a participação do coro infantil Tiffin Children’s Chorus (cujas vozes também se ouvem em “Come Alive”) e “I Don’t Search I Find”. Em “Looking For Mercy” e “Dark Ballet” temos alguns arranjos de cordas e piano a remeterem-nos para o ambiente da canção que Madonna fez para um filme de James Bond. A versão especial Deluxe ainda contém mais 3 faixas, a saber: “Back That Up To the Beat”, uma demo do álbum “Rebel Heart” recuperada e rearranjada, “Ciao Bella” e, curiosamente, uma das minhas preferidas de todo o álbum “Funaná”, onde Madonna incita a dançar e faz uma homenagem a todos os artistas que ela admira e que já partiram: “Elvis Presley, Bob Marley, Whitney Houston, James Brown, Aretha Francklin, George Michael, David Bowie, 2Pac, Mac Miller, Freddie Mercury e Prince Rogers Nelson. Magnifico! Adorei esta canção desde a primeira audição.

Não vou mais falar de “Madame X”, pois a ideia é a de que descubram este novo álbum de Madonna por vocês próprios. Mas saibam que “Madame X” é talvez o seu álbum mais inovador. Muitos pensavam que ao 14º álbum de estúdio, a rainha da pop teria perdido o tino, perdido o timing. Ela, que sempre esteve alguns passos à frente das novas tendências, recentemente estava a correr atrás do vulgar hip hop e da EDM que se tinham tornado os standards da música pop americana. Porém, o improvável aconteceu: o futebol acabou por salvar Madonna, quando ela decidiu mudar-se para Lisboa, pois o seu filho adoptivo, David Banda, queria treinar este desporto, mas nunca iria encontra espaço nos Estados Unidos. E nessa incursão, a artista descobriu algo que talvez tenha passado despercebido ao resto do mundo: culturalmente, Portugal colhe o resultado do seu colonialismo. Lisboa é o destino de músicos imigrantes das nossas ex-colónias africanas, do Brasil e também da América latina. E Madonna colocou isso a seu favor neste trabalho, apropriando-se de outros ritmos e sons. “Madame X” até parece um álbum que ela produziu…

No processo do seu desenvolvimento, a Rainha da Pop aprendeu com os erros dos projectos anteriores e decidiu levar o processo de criação à maneira antiga, quando um grupo de produtores e compositores participam do começo ao fim, ajudando a ter um conceito bem definido. Para Madonna, esses foram os principais problemas de “MDNA” (2012) e “Rebel Heart” (2015), pois nesses álbuns, a lista de colaboradores era muito grande, misturando nomes fortes e conhecidos como Avicii, Diplo, Ryan Tedder, Kanye West, Benny Benassi, entre outros – e onde ela ficava “zonza” com tanta gente envolvida. A própria afirma ao “The Guardian”: “Há tantas distrações, tanto barulho, tantas pessoas a irem e virem tão rapidamente, que tira a habilidade do artista de crescer”. E acrescenta “Eu tentei isso no “MDNA” e no “Rebel Heart”. Trabalhei com muitas pessoas talentosas, mas é muito difícil ter uma visão quando se trabalha com tantas pessoas: há demasiada informação. Eu não gostei do processo. Às vezes é ótimo, mas é muito estranho sentar num quarto com estranhos e começar: ‘OK, aos seus lugares, vamos escrever uma música juntos!’ Uma pessoa tem que se revelar, tem que ser vulnerável, e é difícil fazer isso imediatamente”.

Pelo que parece, esse problema foi resolvido com “Madame X”. A cantora está, visivelmente, muito orgulhosa. É um disco contemporâneo, que possui alguns beats “comerciais”, mas sem soar comercial. Ele até resulta algo estranho, pois tem faixas que não são mesmo nada fáceis, mas acaba por nos conquistar, exactamente por ter um som novo. E é de louvar o facto de Madonna estar a fazer um “manguito” às fórmulas radiofónicas fáceis e de ter empreendido um caminho solitário, onde resulta difícil comparar a sonoridade de “Madame X” com o que está a ser produzido actualmente.

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