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“How to Have Sex”: a ironia da sensualidade

O título deste filme é sobretudo irónico e esconde algo de muito mais sério: a violência sexual e um certo mal-estar de uma geração face à sexualidade… e à vida em geral. Para descobrir essa realidade vamos seguir três jovens ingleses que partem para férias no Mediterrâneo com o objetivo de se divertirem e multiplicar conquistas.

O filme começa por adiar aquilo que promete no título. No princípio, durante uma boa meia hora, a realizadora Molly Manning Walker prefere documentar, com a câmara ao ombro, as férias industriais e estereotipadas, tal como a imagem dos animadores de festas à volta da piscina.

O realismo de “How to Have Sex” é tal que quase podemos cheirar a maresia, os corpos suados, o álcool e as batatas fritas devoradas no início da manhã, depois de uma noite sem dormir.

Molly Manning Walker tem uma abordagem muito acertada da adolescência, que representa em particular através de amizades contraditórias, tantas vezes características deste período da vida. Em “How to Have Sex”, os espectadores fazem parte do grupo de amigos e vivem cada momento das férias com as personagens, desde o risco de chegar atrasado o aeroporto até à ressaca pós-férias.

Logo nos primeiros minutos o filme tira-nos da sala de cinema. Somos empurrados para Creta, na companhia de Tara, Skye e Em, afogados na total euforia das primeiras férias com amigos, aquelas em que cantamos a plenos pulmões, e nas quais tudo é possível e nada é grave.

A verdadeira história começa com o desencantamento da jovem Tara, que se traduz também na evolução das cores da discoteca (de um ambiente multicor o espaço passa a ser azul frio e monocromático), culminando com uma cena de violência sexual de gelar os ossos.

Cada personagem desempenha um papel distinto no grupo e rapidamente se deteta aquilo que separa Em e Skye de Tara. Esta vive a sua virgindade como um peso social que a marginaliza dentro do próprio círculo de amigos mais próximos. Sociável, alegre e cheia de alegria de viver, Tara parece enquadrar-se perfeitamente no cenário ideal de umas primeiras férias com amigos. Porém, como muitos adolescentes, ela aguenta as bocas sobre a sua sexualidade, dos comentários de Skye às brincadeiras cada vez mais degradantes que pontuam as festas em que participa.

Sem nunca julgar as suas personagens, “How to Have Sex” narra com habilidade o vínculo inquebrável que parece unir as amizades adolescentes nos bons momentos e como esse mesmo vínculo pode ser superficial – ou tóxico -, principalmente quando posto à prova da pressão social.

Existem inúmeros filmes sobre jovens que romantizam e embelezam o complexo período da adolescência. Embora muitos cineastas tenham abordado este tema, raramente nos identificamos com as representações do desconforto que pode acompanhar a transição da infância para a idade adulta.

O sucesso de “How to Have Sex” deve-se, em boa parte, a um cenário terrivelmente banal e realista. Os violadores não são horríveis perversos que esperam pelas mulheres, escondidos atrás de um arbusto. Eles deitam-se na cama com outras pessoas no quarto ao lado, fingem não ouvir o “não”, usam as vítimas para seu prazer e depois apanham o avião de volta para casa. Tara e as suas amigas também fazem as malas, passam algum tempo no aeroporto e finalmente voltam para casa.

Raúl Reis

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