Tiago Catarino trabalhou durante três anos na empresa de brinquedos LEGO. Após despedir-se, passou a montar para o Youtube e faz disso vida desde então.
Desde pequeno que gosta de brincar com LEGO quando os pais o deixaram escolher um presente de natal numa loka de brinquedos. Voltou com duas caixas e montou-as. Passou a ser o clássico desejo da criança no natal.
Natural de Estarreja, Tiago conta à NiT que, à medida que foi crescendo, a paixão pelos brinquedos de montagem foi-se esmorecendo. “Para mim, era uma ferramenta sem limites. Podia construir tudo o que queria. Havia brinquedos que não podia ter e que acabava por tentar replicá-los com as peças LEGO”, conta.
Nas Caldas da Rainha, estudava design de multimédia quando percebeu que poderia usar o brinquedo para um projeto da faculdade. “Percebi que havia todo um mundo para além das caixinhas que se compravam nos supermercados. Havia comunidades que faziam do LEGO o seu hobby, faziam construções originais, coisas gigantescas. Não era nada à escala do que eu estava habituado”, revela Tiago. Juntou-se a um fórum chamado 0937, que forma a palavra “LEGO” de pernas para o ar, onde conheceu muitos outros entusiastas.
Quando começou a ver que seria possível ir trabalhar para a empresa dinamarquesa por ver amigos do fórum a serem colocados, deixou de ver como um sonho e passou a ser uma possibilidade. “Espera lá, isto pode passar de um hobby a uma profissão atempo inteiro”, afirma à NiT o designer o que havia pensado. Preparou um portefólio para entregar quando abrissem vagas para design de produto com as suas montagens originais e enviou-as quando teve oportunidade. Depois do processo de recrutamento, Tiago foi aceite na LEGO.
Apesar de muitas vagas serem para design, como explica, precisavam também de pessoas com capacidade de construção, como ele. “Normalmente a LEGO procura que os candidatos tenham formação em design, mas por vezes também precisam apenas de pessoas com capacidades de construção, que foi o meu caso, cuja formação base seja menos importante”, refere. “No meu caso, embora tenha tido formação de design, o que me fez ficar com a vaga foi efetivamente a construção de LEGO nos meus tempos livres, ter as skills de construção”.
Não deixando de ser um trabalho “normal” com reuniões semanais, Tiago conta que passava muito tempo em construção. “A maior parte do tempo era passado a construir e a desenvolver ideias para novos produtos que, um ou dois anos mais tarde, pudessem chegar a milhões de crianças pelo mundo inteiro”.
Trabalhou, no total, em 16 sets que chegaram ao mercado, de entre eles o Barco na Garrafa, uma ideia que nasceu da LEGO Ideas — uma plataforma que recebe ideias de fãs — e na qual colocou as suas inicias e uma bandeira portuguesa. “Era o emprego de sonho que todos os fãs de LEGO gostariam de ter”, refere a NiT.
Acabou por voltar para Portugal três anos e meio depois, casado e já com dois filhos. Revela que as saudades, mais da mulher que suas, foram a maior causa de regresso. Contudo, manteve-se ligado à LEGO a partir do Youtube. “Comecei a pensar que não queria deixar que o LEGO deixasse de fazer parte da minha vida. Não me imaginava a voltar a fazer o que fazia antes e então decidi tentar a minha sorte”, relembra Tiago Catarino.
Ter coincidido com a altura do início da pandemia foi uma vantagem para o criativo. “Estava fechado em casa e fazia quase um vídeo por dia. Ainda antes de terminar a meta de um ano, comecei a receber dinheiro (de publicidade no YouTube). Ao fim de sete meses, recebi pouco mais do que o salário mínimo. Em maio, já era mais do que suficiente para ser um ordenado sustentável”, reflete Tiago. O próprio diria que passa, em média, 15 horas por semana a construir.
Aos dias de hoje, tem uma parceria com a LEGO onde deixa “reviews” das novas peças e recebe peças exclusivas antes de serem lançadas. Admite que, se lhe voltassem a convidar para se mudar para a Dinamarca, “provavelmente não aceitaria”.
Veja em baixo um vídeo do canal do Tiago, que conta já com mais de cinco milhões de visualizações.
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