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Elefante: uma editora num país de poetas não editados

© Maria Miguel Cunha / BOM DIA

Por ocasião da sua representação pela primeira vez na Feira do Livro de Lisboa, o BOM DIA esteve à conversa com Maria Joana Almeida, editora e autora da Elefante Editores, colaboradora do nosso jornal no projeto “No Mundo: Antologia de Poetas da Diáspora 2023”.

A Elefante Editores é uma pequena editora independente portuguesa que nasceu pela vontade de José A. Nunes Carneiro, seu fundador, se tornar editor. Escolhendo a poesia como estilo editorial e apoiando-se num conjunto de amigos (da literatura) que se congregam à sua volta, e mais recentemente também na co-edição de Maria Joana Almeida, já opera desde 1997, tendo editado centenas de livros resultantes da descoberta de novos textos e de novos autores da poesia portuguesa.

Nos últimos meses, o BOM DIA e a Elefante Editores têm colaborado na procura e seleção de obras para a publicação de uma coletânea de poemas da diáspora, a ser lançada ainda este ano. Altura que coincidiu com a primeira representação da editora na Feira do Livro, através do espaço da Editora Convergência, onde estivemos para perceber como tem sido esta experiência.

A Elefante Editores tem reunido vários amantes da leitura e da poesia na construção de um projeto muito particular. Quem é a Elefante e o que a diferencia das outras editoras?

A Elefante já existe há alguns anos, e o José (Nunes Carneiro), que é o fundador, tem uma frase que eu gosto particularmente: “Portugal é um país de poetas não editados”. A poesia acaba por ser um “parente pobre” da literatura e, sendo uma editora pequena, a ideia é apostar em novos autores e não só em autores que já sejam conhecidos. Embora nós também tenhamos já editado com pessoas que já têm algum nome, a ideia é sempre descobrir novos autores, novas pessoas que se lançam na poesia. É mesmo um projeto de paixão no fundo, para além de particularmente também achar que tem um design muito apelativo, muito simples, e muito “straight”, que faz todo o sentido.

Porquê a poesia?

Não só por o José gostar bastante, mas também pela questão de escolhermos um estilo, irmos por um caminho, para de alguma forma ter algum sentido. “A Elefante faz poesia”, a aposta é a poesia. Torna-se muito interessante porque recebemos respostas diárias de pessoas a querer editar, e descobrimos de facto pessoas que escrevem muito bem e que de outra forma não conseguiriam ter essa possibilidade, o que é ótimo!

Como é que essas pessoas chegam até vocês?

Posso dizer que, no meu caso, até foi um amigo que me deu a conhecer. Mas o site será talvez a melhor forma, ou também a lista das editoras que editam poesia em Portugal, onde também está representada a Elefante. 

Esta é a primeira vez que a Elefante Editores está representada na Feira do Livro! Como surgiu esta oportunidade?

É a primeira vez, e é fantástico! Eu e o José começámos com esta conversa pela primeira vez no ano passado, e tentámos perceber também como é que uma editora que é independente conseguiria ter representação, porque não é fácil. Embora existam imensas editoras, eu fico sempre fascinada cada vez que venho à Feira do Livro. Fizemos alguns contatos com algumas editoras que estão aqui representadas, e que aglomeram as pequenas editoras, e através da (editora) Convergência conseguimos um espaço! A Helena Pedrosa disse logo que sim, gostou bastante do projeto, e assim conseguimos ter esta representação e este espaço para poder falar com outros autores, pequenas sessões de autógrafos, o que é ótimo! 

E como está a ser esta experiência?

Estive cá ontem e já não me lembro quantos livros trouxemos de cada, mas posso dizer que, por exemplo, o meu já não havia. Nós também conseguimos ter bastante projeção com a Convergência, e a questão de as pessoas poderem conhecer a Elefante, poderem visitar, e também enviar trabalhos que façam sentido, é ótimo.

A Maria Joana Almeida foi uma das autoras convidadas a vir apresentar o seu livro “Histórias de Amor”, no passado sábado, no stand da Editora. Como foi este lançamento?

Foi bom. As coisas têm corrido bem. Para mim, é muito a questão de poder partilhar a escrita com outras pessoas. Tenho feito os anteriores lançamentos em bibliotecas, em Viseu e em Lisboa, e aqui correu bem. Tive sempre muitos amigos comigo, e pessoas que iam passando e iam perguntando, portanto acho que o balanço, para primeira vez, foi mesmo muito positivo.

Enquanto autora, como tem sido a experiência de trabalhar com a Elefante Editores na edição e lançamento dos seus livros?

Este foi o meu segundo livro editado com a Elefante. Este convite do José foi uma surpresa que eu aceitei com muito carinho e com muito orgulho. Gosto muito de ler aquilo que me chega e consigo conciliar bem ambas as vertentes. O primeiro livro tinha escrito por uma situação que tinha acontecido na minha vida muito complicada e enviei para editoras na esperança que fizesse algum sentido para quem a recebia. A Elefante agarrou, conversei logo com o José e avançámos. Depois, o José, um bocadinho de forma provocatória, perguntou-me quando era o segundo livro. Eu já tinha alguns textos que incidiam mais sobre o amor e pensei que já conseguia ter um conjunto de histórias que podíamos editar. Foi muito bem recebido, pelo menos as pessoas têm-me dito que ainda gostam mais, o que me deixa muito contente. E conseguir conciliar é muito bom, porque o facto de estarmos com um “pé dentro”, faz-nos perceber como é que funciona e há um mais fácil acesso. 

Hoje também estivemos com o David Rodrigues, que esteve há pouco a apresentar o seu livro “Diafragmas”. Enquanto autora e editora, quais diria que são as características dos autores da Elefante?

Por acaso eu e o José por norma gostamos sempre das mesmas coisas, mas é sempre uma questão muito pessoal, sobre o que é que queremos editar nesta editora que ambos representamos. No fundo, é um pouco autores portugueses, embora também já tenhamos editado noutras línguas, mas normalmente tentamos traduzir para português, e que seja um tipo de poesia que não se perca muito em lugares comuns. Que faça longas viagens metafóricas, o que é algo que nós apreciamos bastante. Tem nos chegado muita gente a escrever muito bem, também temos notado muito isso, e não é só poesia. Quando falamos de poesia temos vários formatos: temos aquela poesia que rima; também temos a prosa poética, como é o meu caso; temos os haikus, por exemplo, do David Rodrigues, que é outra forma de escrever poesia. Portanto, no fundo, desde que nós gostemos, que tenha uma componente que nós consideremos mais especial, editamos. Quando escrevemos sobre algo que tenha um significado especial é completamente diferente a envolvência que se cria. Depois há pessoas que escrevem muitíssimo bem e que conseguem com aquela forma de escrever, e aquela conjugação de palavras, criar viagens e memórias incríveis. Nós procuramos muito essa parte muito especial.

Para além da Feira do Livro, a Elefante também vai passar a ter representação numa livraria em Lisboa. Onde vamos poder passar a encontrar os seus livros?

Nós temos a representação na livraria Flâneur, no Porto, e o José perguntou-me se não conseguiríamos ter representação também em Lisboa. E por acaso surgiu. A livraria Barata pediu um exemplar do livro do David Rodrigues, e eu conheço muito bem a Barata há muitos anos. Outra coisa que a Elefante tem interessante é o facto de as pessoas poderem ter acesso à nossa livraria digital. Há muitos autores que editam digitalmente, e nós temos mesmo uma área digital onde as pessoas podem ter acesso gratuito à poesia, e ao que se vai escrevendo de novo. Existe também um espaço em que nós convidamos os autores a escreverem cinco poemas, juntamente com a sua biografia. Mesmo que não sejam editados pela Elefante, têm esta visibilidade de poderem mostrar um bocadinho o seu trabalho. Qualquer autor pode enviar e nós fazemos a seleção.

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