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“Anatomia de uma Queda”, com toque português, conquista seis Césares

Com seis prémios em 11 nomeações, “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet, foi o grande vencedor da 49.ª edição dos César, os prémios da Academia de Cinema Francesa equivalentes aos Óscares, entregues na sexta-feira à noite em Paris.

O filme de duas horas e meia conta de forma sóbria a história de uma escritora alemã que tenta provar a sua inocência depois de ser acusada pelo assassinato do seu marido francês, com a Justiça obrigada a dissecar a vida de uma família reclusa na cidade remota nos Alpes em busca da verdade.

No papel do filha do casal está um lusodescendente, Milo Machado-Graner, que concorria para o prémio de Revelação Masculina. O vencedor acabou por ser Raphaël Quenard, um furacão que atingiu o cinema francês no ano passado, a tal ponto que também foi nomeado para Melhor Ator por “Yannick”, de Quentin Dupieux.

As esperanças portuguesas ficavam ainda por conta de “Interdito a Cães e Italianos”, de Alain Ughetto, coprodução entre nove produtoras de França, Itália, Suíça, Bélgica e Portugal, através da Ocidental Filmes, mas o César de Melhor Longa-Metragem de Animação foi atribuído a “Linda veut du poulet!”, de Chiara Malta e Sébastien Laudenbach.

Quanto ao grande vencedor da noite, Triet disse que “gostaria de dedicar o César a todas as mulheres, às que se sentem presas nas suas escolhas, na sua solidão, às que existem demais e às que não existem o suficiente, às que têm sucesso e às que fracassam, e finalmente às que foram magoadas e às que se libertaram a si mesmas ao falar. E às que não o podem fazer”, disse a cineasta ao receber o último prémio.

“Devo agradecer aos meus produtores, que me permitiram fazer este filme com muita liberdade. A liberdade de não procurar corresponder a nenhum padrão narrativo formal do género moral, de sempre experimentar profundamente. Esta é a única coisa que me interessa, de facto, ao fazer filmes. Tentámos tocar em algo verdadeiro, sempre valorizando a imperfeição, a ambiguidade e a complexidade. E esta liberdade é o que há de mais precioso para mim, porque é a única forma de fazer filmes que sejam protótipos”, concluiu.

Além do César de Melhor Filme, houve ainda distinções para Realização, Atriz (Sandra Hüller), Ator Secundário (Swann Arlaud, pelo papel do advogado de Sandra e seu amigo) Argumento Original (Triet com os eu companheiro Arthur Harari) e Montagem para o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e que está na corrida a cinco Óscares a 10 de março.

Aos 45 anos, Triet também fez história ao tornar-se apenas a segunda cineasta nos César a ganhar Melhor Realização, um quarto de século após Tonie Marshall por “Vénus beauté (institut)”, na cerimónia de 2000.

Era muito aguardada a (anunciada) participação de Judith Godrèche, que discursou na primeira hora da cerimónia sobre violência sexual e o silêncio e cumplicidade de décadas na indústria cinematográfica francesa, que parecia imune ao impacto do movimento norte-americano #MeToo.

Já fragilizados por declarações e comportamentos misóginos de Gérard Depardieu, agravadas por queixas na justiça de várias mulheres por violação, os alicerces do muro de silêncio abanaram ainda mais últimas duas semanas após Godrèche, atualmente com 51 anos, ter acusado os prestigiados realizadores Benoît Jacquot (atualmente com 77 anos) e Jacques Doillon (79) de a terem violado quando era adolescente na década de 1980.

Esta nova onda de acusações é acompanhada em segundo plano pelas atrizes Isild Le Besco e Anna Mouglalis.

No início de um discurso de quase seis minutos, a atriz reconheceu: “É complicado estar à frente de todos vocês esta noite. É um momento engraçado para nós, não é? Um fantasma das Américas [#MeToo] vem arrombar a porta blindada. Quem teria imaginado?”.

A atriz foi ovacionada de pé, mas as suas palavras sobre o “nível de impunidade, negação e privilégio” da indústria, soaram como uma acusação coletiva.

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