Há em cada mulher uma força invisível de luz e de sombra, de sagrado e de profano.
Mulheres deusas perdem-se de mãos dadas por dentro do abismo dos homens.
Na simbologia da noite dividem-se entre a dor e o prazer, entre a dualidade da matéria e do espírito.
Absorvem do universo toda a força criadora.
Meninas, ainda, tecem dia a dia mantas de esperança, fazem e desfazem os nós do desencanto.
Apelam aos deuses ancestrais a força das matriarcas,
Irmãs na ventura e na desventura
Na escrita da epopeia das suas vidas anseiam e esperam os desígnios da feminilidade.
Fundem-se, de mãos dadas, com o azul do mar e do céu, renascem na transfiguração dos corpos imersas no ocre da terra.
Gritam aos quatro cantos do mundo a dor e a beleza da maternidade, calam a amargura nas longas noites de solidão, e ainda assim, são sempre as mesmas figuras erguidas olhando o futuro.
Em conjunto, tecem longos xailes de lã que haverá de as aquecer nas longas e frias noites de inverno.
Amarão, sempre, os homens, quando regressam das batalhas dos mares violentos, onde um dia se perderam.
Amando e tecendo, ganhando e perdendo serão sempre deusas e mestres o do seu próprio destino.
Num espírito de sororidade partilham confidencias, desvendam segredos.
Ajudam-se nas horas de desamparo.
Rezam em templos criados com as mãos, colocam flores silvestres a perfumar os corpos e o espaço.
Em irmandade evocam, as vezes que forem necessárias, os deuses da alquimia, oram num dialético ancestral e desconhecido, e cantam. Cantam as dores e as alegrias,
Cantam e rezam, e dão as mãos, e curam com a energia das árvores e do universo.
As mulheres, de mãos dadas, serão, sempre, canais de força criadora, de luz, de beleza, de esperança, num mundo escurecido pela ambição dos poderosos.
São Gonçalves