A secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI) alertou hoje para as condições de trabalho desumanas que enfrentam os trabalhadores imigrantes envolvidos nas obras do Mundial de Futebol 2022 no Qatar, qualificando o país como “esclavagista”.
“Mais trabalhadores vão morrer durante a construção [dos estádios] do que futebolistas vão jogar naqueles terrenos”, afirmou a australiana Sharan Burrow, numa entrevista hoje divulgada pelo diário grego Avgi.
“O Qatar é um Estado esclavagista do século XXI”, defendeu.
Segundo Sharan Burrow, os trabalhadores enfrentam temperaturas que podem subir até aos 50 graus centígrados durante o verão.
“Correm o risco de crises cardíacas e de desidratação (…) Muitos morrem durante a noite”, explicou a secretária-geral, indicando que em 2010 foram registadas 191 vítimas mortais entre trabalhadores originários do Nepal.
Na mesma entrevista, a representante criticou o “muro de silêncio” das autoridades do emirado quando confrontadas com as condições de trabalho dos operários imigrantes.
Sharan Burrow salientou que os trabalhadores não têm escolha e são obrigados a suportar as condições de trabalho, porque os empregadores confiscam os seus passaportes após a entrada no país.
“A maneira como o Qatar encara a situação dos trabalhadores imigrantes é uma vergonha para o futebol”, defendeu a representante sindical.
“As pressões sobre o Qatar vão aumentar. O Qatar não pode mais comprar o respeito da comunidade internacional”, concluiu a secretária-geral da CSI.
O Qatar foi eleito sede do Mundial 2022 a 02 de dezembro de 2010, batendo as candidaturas de Estados Unidos, Austrália, Coreia do Sul e Japão.
O anúncio oficial criou, desde logo, intensa polémica, já que o emirado tem pouca tradição futebolística, falta de infraestruturas e um clima pouco compatível com a prática desportiva.
Em finais de janeiro, o semanário France Football lançou uma série de interrogações sobre as condições de atribuição do Mundial 2022 e apontava para alegados casos de corrupção e conluio.
Numa reportagem intitulada “Mundial 2022 – Qatargate”, o título francês denunciava alegadas negociações envolvendo o presidente da UEFA, Michel Platini, e o ex-chefe de Estado francês Nicolas Sarkozy, entre outras personalidades.
O assunto está a ser investigado pelo Comité de Ética da FIFA (organismo que tutela o futebol mundial).
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