Universidade Fernando Pessoa causa polémica em França
Uma universidade privada portuguesa está a formar profissionais de saúde em França por 9.500 euros, contornando os numerus clausus das universidades, numa iniciativa contestada por estudantes e sindicatos, noticia o jornal Le Monde.
A Universidade Fernando Pessoa, baseada no Porto, abriu em Toulon uma escola onde se propõe formar dentistas, farmacêuticos, ortofonistas e até psicólogos, instalada num edifício desocupado do centro hospitalar de La Garde.
Segundo o jornal francês, há uma dúzia de estudantes de cirurgia dentária inscritos, depois de terem pago 9.500 euros, e oito estudantes de ortofonia – uma prática destinada a ultrapassar problemas de fala – que pagaram 7.500 euros.
Se concluírem o curso, receberão um diploma português que lhes permitirá exercer em França, graças as regras europeias de equivalência de qualificações.
Segundo o vice-reitor da universidade, Bruno Ravaz, o objetivo é ter “cinquenta estudantes por curso em medicina dentária e farmácia e trinta em ortofonia” e, para isso, o prazo para inscrições foi alargado até janeiro.
O problema com esta “estratégia perigosa”, segundo o Le Monde, é que estarão a passar à frente de “dezenas de milhares” de alunos que todos os anos são barrados dos estudos pelos numerus clausus das instituições francesas e que limitam o número de admissões nos cursos.
Do lado do ministério francês da Educação Superior e Investigação, “o embaraço é real”, refere o Le Monde, indicando que a tutela “ponderou agir judicialmente sobre a utilização do termo universidade, mas atacar a legalidade desta montagem não é evidente”.
O jornal refere que Itália revogou uma autorização de funcionamento à Universidade Fernando Pessoa em fevereiro deste ano, alegando que é o Estado que regula a formação em Saúde.
Bruno Ravaz afirmou que, “se a pressão for demasiado forte”, a Universidade Fernando Pessoa irá instalar-se “em Andorra ou no Luxemburgo”.
A União Nacional de Estudantes de Cirurgia Dentária já se insurgiu contra a existência da sucursal, considerando que “vai contra o princípio de equidade do ensino superior e contorna diretamente o sistema de formação em saúde, nomeadamente o numerus clausus”.
O vice-presidente da organização, Gauthier Dot, lembrou, em declarações ao Le Monde, que o número máximo de estudantes admitidos por ano nas universidades francesas é de 1200, com a hipótese de mais 25 a 100, no conjunto de todas as instituições.
“Ter mais cinquenta estudantes por ano não é inócuo”, afirmou.
A Confederação Nacional de Sindicatos Dentários vai mais longe e afirma que não tem “qualquer garantia sobre a qualidade dos professores ou sobre as condições da formação clínica”.
“Certamente há boas universidades em Portugal, mas os nossos congéneres portugueses não escondem que a universidade Fernando Pessoa não oferece um bom nível de ensino”, salientou a organização, cuja presidente, Catherine Mojaïsky, defendeu que “as regras europeias não devem favorecer a desregulação das profissões da Saúde”.
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