– Temos de parar. Já ninguém pára. Postei agora uma publicação no Facebook sobre o futuro do trabalho. Eu não acredito no futuro do trabalho, sabes? Em 2019, a OIT, Organização Internacional do Trabalho, celebra o seu centésimo aniversário e o debate vai ser em torno do futuro do trabalho na era da digitalização e da robotização. Mas, diz-me, porque é que é o trabalho que nos define? Porque razão quem não trabalha não é nada e um self-made man é alguém bem sucedido… no trabalho? O nosso paradigma de sociedade está completa e absurdamente errado!
– Mas o trabalho não é o problema. É o que a sociedade fez dele.
– Claro. Mais precisamente o que a ganância fez do trabalho. Mas sim, o problema é o trabalho, porque pela primeira vez na Humanidade há cada vez mais gente mas menos trabalho, porque baseámos o trabalho no consumo, e hoje há excedentes, jogamos demasiado fora, e, no entanto, ainda há gente a morrer à fome. Está tudo errado e nós continuamos a correr de boca aberta contra o muro, extasiados e orgulhosos, arrogantemente enfatuados com o nosso modelo sócio-económico.
– Sim, percebo o teu ponto de vista e tens razão. O problema é todo este sistema doente baseado no dinheiro e na corrupção.
– Pois. Temos de mudar o paradigma e a sociedade. Mas como? Aos poucos? À porrada? Com uma revolução?…
– Eu tenho medo de pensar numa coisa que começa por “Terceira…”
– Não há que ter medo. A terceira revolução industrial é uma evolução. Temos de evoluir. Mas não forçosamente na direcção em que alguns dedos apontam. O crescimento económico não é o único caminho possível. Mas esses dedos querem-nos fazer crer que é. E sem essa bússola estaríamos perdidos, dizem eles. Garantem que nos perdemos sem esse modelo. Mas eu acredito que só quando deixamos de ser humanos e de tratar os outros como seres humanos é que nos perdemos verdadeiramente.
– Verdade, os mais jovens estão sem perspectivas, andam ansiosos, perdidos, sem valores, sem respeito pelo ser humano.
– E há cada vez mais gente que trabalha e muito, muito mais do que 40 horas, e mesmo assim não se conseguem safar e ter uma vida digna, para si, para os filhos, para a família. Uma sociedade com jovens sem perspectivas é uma sociedade doente e sem futuro.
– Sim, é um facto. Eu gostava de pensar de forma mais positiva, mas a questão é que tudo é manipulação: “Trabalhem, minha gente!” e assim não têm tempo de pensar.
– Ora bem, percebeste tudo.
JLC28102018 (in “Diálogos”)