Era meu colega. Passava no corredor e nunca se sabia se ia cumprimentar ou não.
Pessoa estranha. Muito metódico e dizia-se que era um bom profissional. Tinha inclusive, para além da brilhante carreira profissional, uma carreira de competição num desporto difícil.
Mas cumprimentar, isso é que dependia dos dias.
Sempre achei muito estranho como é que alguém num dia nos envia um grande sorriso de orelha a orelha e no dia seguinte nos vira a cara.
A princípio, pensei que tinha feito alguma asneira. Mas tentei sempre pensar, hoje não deve estar num bom dia. Deve estar preocupado com os seus pensamentos.
Passaram-se os anos e um dia uma pessoa dos serviços administrativos pergunta-me o que se passa com aquele meu colega.
Devo ter mostrado um ar de espanto com a pergunta. E a pessoa continuou: é que ele é muito estranho, ora nos cumprimenta, ora não nos cumprimenta.
Ali percebi então que afinal aquele comportamento não era só comigo.
Até hoje continuo sem perceber porque faz isso. A nossa relação nunca chegou a um ponto de confiança para lhe perguntar directamente. Mas curiosidade não me falta. Inclusive, questiono-me se por acaso se apercebe do que faz. Quiçá não.
Mas paradoxo dos paradoxos: é uma pessoa que defende a empatia dos profissionais de saúde a todo o custo.