A Essência do Vinho comprou a revista brasileira de enogastronomia Gula e os seus responsáveis disseram à agência Lusa que o negócio “é uma consequência lógica do trabalho que a empresa tem vindo a desenvolver no Brasil”.

“O negócio foi assinado na semana passada e culminou um longo namoro entre as duas partes. Começou tudo em 2018”, disse Nuno Botelho, um dos dois sócios e diretores da empresa Essência do Vinho (EV).

O preço que a EV pagou pela compra da Gula “é confidencial” afirmou o mesmo diretor. “Não podemos revelar porque está no contrato. É um valor que achamos justo para o nosso retorno”, acrescentou.

A Essência do Vinho, que organiza desde 2004 um evento homónimo no Palácio da Bolsa, no Porto, que os seus responsáveis descrevem como “a maior experiência do vinho”, ambiciona dar um novo fôlego à Gula, com maior enfoque no vinho do que na gastronomia.

A Gula surgiu em 1992, com a mensagem “Comer bem é a melhor vingança”, e transformou-se na “referência maior do mercado editorial brasileiro” nas temáticas relacionadas com o vinho e a gastronomia”.

“Nos últimos três anos, a Gula tinha interrompido a sua presença nas bancas” para se concentrar em diferentes formatos digitais, “onde conquistou mais de 189 mil seguidores e manteve padrões de notoriedade forte no vinho, na restauração, na hotelaria e no turismo”, refere a EV.

A revista brasileira irá agora focar-se, fundamentalmente, no vinho e no que este setor oferece a nível mundial e o seu reaparecimento em papel está previsto para o “segundo semestre deste ano”. A nova Gula será bimestral e o jornalista e crítico brasileiro Alexandre Lalas o seu editor.

Novas ideias e abordagens, “uma redação especializada e pluridisciplinar” e, no imediato, o reforço dos conteúdos digitais fazem parte dos planos dos novos donos da publicação, segundo o também diretor do grupo português Nuno Pires.

“Queremos replicar no Brasil o que fazemos em Portugal” com a Revista de Vinhos, que a EV adquiriu a um grupo angolano em 2017″, e já fazia antes com a Wine, publicação entretanto descontinuada. “O nosso objetivo é criar a melhor revista de vinhos no Brasil”, resumiu Nuno Botelho.

Nuno Pires destacou que “a concretização da compra da Gula também tem um lado emotivo forte”, porque a Essência do Vinho tem uma forte ligação ao Brasil praticamente desde a sua fundação, em 2004.

Os dois sócios colaboraram na organização da primeira Expovinis, um certame direcionado para o mercado brasileiro e promovido pela Exponor, cuja primeira edição ocorreu em 2002 e que se tornou na “maior feira internacional da América Latina com vinhos de todos do mundo”.

A EV surgiu dessa experiência acumulada então no Brasil, país onde, hoje, a empresa realiza regularmente eventos de norte a sul e Portugal passou a ser o país europeu que mais vinho vende.

De acordo com a empresa, Portugal ocupa já o “segundo lugar” da classificação geral, “em volume”, dos vinhos importados por aquele país, atrás apenas do Chile.

O acordo de comércio livre que a União Europeu e o Mercosul assinaram em 2019 pode dar um impulso adicional ao vinho português no mercado brasileiro e permitir-lhe, assim, ganhar quota de mercado ao vinho chileno, por via da redução das taxas aduaneiras e, em consequência, dos preços praticados no Brasil, segundo Nuno Pires.

Com a aquisição da Gula, a EV diz que passa a ser “líder na comunicação especializada em língua portuguesa em tudo o que está relacionado com o vinho e a gastronomia” e, ainda, que a Revista de Vinhos é “a quarta revista do mundo especializada com maior audiência nas redes sociais”.

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