Os finlandeses dividem-se nos motivos por terem sido considerados pelas Nações Unidas, pelo sexto ano consecutivo, como o povo mais feliz do mundo, mas há um argumento comum: “Tem tudo a ver com confiança”.
Natureza, qualidade de vida, serviços públicos gratuitos ou até a pureza da água da torneira são razões apontadas por cidadãos finlandeses para a distinção como país mais feliz do mundo, segundo o Relatório Global sobre Felicidade de 2023.
O embaixador Stefan Lindström, responsável pela área de Digitalização e Novas Tecnologias do Ministério dos Negócios Estrangeiros finlandês, destaca três razões: “Natureza, valores e tecnologia. Quando combinamos os três, isso é o que faz as pessoas felizes e a sociedade funcionar”.
“A questão é que tudo funciona e há uma confiança na sociedade”, referiu.
Mikko Mattinen, da Agência de Serviços Digitais e de Dados da População, explica: “Quando conseguimos que sejam feitas as coisas de que precisamos, ficamos felizes. Não se trata de estar a viver o sonho americano”.
Maria, 33 anos, destacou “uma grande confiança no sistema”.
“A sociedade finlandesa é muito baseada na confiança”, considera. Mas destacou que a guerra na Ucrânia teve um impacto na Finlândia, país que partilha uma fronteira de 1.300 quilómetros com a Rússia.
“O que tem acontecido nos últimos meses teve um impacto severo na economia. A economia também tem a ver com a segurança e nesse sentido as pessoas podem sentir-se mais inseguras”, comenta.
Nica, um condutor de ambulâncias de 60 anos que participava numa manifestação anti-Rússia, acredita que os finlandeses “são felizes, mas não dão valor”.
“A nossa vida é fácil. Dizem que nascer na Finlândia é como ganhar a lotaria. Não temos desastres naturais, não há violência, sentimo-nos seguros, confiamos na polícia”, enumera.
Murad, um taxista palestiniano que vive em Helsínquia há 17 anos, refere a qualidade da educação e dos serviços de saúde.
“O sistema funciona, os finlandeses sabem para onde vai o dinheiro dos impostos”, justifica o imigrante.
Heidi, guia turística, destaca o contacto com a Natureza e os “serviços de alta qualidade e gratuitos”, mas admite dúvidas quanto ao termo “felicidade”.
“Penso que tem mais a ver com contentamento”, diz.
Já Pekka, jornalista, vê esta distinção com mais ceticismo: “A Finlândia tem das taxas de suicídio mais elevadas do mundo e o nosso sistema de ensino, antes tão elogiado, parece estar a falhar”.
O relatório usa dados de seis variáveis para elaborar o ranking anual de felicidade: PIB (Produto Interno Bruto) per capita, apoio social, expectativa de vida saudável, liberdade, generosidade e corrupção. O índice é calculado com base em avaliações de 1.000 moradores de cada país, através de entrevistas feitas pela consultoria Gallup World Poll.
Portugal caiu do 34.º lugar entre os países mais felizes do mundo em 2019 para o 56.º em três anos.