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Os guineenses do Luxemburgo

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Clique para ampliar A crise em Portugal está a forçar os emigrantes de origem guineense a emigrarem novamente para outros países europeus, e muitos dos que chegam ao Luxemburgo à procura de trabalho têm agora de sustentar as famílias que deixaram na Guiné-Bissau e em Portugal.

António Agô chegou a Portugal em 1999, para fugir ao golpe de Estado na Guiné-Bissau que deixou a economia “paralisada”, mas dez anos depois a crise em Portugal obrigou-o a emigrar novamente. Chegou ao Luxemburgo em 2009, no mesmo ano em que obteve o passaporte português, mas desde então já viveu a falência da empresa de construção Soccimo, que em 2011 deixou 400 portugueses no desemprego. Desde então, só encontrou trabalho temporário.

“Trabalhar um mês, ficar parado duas semanas” tem sido a vida deste pedreiro de 50 anos nos últimos dois anos, e o que ganha ainda tem de chegar para enviar dinheiro para a mulher e os quatro filhos que ficaram na Guiné-Bissau e para ajudar um irmão desempregado e as sobrinhas em Portugal. “Tenho de mandar dinheiro para pagar a renda e para a comida deles. Fiquei com este peso todo em cima”.

Contas feitas, o que ganha mal chega para viver. “Recebo o salário mínimo [cerca de 1.580 euros] e pago 450 euros por um quarto duplo num café. Quatrocentos e cinquenta euros de renda aqui, 350 em Portugal, 300 para a família na Guiné, mais a comida, quanto é que sobra?”.

António admite que não sobra nada, e há muitos meses em que o que ganha não chega sequer para pagar as contas.

“Todos os meses mando dinheiro para a mulher e os filhos. Agora no início das aulas todos os dias telefonam. As aulas começam na segunda-feira e até agora não consegui o dinheiro para lhes mandar para pagar os livros, as roupas e a própria comida”.

Esta é a situação em que vivem a maior parte dos emigrantes de origem guineense no Luxemburgo, um número que tem vindo a aumentar e que rondará já as duas mil a três mil pessoas, segundo estimativas das associações guineenses no país.

“Em Portugal resolvemos formar a nossa família, e agora tivemos de a abandonar. Ficámos com dois encargos: encargos na Guiné, porque as pessoas estão desempregadas e na miséria e temos de partilhar o que ganhamos com eles, e encargos em Portugal”, explica Quintino Gomes, membro da associação Luso-Guineense no Luxemburgo. “Isto penaliza-nos muito, porque nunca conseguimos ter uma vida confortável. Estamos sempre em dívida: temos dívidas em Bissau e em Portugal, somos grandes devedores”, diz.

Com o dinheiro contado, “há famílias a viverem situações difíceis” no Luxemburgo. “Conheço um caso em que duas pessoas viviam numa cave, a pagarem 400 euros cada uma”, contou Quintino Gomes à agência Lusa, à margem de um debate sobre os 40 anos da independência na Guiné-Bissau, este sábado.

Ao Círculo de Ligação das Associações de Estrangeiros chegam quase todos os dias emigrantes de origem guineense à procura de trabalho, e o número tem aumentado nos últimos dois anos.

“A maioria dos emigrantes guineenses têm nacionalidade portuguesa, e são obrigados a sair devido à crise em Portugal”, explica Lúcia Coelho, assistente social no CLAE. A associação ajuda-os a “inscrever os filhos na escola, a fazer o pedido de abono ou de reagrupamento familiar, e a preparar o curriculum ou a inscreverem-se na ADEM (Centro de Emprego)”, disse a assistente social, frisando que “há famílias em situação de precariedade”.

A maioria dos emigrantes de origem guineense que chegam ao Luxemburgo são pouco qualificados e trabalham no sector da construção.

“Os homens trabalham na construção e as mulheres na limpeza. É um pouco a realidade também da emigração portuguesa, embora em menor grau do que há alguns anos”, disse à Lusa Sérgio Ferreira, porta-voz da Associação de Apoio a Trabalhadores Imigrantes (ASTI, na sigla em francês).

À ASTI chegam também muitos pedidos de ajuda de emigrantes guineenses, sobretudo para obter autorizações de residência ou apoios sociais.

“Eles fogem da Guiné por causa da situação económica e politica, primeiro para Portugal, pensando que lá encontram a solução. Mas depois têm de fugir de Portugal para outros lados por causa da crise, e é de facto um duplo exílio”, disse à Lusa o porta-voz da ASTI.

No Luxemburgo, há já cinco associações de emigrantes guineenses, tendo a mais antiga sido criada em 2006 e a mais recente há apenas dois meses, segundo a assistente social do CLAE, que ajudou as associações a formalizarem a sua constituição.

“É uma forma de mostrarem a sua cultura e de serem um suporte para os recém-chegados”, explicou à Lusa Lúcia Coelho.

As associações uniram-se para organizar uma exposição no Centro Cultural Português, inaugurada no aniversário da independência da Guiné-Bissau, a 24 de Setembro, e que terminou hoje com um debate sobre a situação da comunidade guineense no Luxemburgo.

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