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O banho santo de São Bartolomeu do Mar

Clique para ampliar O medo “afoga-se” num “banho santo” e “afasta-se o Diabo” com três voltas à igreja segurando uma galinha preta: 12,5 euros é quanto custa cumprir uma tradição que junta milhares de pessoas no dia de S. Bartolomeu do Mar.

O dia começou cedo. José Brás, 60 anos já perdeu a conta a quantos lhe passaram pelas mãos e que, entre “muito choro, pontapés e medo”, mergulhou no mar, a troco de “um dinheirito”, para que os miúdos, e até graúdos, percam “os medos ou aprendam a falar direito”.

Reza a tradição que “pelo menos uma vez na vida e antes dos sete anos” país, avós, tios, ou “seja quem for”, levem as crianças ao “banho santo” no dia do padroeiro e protetor dos pescadores.

Nuno está no limite. Tem sete anos e medo de dormir sozinho, contou a mãe. Foi o primeiro a entrar nas águas “geladas” do Atlântico no dia de S. Bartolomeu do Mar.

“Deixa-me respirar, deixa-me respirar um bocadinho”, implorou a criança depois do primeiro mergulho. Sem que tivesse tempo para mais um pedido, veio o segundo e depois o terceiro, já está.

“Esta noite já vou dormir sozinho?”, perguntou aos pais. “Vais, pois. Já não tens por que ter medo”, garantiu a mãe, enquanto lhe limpava o sal das lágrimas.

Reza a tradição que sejam “três as vezes que a criança emerge e três as vezes que ela vem a cima”, esclareceu à Lusa José.

“A simbologia é clara. O mergulho equivale à morte, a vinda à tona a ressurreição”, explicou o padre Fraquelim Soares, autor do livro “S. Bartolomeu do Mar e o seu Banho Santo”.

“Começou no século XIX e acreditava-se que curava doenças de pele, a gota, a gaguez e que tirava os medos. É o poder da Fé”, justificou.

António Carvalho, 83 anos, trouxe a bisneta Sara para o banho.

“Vim cá com os meus 12 filhos, os meus 15 netos e agora com a primeira bisneta. Mal não faz e nenhum deles ficou gago”, disse, embevecido pela bravura com que a neta enfrentou a água. “Bubo, viste? Não chorei”, gabou-se Sara, ainda a tremer.

Pelo banho paga-se 5 euros. “Quando comecei isto, com 17 anos, levava 20 escudos. Antes do euro eram 500. Com o euro passou para 5 euros, para ser conta certa”, explicou José, como que a justificar.

Reza a tradição que depois do banho se “afugente o Diabo” com três voltas à igreja de S. Bartolomeu do Mar com uma galinha preta ao colo.

Quem não tem o animal em casa, aluga. São 7,5 euros.

“As galinhas são dadas à paróquia para pagar promessas. No final do dia são leiloadas”, explicou Carolina Cepa, guardiã dos animais há 35 anos, agora com “mais de setenta”.

O almoço faz-se pela praia. Milhares de pessoas esticam a toalha e partilham o repasto, um misto de festa e nostalgia. “Vimos cá neste dia desde que fomos para a França ganhar a vida há 34 anos”, contou Ana Silva.

Reza também a tradição que não há romaria sem que se misture ao sagrado o profano da música popular, os pregões de vendedores. Roupa, atoalhados “só dos melhores”, ferramentas, brinquedos, animais, carteiras, “quase tudo se vende” à volta da Igreja.

Sem procissão também não há romaria. O santo saiu do altar e percorreu as ruas. Este ano não foi ao mar, o areal “está curto”, brinde do mau tempo no inverno.

“É pena. Este santo é do mar e vai sentir falta de molhar os pés”, lamentou Fernando Gouveia, 78 anos.

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