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Natália Correia, uma mulher atlante homenageada em Paris

© Maria Cunha / BOM DIA

Foi inaugurada uma exposição de artes plásticas em homenagem à vida e obra da poetisa e escritora feminista Natália Correia na Casa de Portugal – André de Gouveia da Cité Internationale Universitaire de Paris (CIUP). A exposição conta com o contributo de diversas obras de artistas e amigos da escritora, e é da organização de Paula Lisboa, Carlos Cabral Nunes e Rui A. Pereira, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian e a CIUP.

A Casa de Portugal – André de Gouveia e a biblioteca da Fundação Gulbenkian, em Paris, abriram as suas portas na passada sexta-feira para a inauguração da exposição “Natália Correia, uma Mulher Atlante”, por ocasião do centenário do nascimento da escritora e poetisa, personagem marcante da segunda metade do século XX em Portugal.

O evento contou com a presença de inúmeros convidados, entre os quais artistas e amigos de Natália Correia, portugueses e estrangeiros, que quiseram estar presentes para a homenagem, ou ainda cujas obras e testemunhos contribuíram para a exposição. Entre eles, estiveram os principais promotores da exposição, a organizadora desta iniciativa, Paula Lisboa, o fundador da Perve Galeria e curador da exposição, Carlos Cabral Nunes, e o autor do livro “Natália Correia – confissão poética em torno da Mulher Atlante”, Rui A. Pereira.

O BOM DIA esteve à conversa com Paula Lisboa: “Normalmente, quando organizo exposições, e quando são pessoas que já morreram, tento ir buscar os amigos dessas pessoas porque são efetivamente as amizades que relatam as histórias das pessoas e a vida das pessoas.”

É assim que, por entre “puzzle” de obras de artistas plásticos que dialogam com a obra literária de Natália Correia, tais como Mário Cesariny, Agostinho Gonçalves, Cruzeiro Seixas, Fernando Lemos, Isabel Meyrelles, Matilde Marçal, João Rodrigues, José Escada, Júlio Resende, Margarida Madruga, Eduardo Gageiro, Benjamim Marques, Raul Perez ou Mário-Henrique Leiria, a exposição ganha vida com a ajuda de “amigos da Natália Correia, que conviveram com ela”, enriquecendo o contexto histórico e estético da escritora e deputada.

“As suas vivências relatam o seu dia a dia e a sua maneira de ser, e a Nátila, de facto, foi uma mulher que se dá com os surrealistas, como a Isabel Meireles, o Cesariny, por exemplo, com que ela disputava imenso mas eram grandes amigos”, diz Paula Lisboa.

Logo à entrada, a obra “Ternura”, feita em pintura e poesia por Natália Correia dedicada a Cesariny, dá o mote para esta intertextualidade e cruzamentos artísticos patentes no decorrer da exposição.

Mais à frente, Paula Lisboa destaca “uma personagem particularmente interessante”. “A Natália, antes do 25 de Abril, escreveu “os contos eróticos”, nos quais trabalhou com o Luís Pacheco e com este ilustrador, que era o João Rodrigues, e foram todos convocados pela PIDE para serem presos. Este artista, que fez as ilustrações dos “contos eróticos” era muito jovem, tinha 25 anos, não aguentou a pressão e suicidou-se. E nós conseguimos trazer duas imagens dele”, explica.

Segundo a organizadora, o caráter de Natália Correia era marcado por uma personalidade de atitudes e afirmações fortes, destacando em particular uma frase com a que caracteriza por várias vezes: “eu não me vergo às pessoas importantes, vergo-me à intelectualidade”, isto porque “para ela o mais importante era a liberdade. A liberdade da palavra”, afirma.

Era neste sentido que “a Natália vinha muito a Paris e era muito amiga destas pessoas todas que viviam em Paris”, local de reunião e debate de ideias por por excelência dos intelectuais da época. E por essa razão a relevância desta exposição na cidade das luzes, em paralelo com as homenagens prestadas em Portugal na celebração deste centenário.

Também o galerista Carlos Cabral Nunes, curador da exposição, quis prestar a sua homenagem à escritora dizendo que “foi uma feminista, uma personagem marcante na nossa cultura, que fez todo o seu trabalho durante a ditadura, onde as mulheres não podiam sequer saír do país sem a autorização do marido. Penso que Natália Correia desempenhou um papel muito importante para o país que temos hoje, e que é com total justiça que esta exposição se realiza em Paris.”

Nos discursos de inauguração foram ainda feitos vários agradecimentos, entre os quais à Fundação Calouste Gulbenkian e à Casa de Portugal – André de Gouveia da Cité Internationale de Paris, que se estreou também no primeiro evento a ocorrer já com a nova direção de João Costa Ferreira, o pianista português que, desde dia 1 de setembro, sucede ao cargo de Ana Paixão, agora Diretora do Campus da Cité Internationale de Paris.

Após os discursos inaugurais, deu-se ainda a pré-estreia internacional do filme da RTP  “O aplaudido dramaturgo curado pelas pílulas pink”, conto de Natália Correia adaptado para cinema pela Marginal Filmes com realização de Jo Monteiro, cortesia da Fundação Calouste Gulbenkian.

A exposição manter-se-á aberta ao público até ao dia 26 de outubro na biblioteca da Fundação Gulbenkian, na Casa de Portugal, sendo que está ainda previsto um ciclo de eventos no âmbito da comemoração deste centenário, nomeadamente um colóquio internacional organizado pela “Maison André Gouveia” em parceria com as Universidades de Paris Sorbonne, Paris Nanterre, Paris 8, Universidades Nova de Lisboa e de Göttinghem, nomeadamente com a Cátedra Almada Negreiros.

Para mais informações e atualizações dos próximos eventos pode consultar o site da Casa de Portugal aqui.

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