De que está à procura ?

Europa

Luxemburgo: férias na construção começam em clima cinzento

© Raúl Reis / BOM DIA

As férias coletivas da indústria da construção começam esta sexta-feira no Luxemburgo, durante período especialmente turbulento para o setor. Numa semana que começou com o anúncio de falência da empresa Manuel  Cardoso, as construtoras fazem um balanço sobre como podem compensar a perda de atividade ligada ao aumento dos juros deste ano. Apesar de as vantagens das férias serem da opinião generalizada dos trabalhadores, o tom é de desejo por dias melhores após o início do ano letivo.

O setor da construção não está fácil no Luxemburgo. Com menos 30,4% de apartamentos vendidos no final de 2022, o receio de uma quebra de 40% nas encomendas anunciadas para 2023, o défice na habitação, e o anúncio da falência da empresa Manuel Cardoso no início desta semana… Esta sexta-feira, as férias coletivas iniciam-se com o tempo a prever-se cinzento e, curiosamente, a chuva também não parou de cair durante esta última semana de trabalho na construção.

“Esperamos um regresso às aulas complicado”, testemunha o diretor da Câmara de Comércio, Tom Wirion à Paperjam News que, sem querer cair no “catastrofismo”, constata “uma situação de inflação, de juros altos e, portanto, de relutância dos consumidores em trabalhar, daí a falta de horizonte”. 

Segundo Tom, os pedidos de obras são escassos para muitas empresas. Porém, a crise não tem o mesmo impacto nas empresas que trabalham na construção residencial, como nas que trabalham em obras públicas, sendo que as primeiras são diretamente afetadas pela dificuldade das famílias em obter crédito à habitação, sendo difícil mudar da noite para o dia para o setor público. 

No final de 2022, a Câmara de Comércio estabeleceu, em conjunto com a Fédération des artisans, uma lista de medidas para desafogar o setor, desde o aumento do IVA à habitação à reintrodução da taxa super-reduzida para o arrendamento. Este ano, está a planear uma formação para as empresas do setor residencial no início do ano letivo para ajudar na transição para o público. Porém, Tom Wirion não deixa de apontar o aumento da competição neste setor: “antes, havia entre três a quatro ofertas por mercado público. Hoje, temos quinze”.

Ainda assim, apesar das dificuldades, a pertinência das férias coletivas parece ser unânime. Com este sistema, todos os trabalhadores estão ausentes durante as mesmas semanas, assegurando-se um período em que todos podem fazer uma pausa, sejam patrão ou empregado, trazendo vantagens para a produtividade e a lucratividade das empresas.

As férias deste ano iniciam-se, porém, ao sabor de uma “crise histórica. É provável que a situação piore após as férias”, prevê Tom Wirion. “Esperamos que a falência da empresa Cardoso seja um fenómeno isolado. Por outro lado, o setor está preguiçoso. Estamos a saír de duas crises, a da covid-19 e a escassez de matérias-primas, depois da guerra na Ucrânia. E agora, aumento das taxas de juros. Não sabemos onde isto nos vai levar. Devemos permanecer vigilantes”, acrescenta o secretário-geral da Associação dos Empreiteiros de Construção Civil e Obras Públicas, Pol Faber, em entrevista à Paperjam News.

Medidas como a redução dos contratos temporários, não trabalhar aos sábados, e deixar de subcontratar algumas atividades para ocupar os operários são tomadas por empresas como a Poeckes, refere o diretor técnico Paul Nathan. Também é de ressalvar que este ano houve eleições municipais no país, sendo que o ano seguinte por norma é sempre mais calmo em termos de projetos.

Outras empresas, como a Félix Giorgetti, tomam medidas mais drásticas como cortar totalmente com os projetos de habitação, focando-se a partir de agora apenas em projetos públicos para manter a força de trabalho. Ainda assim, é opinão generalizada que as férias coletivas são uma boa medida, e que mantêm as suas vantagens e interesse para todas as partes.

Raúl Reis / BOM DIA

Para a confederação sindical LCGB, a prioridade é “a falência da empresa Cardoso. Estamos a fazer o possível para preparar os arquivos para os funcionários. Temos sido fortemente procurados por outras empresas em busca de mão de obra”, explica o secretário-geral adjunto, Christophe Knebeler.

Depois, “será necessário acompanhar a evolução do setor. Temos ecos de outras empresas mais pequenas onde há atrasos salariais. Permanecemos vigilantes ” disse, sem nomeações.

O secretário central do sindicato do setor na OGBL, Jean-Luc De Matteis, relativisa um pouco o cenário: “é claro que há uma desaceleração, mas não diz respeito a todo o setor. A construção de moradias representa apenas 15 a 20% da atividade. Algumas empresas têm carteiras de pedidos cheias até 2024”, continua Jean-Luc De Matteis. “Continuamos atentos, sem cair no catastrofismo”, conclui.

A Chambre des métiers comunicou, numa nota divulgada na semana passada, o período de férias do ramo da construção e engenharia civil que se inicia a 28 de julho, terminando a 21 de agosto. No inverno, estão previstas férias de 23 de dezembro a 10 de janeiro de 2024 para o setor. Até ao dia 28 de julho, foram solicitados 157 pedidos de isenções, dos quais 121 de empresas de construção e construção civil, segundo a Inspecção do Trabalho e Minas (ITM). Foram concebidas 107 isenções e 14 foram recusadas.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA