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João Costa Ferreira é o novo diretor da Casa de Portugal em Paris

© DR

Pianista e investigador, João Costa Ferreira é o novo diretor da Casa de Portugal – André de Gouveia. Natural de Leiria, mas a residir em Paris desde os 19 anos, veio agora proceder ao mandato de 12 anos de Ana Paixão na direção e programação cultural da casa portuguesa da Citè Universitaire de Paris, onde considera que a diversidade e mediação artístico-culturais serão ”ferramentas essenciais” às quais pretende dar prioridade no seu mandato.

Com a ex-diretora da Casa de Portugal, Ana Paixão, a ultrapassar o limite permitido de mandatos e a assumir a nova função de diretora da Cité Universitaire de Paris, as candidaturas à direção da Maison du Portugal voltaram a ficar abertas. 

Vendo que o seu perfil correspondia às inúmeras características exigidas pelo cargo, tais como pertencer a um laboratório de investigação da Ile de France, ou ter um doutoramento, João da Costa Ferreira decidiu candidatar-se e foi o escolhido entre as várias propostas dos interessados.

Em entrevista ao BOM DIA, Costa Ferreira explica que o principal motivo que o levou a candidatar-se foi “o interesse que sempre teve pela cultura”. Habituado a ver neste espaço “uma grande atividade cultural, por todo o mérito da Ana Paixão, uma pessoa muito dinâmica que deu vida a esta casa”, sempre lhe interessou também poder vir a ter um papel na área da programação cultural e artística.

Agora, a juntar ao seu percurso enquanto investigador e pianista, desde dia 1 de setembro que este é um papel que passa a conciliar com a gestão da Casa de Portugal, com a sua admissão enquanto novo diretor e responsável pela programação da Sala Pessoa, na mesma residência.

“Não residi cá, mas costumava vir cá para concertos que dei tanto na Casa de Portugal como na Casa de Île-de-France, portanto conhecia a atividade. Quando a candidatura foi publicada não pensei duas vezes, mas deu trabalho”, confessa ao BOM DIA.

Com um novo diretor também pianista, poderia esperar-se uma animação cultural repleta de música nos próximos tempos para a Casa de Portugal, mas o próprio dissemina esta ideia, dizendo que o propósito será mesmo conseguir fazer um programa bastante variado tanto em termos artísticos, como científicos e culturais.

“Uma das razões que me levou a candidatar-me à direção Casa de Portugal foi exatamente o facto de poder estar em contacto com outras artes. Não só com a música, como também com o cinema, as artes plásticas, a fotografia, a pintura, etc.. Eu acreditava que isso me ia alargar horizontes, por isso o intuito é estar aberto a todas as artes, e não apenas às artes, como também às ciências, humanas e exatas, através de conferências e colóquios, por exemplo”, afirma.

Com o seu enfoque na vida e programação cultural da Casa de Portugal, João Costa Ferreira sublinha a importância do papel da mediação nestas atividades. “O que eu acho muito importante é procurar destruir o fosso que existe entre a cultura dita elitista e a cultura popular. E por essa razão creio que a mediação cultural é um utensílio essencial para aproximar os dois públicos”, explica.

“Se tiver aqui um evento, por exemplo, de música de guitarra clássica moderno ou de um compositor de música contemporânea que não seja tão ”fácil” de ouvir, que precise de alguma medição, eu se calhar vou privilegiar uma proposta de alguém que me apresente um concerto comentado, em que vá situar a obra e explicar ao público aquilo que vai ouvir” o que considera que “é algo muito importante para aproximar o público e para o atrair para outras estéticas e para outros universos, neste caso, musicais”.

Quanto ao papel dos residentes na participação da programação cultural da casa, o diretor diz que é importante estes estarem envolvidos nas atividades da Casa. “Eu penso os eventos tanto para o interior como para o exterior. Há muito público que vem de fora, e embora os eventos não sejam exclusivos para os residentes, são feitos para os residentes”. 

Para já, durante o seu mandato, apenas ainda ocorreu a exposição “Natália Correia, uma mulher Atlante”, e que se mantém até dia 26 de outubro na Casa de Portugal, em homenagem ao centenário do nascimento da personalidade portuguesa. Porém, toda a programação artística e cultural da Casa de Portugal já está a ser pensada, e pode ser consultada na página da Citèscope, assim como através da comunicação feita pela Maison du Portugal na própria casa ou através do site.

Esta exposição é um exemplo do eixo cultural característico da Maison du Portugal, onde existe uma preferência pela questão da cultura portuguesa e lusófona. Porém, João sublinha que o intuito é também aqui haver diversidade, havendo já vários eventos programados que envolvem não apenas pessoas de origem portuguesa, assim como de outras nacionalidades ou que possam vir apresentar algo relacionado com a cultura e história de Portugal.

Tendo chegado a Paris com 19 anos, Costa Ferreira ficou numa residência de músicos em que a “língua comum era a música ou o inglês”. Por essa razão, confessa que se revê muitas vezes nos jovens residentes na casa, embora a média de idades seja os 24 anos, um pouco mais velhos do que era quando chegou.

“Compreendo as dificuldades”, especialmente as dos jovens que não falam francês. Por essa razão, acha ”muito importante que a aprendizagem do francês se tornasse uma atividade transversal a todas as casas”, algo que já propôs à Citè Internacional, e que irá igualmente propor aos residentes por considerar que ajuda muito na integração dos jovens nesta cidade.

Nesta perspetiva, um conselho que poderia dar a outros jovens que vêm agora fazer de Paris a sua casa é aproveitar ao máximo a componente artística e cultural da cidade: “toda a oferta que existe é muito enriquecedora, e a vida cultural é essencial”.

João Costa Ferreira dá um exemplo de um amigo que na altura em que se mudou para Paris dizia que “em Portugal, quando havia um concerto, tínhamos que ir até Lisboa para lá ouvir o que que havia para ouvir. Aqui, escolhemos: o que é que eu quero ouvir? Então para ouvir isto, vou ali”. 

É este o apelo que deixa para os jovens e todos os residentes da Maison, e para o qual agora também pretende contribuir na Maison du Portugal, através do seu acolhimento e gestão da programação artística durante o seu mandato na Citè Universitaire de Paris.

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