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Histórias de portugueses na República Checa

Com os óculos de sol na cabeça, t-shirt, calções azuis e ténis, André Galhardo foi descontraído ao aeroporto Vaclav Havel buscar o pai, Jorge, para 10 dias em família.

Não tarda hão-de juntar-se a Patrícia Barbosa, namorada de André. E será já em Vaclavske Namestí (ou Praça Venceslau) que resumem uma história feita, à semelhança do que sucede com as dos compatriotas, não de lamechices, mas de luta constante pela afirmação, pela demonstração de qualidades e com actos de amor reflectidos na essência de ser português: ele, já com Mestrado em Educação Física, chegou primeiro, em 2011, para fazer o programa COMENIUS; depois de um mês na Universidade Carolina, em Praga, a aprender Checo, deu início ao programa numa escola pública da pequena Olomouc. No final, foi convidado a leccionar na escola.

Patrícia é psicóloga e vivia na cidade da Maia, onde trabalhava junto de jovens adultos com deficiência, quando deixou voar os seus sonhos e partiu em busca de uma nova vida junto de André. Após seis anos de história de amor por terras lusas, este prevaleceu e, em 2012, Patrícia juntou-se a André na procura de estabilidade profissional e familiar para ambos. Já em Olomouc, receberam propostas de trabalho de escolas internacionais em Praga. Patrícia foi convidada para trabalhar numa das melhores escolas da capital – “The Prague British School”. Partiram então para Praga.

Patrícia foi convidada a coordenar um serviço novo – “extra time” -, um ATL para crianças , das 15 às 18. Agora é também professora assistente no período da manhã na mesma escola. André continua a leccionar numa pré-escola internacional, tendo já agendada a passagem para a “Riverside International School”, onde vai trabalhar como professor de Educação Física e professor assistente. Profissionais dedicados, dizem que “não há tempo para extras, tudo reverte a favor do ensino e da Educação”. Após um dia de trabalho, ainda lhes sobra energia para dar aulas de português a adultos.

Aos sábados é o projecto da Escolinha Portuguesa, resultado de árduo esforço e organização de uma equipa coesa.

“É um sonho que se tornou realidade e nasceu após conversas informais em 2011”, revela Luci, professora ligada à génese da Escolinha. Através do Instituto Camões, Setembro de 2012 foi a data de concretização. “De início éramos só duas professoras, eu e a Nikol, checa casada com o arquitecto que desenhou as novas instalações.

Eram sete crianças, mas ela teve de sair no fim do primeiro ano lectivo e, no primeiro semestre, a Escolinha parou. Então, a Nikol falou-me da Patrícia que já trabalhava com crianças, tomámos um café em Dezembro de 2013, tudo ficou definido e reabrimos em Março do ano passado.”

Aos domingos de manhã, Marco Maio, o arquitecto da Guarda a quem Luci se refere, junta-se a portugueses, italianos e um checo para jogar à bola. “Estou aqui há oito anos e a experiência tem sido muito boa”, sintetiza. A proposta inicial levou-o três anos a uma empresa, depois abriu a sua firma e, por via desta, desde Abril está envolvido com a Skoda.

De volta à Escolinha Portuguesa, já serve 26 crianças em grupos etários rotativos (dos 2 aos 4 anos, dos 5 aos 7 e dos 8 aos 10). “Filhos de casais portugueses, casais mistos luso-checos, luso-franceses, cabo-verdianos, brasileiros, ou seja, uma multiculturalidade fantástica”, diz Luci. “O projecto subsiste graças ao pagamento semestral dos pais.” Do Instituto Camões recebem ajuda científica e pedagógica, material bibliográfico e apoio administrativo. Mas como chegou Luci? “Era professora contratada pelo sétimo ano consecutivo e o Bruno, meu marido, trabalhava para uma empresa na área das telecomunicações”, responde. Em 2007, insatisfeito com a “estagnação e incerteza face ao futuro”, o marido aproveitou uma proposta no estrangeiro e seguiu até Praga, enquanto a mulher ficava em Portugal com a filha. Fez sacrifícios para aprender checo, mas desistiu no final do primeiro semestre “face às dificuldades”. Nas férias da escola a família reunia-se em Praga e Luci recorda o choque: “Aquilo que mais me assustou foi a língua”, conta. “Olhava à volta e não entendia uma palavra nas paredes, na publicidade, nos transportes públicos, no supermercado… tudo tão diferente que a mais simples tarefa parecia odisseia. Chorei e disse para mim que jamais queria viver onde não percebia o que me rodeava”, lembra. “As pessoas eram frias e pouco afáveis, poucas falavam mais do que o checo e as que falavam era alemão ou ‘small english’!”

Mesmo assim, apaixonou-se pela beleza da cidade. “Cada edificio tem mil histórias para contar e, de cada vez que passávamos numa rua, descobríamos um novo motivo para tirar fotografias.” Porém, em Janeiro de 2009, o marido foi deslocado para Genève e, no final do ano lectivo, mulher e filha seguiram-no. Dois anos depois, com o novo processo de adaptação completo, Luci já estava grávida do filho mais novo quando souberam que teriam de voltar a Praga. “Em Setembro de 2011, com um bebé de dois meses, uma menina de cinco anos e um cachorro com um, regressámos”, diz.

Desde então, a filha está no Liceu Francês, mas a adaptação foi mais complicada para Luci. “Sentia que pouco podia fazer com uma criança tão pequena, num pais tão frio… afinal, era mera questão cultural, pois descobri com o tempo que as famílias checas e de outras nacionalidades fazem tudo com os seus bebés e crianças, apesar das condições climatéricas!” Luci só encontrou trabalho no começo deste ano e actua como ‘assistante maternelle’ no Liceu Francês. No centro da Europa, “a Cultura está ao virar de cada esquina sempre a preços muito razoáveis. Os transportes públicos são mais pontuais que o chá das 5 em Inglaterra! E os preços acessiveis ao comum cidadão. As idas ao supermercado são como um roteiro pré-traçado, com paragem só nas prateleiras e corredores conhecidos. O smartphone é essencial para traduzir rótulos ou pronunciar palavras difíceis”.

Tudo está de acordo com as respectivas vontades? Não, mas… “Apesar da saudade e vontade de voltar para Portugal, o futuro não passa apenas por isso. Aqui temos trabalho, amigos de diversas nacionalidades que fazem parte da nossa vida e nos enriqueceram, os nossos filhos estão num ambiente internacional que foi para nós a melhor forma de superar as barreiras linguísticas e essa é uma das melhores heranças que podemos dar-lhes todos os dias. Hoje, Praga é a nossa casa… Portugal, o nosso refúgio!”

A capital atrai, mas não são estas as nossas paisagens, não são estes os aromas a que nos habituámos, a nossa luz está lá longe, os nossos pratos ficam limitados à memória, não são estas as conversas que escutávamos todos os dias. “A emigração abriu-me novas opções. Praga tem boa qualidade de vida e a localização no centro da Europa assegura acessibilidade e proximidade, assim como contacto com culturas diferentes”: assim fala Maria Conceição Pires que saiu do Restelo em criança com os pais para 20 anos na Alemanha, tornando-se fluente no idioma germânico. Voltou e viveu duas décadas em Portugal. Fazia fotografia por conta própria com uma empresa lançada em 2010 até que, após algum sucesso, os sinais de crise instalaram-se. Por confiar nas suas capacidades e perceber que as opções estavam limitadas em Lisboa, onde preferiam apostar em estagiários e não na experiência, aproveitou um trabalho em Março de 2013 e seguiu a té Brno, de onde iria mudar-se para a capital. Faz fotografia “um pouco por toda a Europa”, trabalhando tanto para uma empresa (Flytographer) “com o objectivo de oferecer sessões fotográficas a quem queira ter fotos profissionais nos destinos de férias” como por conta própria. Tem um website para encomenda de serviços das sessões (www.lightfactory.pt) e, além disso, tem desenvolvido “uma área de venda de produtos com impressão de imagens” suas “em têxteis, feita segundo uma técnica de revelação fotográfica com materiais sensíveis à luz” – neste caso, o website é: www.lightfactoryshop.com”. Deste modo, com imagens de eléctricos, azulejos, calçadas, pormenores de Alfama, entre outros, promove a imagem de Portugal, o país que não lhe permitiu afirmar o seu potencial.

Para trás ficou a família, incluindo Inês, a filha de 23 anos que está a licenciar-se em Engenharia. Num local onde ter mais de 40 anos não é um fenómeno limitador no mercado de trabalho, em perfeito contraste com o que sucede em Portugal, “a mão-de-obra qualificada é muito apreciada, mas este não é um país muito empreendedor ou para enriquecer”. A preparar um livro de fotografia,reforça a mensagem: “Nunca é tarde para começar de novo.”

Em Coimbra, Margarida pretendia doutorar-se depois de trabalhar como técnica de laboratório antes e durante a licenciatura em Engenharia de Materiais. Mudou-se para Lisboa grávida e atrás do seu objectivo. Aluna de mérito, reforçou durante o doutoramento uma parceria com a Faculdade de Matemática e Física da Universidade de Carlos em Praga com o apoio da Fundação Ciência e Tecnologia. Quando a bolsa terminou, uma vaga abriu no Departamento de Análise de Estruturas do Instituto de Física, na capital checa, para trabalho por dois anos e meio. Bem acolhida, já foi convidada a ficar por mais cinco anos. Com presença fixa desde Junho de 2014, vem a Portugal de dois em dois meses, onde a filha de oito anos está ao cuidado do pai e de avós. O laboratório está em expansão, tem maquinaria nova e o discurso de Margarida é contagiante de entusiasmo. O ano tem sido “excepcional”, já recebeu dois prémios em conferências e tem uma dezena de publicações em revistas internacionais, Japão, EUA e Alemanha já a convidaram para trabalhar. Olhando para Portugal, comenta que se cansou de trabalhar com condições mínimas e, aos 37 anos, critica: “A vaga de saídas na Ciência, área não prioritária, é fruto da sucessiva má gestão governativa e aprofundada pela crise económica. Vai faltar a Portugal a geração mais qualificada em várias áreas, mas, de momento, nem muitos dos melhores têm espaço, pois o sistema científico não os absorve depois de os formar.”

Engenheiro de formação, a saída de Fábio para Praga foi motivada por Marketa, a namorada checa a quem conhecera em Praga no programa Erasmus. Começou por trabalhar na sua área, mais tarde criou no bairro de Vynhorad o café Oliveira que tem sido um sucesso, também apoiado no grupo do Facebook. Está a crescer rumo à distribuição com importação de produtos portugueses para venda onde muitos compatriotas se reúnem, tem loja online, promove provas de vinho português e serve como agente de empresa checa na importação de conservas. No café estão bem à vista produtos como vinhos, bacalhau, tremoços, azeite, queijos, enchidos, doces ou conservas.

Há quem tenha ido estudar e ficasse como João Duarte, responsável pela criação do “portugueses.cz” e do grupo no Facebook que tem aproximado compatriotas. Chegou em 2004 para fazer o doutoramento em Informática, conheceu a namorada dois anos depois, trabalhou como programador para a bolsa alemã, até chegar a uma empresa de recrutamento. Mais dois anos passaram e o próprio João, com apoio de um colega escocês, criou a Hagen, a sua firma de recrutamento. Entretanto casou-se, divorciou-se, e tem nova namorada checa e um cão de água português. Fez um MBA na área de empreendorismo, e entrou no mundo dos empreendedores da Internet e das ‘startups’, com um projecto online na área de recrutamento. O site “Techloop.io” será lançado em breve. Voltar? “Para já, não está nos planos.”

A incrível história de Inês e Jan
A Alemanha está logo ali. O Parque Natural da “Suíça checa” convida a respirar fundo num paraíso de verde, escarpas e ciclistas. A aldeia de Dobrná fica perto de Decín, a cerca de hora e meia de comboio de Praga. Antiga campeã de trampolins, Inês Oliveira, de 27 anos, veio do Porto em 2010 para estudar em Ústí nad Labem, a 25 km de Decín, e foi surpreendida. “Cheguei mais cedo e as poucas pessoas com quem me cruzei não falavam inglês.” Encontrou Jan, instrutor da arte marcial wing tsun e estudante de Educação Física (e, saberia mais tarde, professor de natação, condutor de autocarros, carpinteiro, entre outras) que, mesmo não falando inglês, lhe deu indicações para aparecer na aula seguinte. Aos poucos, o olhar e o modo como lhe explicou o ambiente natural aproximaram os dois – casaram-se em Julho de 2012.

Hoje, o pequeno Jan, de oito meses, dá os primeiros passos apoiado pelo pai, mas há um percurso cheio de obstáculos feito pelo casal. Viveram num apartamento alugado, mas um mês antes do casamento o dono precisou do espaço. Aventuraram-se a investir na recuperação de uma casa com mais de 100 anos e sofreram um choque após as férias em Agosto. “A casa estava cheia de humidade, a água iria congelar em Novembro, os canos rebentaram e ficámos com os meus sogros.” Acumulando trabalho e esforço, Inês, que passara por duas tromboses numa perna, sofreu um AVC a conduzir em Abril de 2013. Jan estava na Eslováquia em viagem de trabalho, mas Inês recebeu ajuda rápida. Passou uma semana no hospital e dois meses em casa. No novo trabalho em empresa de alumínios não evitou recaída após dois meses – uma semana internada e quatro meses em casa. Os danos, “perto do centro da linguagem no cérebro”, não deixaram sequelas graves, embora a mão direita ainda não segure sempre bem os objectos ou tenha agilidade para tocar guitarra como antes. Os desafios fizeram perceber a necessidade de mudança, Inês assim fez, voltou ao trabalho e está em licença de maternidade, “feliz e de óptima saúde”.

Depois de dar o almoço ao filho, entre uma garfada de goulash de veado e um pouco de cerveja, Jan segue a história e contribui quando questionado sobre a presença de estrangeiros na República Checa. “Gosto de ter muita gente à volta da mesa e só não perdoo uma traição. Os estrangeiros ajudam-nos a perceber melhor o Mundo e, por mim, são bem-vindos.” No terreno por trás da casa, há uma cerca com ovelhas, colmeias, nogueiras e castanheiros que o pai de Inês plantou. Entretanto, uma burra irá ajudar nos trabalhos pesados. Jan leva dois carinhosos cães castanhos a passear que correm e pulam de alegria, respira fundo e assinala dois bancos – um orientado para o nascer, outro para o pôr-do-sol. “Sento-me aqui e sinto-me poderoso. Somos jovens, devemos estar abertos à vida e este projecto é tudo para nós.”

Fátima viajou para Lille sozinha, passou por Medicina e saiu em 1978. Rumou à Alemanha como bolseira e licenciou-se em Pedagogia/Psicologia em Marburg. Omarido checo vivia exilado em solo alemão desde 72.Em 1992 foram para Brno, a 255 km de Praga. Leitora na Universidade, é admirada pelo trabalho no ensino. Radek Simik, que estudou no Porto, chama-lhe “a mãe de todos nós”. Todos os anos vai a Portugal, mas “Lisboa tem cada vez menos sinais de autenticidade”. Madalena e Joana, as filhas de 31 e 25 anos, estão na Alemanha (médica de oncologia) e em Praga (a doutorar-se em Biologia Molecular). Não esquecendo a ajuda, Portugal tornou-se paixão para Simik – tem a Fapex, loja online portuguesa de origem checa, colaborando com os estudantes do Departamento Português de Faculdade de Letras da Universidade de Masaryk no festival anual Dias Culturais dos PALOP.

Marília e Jayme, o marido luso-brasileiro, têm dois filhos: Gabriel, a caminho dos cinco anos, e a pequena Rita (nove meses). Até ficar desempregado, ele sempre trabalhou em tecnologia, Marília em lojas de Coimbra durante cinco anos. Com casa para pagar e tendo ambos ficado sem emprego, viram “em primeira mão quantas pessoas precisam de ajuda” até que Brno foi alternativa viável. Ele veio primeiro para a IBM, a mulher seguiu-o e acabou por entrar na empresa, mas ficou grávida um mês depois. Agora, Jayme está na AT&T e Marília criou uma página de sopas no Facebook.

Há cerca de dois anos que Nuno veio para Zlín pouco depois da namorada checa.

Trabalhara na PT, abriu uma firma de marketing e publicidade que foi afectada pela crise. Dominar inglês e castelhano abriu-lhe portas para ser gerente de exportação numa empresa de torniquetes. Abrir um restaurante de comida portuguesa é “ideia em estudo”, tal como lançar um livro sobre o tema. A Portugal só conta “voltar na idade da reforma”.

A embaixadora e o Instituto Camões

Manuela Franco entregou as credenciais no final de Maio e tornou-se embaixadora na capital checa, estando a dar os primeiros passos para contactos mais próximos da comunidade portuguesa. Classifica-a como “muito autónoma” e identifica dois grupos maioritários: “Um com pessoas que trabalham para empresas multinacionais ou checas, em muitos casos no ramo de IT; outro dedicado aos estudos com relevo para a Medicina e dividido por cidades como Pilsen, Praga ou Brno.”

Do lado da embaixada, a prioridade é “ir ao encontro dos portugueses, conhecer as suas aspirações e motivações”. Para já, tendo em conta o momento próximo de eleições, tem havido uma resposta “muito positiva à iniciativa de promover a possibilidade do voto antecipado “, no fundo também um modo de perceber quantos cidadãos de Portugal estão, de facto, a viver no país, pois o número de inscritos na embaixada – pouco mais de 600 – não é a realidade total. Apesar da “redução considerável” nos serviços pela crise financeira, Manuela Franco está em processo de relançamento das iniciativas da embaixada, pois “há muito interesse pela Cultura de Portugal, 700 estudantes checos de português no ensino superior, muitos fãs nos professores universitários e a vontade de o país ser observador na CPLP”.

Num contexto de “procura de áreas de colaboração para aprofundar ligações políticas, comerciais e económicas com um país de destino comum no espaço da União Europeia, há muito a fazer tendo em conta o histórico afastamento português face ao centro do continente”. Como a economia checa foi a que mais cresceu entre os 27 a seguir à alemã, numa demonstração de pujança após a crise, os 6,2% de desemprego e os 98% de população com formação avançada não impedem a necessidade de mão-de-obra qualificada conforme os portugueses têm comprovado por via do recrutamento. “Tem sido feito um esforço intenso de captação de investimento estrangeiro com forte presença europeia e asiática, incluído o Japão e e, por exemplo, a Coreia do Sul, que aplicou aqui quatro mil milhões de euros”. Os sectores portugueses mais fortes são a indústria automóvel e de moldes, havendo cerca de uma dúzia de empresas entre os checos. Estando o delegado do AICEP em Varsóvia, torna-se menos simples a acção abrangente, embora “a identificação de oportunidades em áreas não tradicionais” esteja em curso.

Quanto à hipótese de a crise migratória afectar a situação dos portugueses, a embaixadora rejeita essa ligação. “Essa crise muito grave não se coloca no mesmo plano”, defende. “Este país, e outros da região que sofreram ocupações por mais de 50 anos, além de apresentarem fronteiras mais expostas, têm historial muito próprio e precisam de harmonizar sensibilidades. O Governo checo faz isso, tenta reduzir o eurocepticismo e favorecer os sentimentos positivos quanto à pertença à UE.”

“A língua portuguesa é dinheiro e não está contabilizada.” Pode um ex-técnico-adjunto da administração tributária ter uma palavra a dizer se o idioma é o tema? Claro, quando é Joaquim Ramos, jurista de formação original em Coimbra e com 10 anos no Instituto Camões em Praga (incluindo bolsas e outros três colaboradores custa 30 mil euros/ano ao Estado) que passou de uma sala com 39 metros quadrados para as instalações actuais, em Malostranské namestí, com mais de 100 metros quadrados. “Estava muito desapontado com o trabalho nas Finanças, pois a nível superior central havia falta de oportunidades para fazer melhor.” Em 2005 concorreu a um lugar como professor convidado em Olomouc e Brno.

Um ano depois, por indicação da leitora em Praga, aceitou dar aulas também na capital e, concorrendo ao Instituto Camões para a Europa central, tornou-se leitor, tendo já feito investimento académico e na investigação – tem o curso de Pedagogia e mestrado em Português Língua Estrangeira com especialidade em Linguística jurídica e dá conferências sobre Cultura de Portugal em cidades como Sófia ou Cracóvia. Fala da República Checa como “um dos países com mais elevada taxa de leitura na Europa” e, por entre as duas/três traduções anuais de autores portugueses feitas pela instituição, a do “Auto da Barca do Inferno esgotou em menos de um ano”. Têm feito também uma aposta nas indústrias criativas.

Para ampliar os escassos recursos do orçamento é definido um plano com 10 iniciativas anuais, submetido à aprovação de Lisboa e que tem encargos mais baixos para o Estado face às parcerias procuradas pela equipa do Instituto que é “uma segunda família”. Dos contactos com os portugueses vê “mágoa e orfandade” face à origem, reconhece ser precisa “dimensão mental e resistência para sair do País” e não esquece o que lhe disse um ex-combatente em Angola: ‘Não sei quem foi mais corajoso – eu ao sair de arma em punho para o mato ou quem emigrou para França nos anos 60.’ Sobre a avaliação genérica feita aos checos como povo nos antípodas do carácter caloroso dos portugueses, Joaquim Ramos compreende a análise, embora sublinhe: “Quando se entra no seu círculo de confiança tudo se altera e, se perceberem um esforço de aprendizagem do idioma, então passamos a ser de casa.

Demorei quase três anos até ao entendimento que tenho da língua.”

Sofia Moreira, Ana Neiva e Ricardo Esteves , de 25, 24 e 22 anos, estão sentados na sala de espera da embaixada portuguesa à espera da embaixadora: todos do Porto, são os estagiários seleccionados através do concurso que o Ministério dos Negócios Estrangeiros criou para cerca de 100 no Mundo inteiro. A primeira é licenciada em Direito e ficará um ano, a área de estágio é “política comercial” e este um modo de ter “a primeira grande experiência profissional, bem como de fazer contactos para carreira mais a sério” sem ficar de parte especialização em Gestão; os outros são da Faculdade de Economia e ficam quatro meses. Ricardo conclui o mestrado em Finanças, Ana faz o mesmo com o de “Business and Economics”, nos dois casos pela Universidade Católica. Querem seguir Gestão, embora Ricardo lembre que a porta de Relações Internacionais fica aberta e Ana confesse o gosto por macro e micro economia.

Contam um pouco da sua história e são os mais recentes portugueses que contam na República Checa.

Fonte: Económico

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