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Francisco José Viegas: em Portugal há racismo anti-chinês

O antigo secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas diz-se preocupado com o crescente preconceito em relação à comunidade chinesa em Portugal, uma reação que considera semelhante à manifestada contra brasileiros e, antes disso, contra retornados das ex-colónias.

Francisco José Viegas, que está em Macau para participar na quarta edição do festival Rota das Letras, afirma que há, em Portugal, “ignorância e preconceito contra a China” e “um racismo anti-chinês”.

“No outro dia assisti a uma cena numa loja chinesa em Évora. Estava de passagem e vi a maneira como as pessoas tratavam o empregado, fiquei absolutamente chocado. Apeteceu-me entrar e insultar a pessoa”, recorda, em entrevista à agência Lusa.

O escritor relaciona esta reação com o preconceito mostrado, no passado, contra os trabalhadores brasileiros e, antes disso, contra as pessoas que regressaram das antigas colónias.

“Há 15 anos tínhamos uma emigração brasileira impressionante e os brasileiros mudaram Portugal, como os retornados tinham mudado na década de 1970”, defende.

Foram estes retornados que puseram “o interior a mexer”, “criaram negócios” e impulsionaram o país “a viver de outra maneira”. Se não fosse essa sua influência “Portugal hoje andava de xaile preto na cabeça, eles mudaram muita coisa”, afirma

Foi, aliás, graças à sua presença que Viegas diz ter visto o seu “primeiro umbigo” feminino. “Foi numa aula de Latim, era a Leonor que tinha vindo da Beira e vestia-se como uma africana. Era o primeiro umbigo que nós víamos, foi nos anos 1970”, recorda.

“Acho que esse pequeno racismo português se manifesta agora contra os chineses”, diz.

A esse preconceito para com “os chineses humildes que abrem a sua loja” junta-se uma reação contra “o grande poder das empresas chinesas”, que Viegas considera incongruente: “Eles compram porque está à venda, nós fomos incapazes de criar riqueza com aquilo. Esta reação é muito portuguesa, tem que ver com a incapacidade de compreender o outro”.

Numa entrevista em que não quis falar sobre a governação portuguesa, dizendo que preferia “afastar-se” do tema, Francisco José Viegas lamentou o “interesse mínimo” do público português em relação às produções culturais da China, como a literatura.

Grande apreciador do escritor de literatura de espionagem chinês Mai Jia, o autor admitiu que “há poucas coisas traduzidas mas pelas que existem também há pouco interesse”.

“A China está a despertar e nós não estamos preparados”, disse, numa alusão à frase de Napoleão Bonaparte “Quando a China despertar, o mundo tremerá”.

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