De que está à procura ?

Colunistas

“Eu vou lá estar”, diz uma jovem emigrante à ministra das Finanças

No dia 5 de Maio de 2015 (as eleições legislativas gerais britânicas foram a 7 de Maio)  a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, foi a Londres fazer uma palestra sobre o êxito do programa de austeridade em Portugal. Ou seja, foi dar uma mãozinha à campanha eleitoral dos Tories, contribuindo do lado da Europa do Sul para o discurso endoutrinador que governos conservadores neoliberais europeus – aliados da City e dos mercados que faliram e se recapitalizaram- andam a propagar aos cidadãos, ajudados pelos barões dos mídia: “os outros andaram a gastar muito no passado, tivemos nós de fazer a austeridade para voltarmos aos eixos e ao crescimento”.

Foi este discurso simplista e fora da realidade que ganhou as eleições no Reino Unido, quando a realidade mostra todo o contrário: os governos conservadores neoliberais da austeridade andam a empobrecer os estados e as populações para transferir os dinheiros públicos para os donos do mundo. As eleições britânicas não são verdadeiramente democráticas : dos 46 milhões de eleitores do Reino Unido só 100 mil votam. O sistema eleitoral britânico, profundamente aristocrático, não permite nunca a partilha do poder com forças políticas mais pequenas e progressistas, antes perpetua a dominação dos dois grandes partidos.  Para melhores explicações leiam-se os excelentes artigos de Shaun Lawson, publicado em “www.opendemocracy.net

Voltemos à propaganda de Maria Luís Albuquerque. A sua intervenção na London School of Economics suscitou a reacção in loco de Liliana, jovem cidadã emigrante obrigada a sair de Portugal devido ao tratamento de choque da troika-governo de Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque.

Felizmente há sempre alguém que resiste à mentira e à ilusão, há sempre alguém que diz não. Há sempre algum Astérix. Neste caso, uma Astérix portuguesa.

A cidadã emigrante Liliana lembrou à Ministra que a “Austeridade”  é um fracasso económico, um fracasso de cidadania, um fracasso democrático e de gestão de um Estado. A “Austeridade”  só beneficia aquele 1% ou menos da sociedade : os grandes patrões, o capital financeiro, aqueles que podem fugir ao fisco, os corruptos.

A afirmação da Liliana à ministra tornou-se um soundbyte: “Sim,eu vou lá estar“. Por extenso: “eu vou lá estar em Outubro, nas eleições, para garantir que a senhora ministra não seja eleita”

O grupo local de entreajuda Migrantes Unidos fez um poster com esta frase e está a divulgá-lo para alertar os cidadãos portugueses emigrantes que devem ir fazer o seu recenseamento eleitoral, antes que seja tarde demais.

“Eu vou lá estar!”. É o que fazem alguns. Aqueles que podem e aqueles mais activistas civicamente que se sentem impelidos por uma obrigação patriótica. Mas…e  todos os que não podem viajar até Portugal para lá estar nas eleições?

E era preciso, na era do e-governo, dos serviços públicos em linha, fazer uma viagem a Portugal para garantir o voto? Não podíamos ter o voto electrónico, se já não temos os consulados necessários perto de nós? Que atraso de vida…

Não temos voto electrónico, os consulados portugueses escasseiam em toda a Europa e em todo o Mundo. O pouco pessoal consular, em cada posto, não tem capacidade de atendimento a tanto emigrante. O tempo de espera é por vezes de duas e mais horas. Temos de fazer marcação por telefone para ir resolver qualquer coisa ao consulado. Temos de tirar um dia de trabalho.

Os terminais do consulado virtual nunca foram ligados! Jazem nos cantos das associações portuguesas…

Tudo dificulta o recenseamento eleitoral e o voto do cidadão português emigrante… ora o voto é a nossa maior arma de cidadania!

Vejam esta atrocidade: o recenseamento eleitoral não é automático para o cidadão emigrante, como é para o cidadão residente. Ao emigrar o cidadão português perde a sua capacidade de eleitor e só a pode readquirir através de um processo voluntário e burocrático, que exige tempo e deslocações ao consulado ou então infoinclusão, muito à vontade com a internet e os sites.

Mas que ofensa é esta que nos fazem? Não somos nós portugueses como os outros? Não pagamos impostos e não enviamos remessas?

E por que razão os nossos círculos eleitorais da emigração em todo o mundo só podem eleger quatro deputados? Que representatividade na Assembleia da República podemos nós ter com quatro deputados? Que atestado de minoridade e de cidadania de segunda classe nos passa a Lei Eleitoral?  Parece do tempo da outra senhora…

Os cinco milhões de emigrantes portugueses têm direito a seis deputados ou mesmo oito deputados na Assembleia da República. Deputados em número suficiente para constituírem massa crítica e para poderem representar condignamente este vasto círculo eleitoral.

Que a representatividade política dos emigrantes portugueses não seja uma expressão residual e inaudível na Casa da Democracia. Que sejamos incluídos na participação democrática!

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA