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Descomplicar a UE: açoriana quer contagiar adultos, sensibilizando crianças

© Cláudia Martins

“Só se ama aquilo que se conhece”. A frase é de Santo Agostinho mas encaixa-se perfeitamente no projeto “A UE começa aqui:♥”, da autoria de Cláudia Martins, especialista em relações internacionais com mais de cinco anos de experiência no Parlamento Europeu.

O objetivo é descomplicar a União Europeia (UE) e conseguir, através da visão simplificada e da espontaneidade das crianças, contagiar os adultos e disseminar informação sobre o Projeto Europeu, tornando-as verdadeiras embaixadoras da UE nos Açores. O BOM DIA conversou com Cláudia Martins e agora conta-lhe a história e todos os detalhes sobre este projeto.

A semente

Esta iniciativa apartidária e sem fins lucrativos teve como “rascunho experimental” uma pequena campanha individual nas redes sociais de promoção da UE. “Aquando das eleições europeias, decidi fazer diferentes publicações online com a finalidade de destacar, de forma simples, conquistas europeias com impacto nas nossas vidas, mas não tive sucesso: as pessoas quase não reagiam. Pode-se dizer que, a partir daí, começou a desenhar-se este projeto”, explica a autora.

A constante necessidade de informar e despertar a população dos Açores para os valores que estão na base da construção europeia e o cenário preocupante pós-eleições europeias – em que mais de 80% dos açorianos não foram votar – foram o empurrão final para a criação do “A UE começa aqui:♥”.

“O afastamento deve-se a um profundo desconhecimento da população sobre a UE: se por um lado as pessoas não querem saber (o que é incompreensível, tendo em consideração todo o investimento, impulsionado por fundos comunitários, em projetos e infraestruturas que melhoraram visivelmente as nossas vidas numa Região Ultraperiférica como os Açores), por outro, a informação que nos chega diariamente sobre a UE é demasiado complexa, ou negativa, considerando-se todos os problemas que atravessa (de que é exemplo o Brexit) – tudo isto causa um natural desinteresse da população”, acrescenta.

O nome/slogan “A UE começa aqui:♥” conta com o pormenor do emoji do coração “porque a ideia sempre foi a de passar a mensagem de que o Projeto Europeu começa exatamente em cada um de nós, nos valores que partilhamos e no modelo de vida que adotamos. A UE é muito mais do que coesão territorial. A UE “começa” também neste tipo de projetos”, defende a terceirense.

Cláudia Martins

Da teoria à prática

A ‘experiência piloto’ decorreu no jardim de infância ‘O Carrocel’, em Angra do Heroísmo com um grupo de crianças de 5 anos. Todos foram parte ativa de 6 sessões onde foram expostos os seguintes temas: “O que é a União Europeia?”, os seus estado membros, a bandeira e o hino, o lema “Unidos na Diversidade”, a moeda única (o Euro) e as línguas oficiais da UE. Cada sessão dividiu-se em 3 fases: diagnóstico através de debate, intervenção adequada aos conhecimentos e criação de conteúdos para divulgação e multiplicação de informação.

Em todas as sessões houve uma votação inicial: as crianças votam naquela que será eleita a ‘assistente do dia’. “É uma forma de as fazer perceber que votar é um direito de todos nós e é base de um sistema democrático. Tal como na ‘vida real’, também aqui, o voto é secreto e o resultado final deve ser respeitado por todos”, esclarece Cláudia Martins.

“Na prática, após um momento informativo inicial, as crianças são expostas a uma atividade lúdica estimulante (e a materiais didáticos exclusivos) que as ajudam a rever/assimilar os conceitos apresentados. O divertimento torna tudo mais fácil e atrativo para os mais pequenos”, acrescenta.

Crianças: diversão garantida

Esta é a primeira vez que Cláudia Martins trabalha num projeto com crianças e, segundo ela, em todas as sessões, aconteceram coisas engraçadas: “O trabalho com crianças é bastante imprevisível, a qualquer momento há uma pergunta ou uma afirmação inesperada. Portanto, a melhor solução é estar sempre com a máquina de filmar.” As sessões são gravadas na totalidade, com recurso a uma câmera estática e a uma câmera GoPro que fica à responsabilidade da criança eleita na atividade de voto inicial.

“Ao enumerarem os países da UE falavam da Disney em vez da França; disseram-me que uma nota de 10 euros dá para comprar um carro de rally; chamaram-me de “senhora da União Europeia”, etc.. Porém, o que mais me marcou foram os depoimentos individuais de crianças que nas dinâmicas de grupo estiveram sempre mais reservadas. Fiquei impressionada com a quantidade de informação que absorveram, sem eu dar conta nas sessões”, refere orgulhosa.

Tourolindo

O Europas

A mascote do projeto é da autoria de José Garcia da ‘Tourolindo’: “Quando falei com ele pela primeira vez, nem tinha pensado numa mascote. Da troca de ideias, surgiu este boneco simpático, que é um agricultor/pescador Açoriano (tendo em consideração que são atividades de destaque nas nossas ilhas) que vai estando em contacto com os monumentos dos vários países”.

“Desafiei estas crianças a escolherem um nome para ele e surgiram ideias como José, Manuel das Couves, o Europeu, etc. Acabou por ser batizado de ‘O Europas’ e tem as cores da bandeira da UE, além de carregar as doze estrelas nas suas jardineiras”, explica Cláudia Martins.

Feedback

“Apesar de serem muito curiosos e de tudo ser ‘uma festa’, é através de conteúdos que lhes são próximos que os mais pequenos absorvem informação. A título de exemplo, quando trabalhámos os países, falámos numa Alemanha que é conhecida pelos seus mercadinhos de Natal, na Bélgica por ser a terra do chocolate, dos Smurfs e do Tintim, na França associada aos bonecos da Disney. Nesta fase piloto, as reações deles foram muito importantes para se perceber quais são as dinâmicas que fazem ou não sentido. Mas, no geral, foram muito recetivos a todas e estou satisfeita com o feedback”, conta a responsável pelo projeto.

O sucesso do “A UE começa aqui:♥” depende sim, das crianças mas, sobretudo, da ponte que estas estabelecem com os adultos ao seu redor (educadores, encarregados de educação, familiares, etc.). “Estou muito surpreendida e satisfeita com os resultados obtidos e posso acrescentar que tenho recebido apoio e elogios por parte dos pais, educadoras e professores (muitas vezes acompanhados de pedidos para levar o projeto a outros jardins de infância e escolas)”, acrescenta.

Cláudia Martins

O Futuro

Cláudia Martins não esconde que este projeto traz inúmeros sonhos consigo: “o ideal seria levar esta iniciativa às nove ilhas dos Açores, multiplicá-la em jardins de infância e consequentemente no seio familiar das crianças; gostaria de assinalar o dia 9 de maio (Dia da Europa) com todas estas crianças numa marcha pela UE; trazer para a Região o prémio Altiero Spinelli como reconhecimento de todo este trabalho; e tantos outros sonhos… quem sabe, até contribuir para a redução da taxa de abstenção nas próximas europeias”. Para concretizar estes sonhos, a autora desta iniciativa está disponível para parcerias que possam reforçar o poder de impacto e o alcance desta iniciativa.

Perfil da autora

Cláudia Martins nasceu na ilha Terceira (Açores) e é especialista em relações internacionais, formada pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, com especialização na mesma área pela Universidade dos Açores. Trabalhou durante mais de cinco anos no Parlamento Europeu (como assessora parlamentar, no gabinete de uma Eurodeputada Açoriana, para as áreas do emprego e assuntos sociais).

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