Descoberta científica de português pode ajudar o sistema imunitário
O imunologista Nuno Alves descobriu uma proteína responsável por células fundamentais na resposta a infeções. O processo pode abrir possibilidades sobre futuras terapias para regular a produção dessas células e reabilitar fortemente o sistema imunitário de idosos ou doentes imunocomprometidos.
As células T são importantes para o organismo, dada a resposta a ameaças externas, como vírus ou bactérias; ou internas, como tumores. A pandemia demonstrou a importância das células T, já que a Sars-Cov-2 ataca mais fortemente os idosos ou doentes imunocomprometidos.
Uma equipa do Porto, liderada por Nuno Alves, do i3S, descobriu a proteína LAMP2, como refere o Diário de Notícias. A proteína é responsável por desenvolver as células T, e assim regular a resposta imunológica.
Nuno Alves assume a importância que a descoberta da sua equipa pode vir a ter. “O timo é um órgão fundamental na nossa resposta imunológica, porque é o único local do organismo onde são produzidas as células T. Tem essa função exclusiva. E sem essas células T, a nossa resposta imune fica comprometida”, começa por explicar o cientista.
“É como um exército com diferentes batalhões específicos, cada qual equipado para reconhecer especificamente determinados corpos estranhos. Ou seja, cada conjunto de células T tem um recetor exclusivo para um determinado agente invasor. Agora, com o SARS-CoV-2, a grande maioria das pessoas conseguiu responder à ameaça porque tem um conjunto de células que tem um recetor para as proteínas específicas deste vírus. A resposta das células T é altamente específica. E o importante é gerar esse espectro de diversidade, na ordem dos biliões de células com missões diferentes, no nosso sistema imunitário”, esclarece o cientista ao jornal.
O que Nuno Alves descobriu foi que a ausência da proteína LAMP2 no timo diminui a resposta imune, dada a não-produção de células T. “É uma proteína cuja função no timo não se conhecia e que nós conseguimos identificar”, refere o cientista, explicando que o desenvolvimento das células T “depende do microambiente específico e exclusivo fornecido pelo timo, e que é arquitetado e proporcionado pelas chamadas células epiteliais tímicas (TECs). Se estas células epiteliais não existirem, o timo não consegue produzir e desenvolver as células T”.
Esta descoberta foi publicada na revista Autophagy. Abre portas à exploração de terapias dirigidas à LAMP2 para restaurar a função tímica em indivíduos com problemas de imunidade causados por deficiência das células T, como é o caso dos idosos ou doentes autoimunes. “A nossa resposta imune vai sendo moldada ao longo dos anos por diversos motivos, como a resposta às diferentes infeções com que vamos sendo confrontados e a redução da função tímica. O timo é um dos primeiros órgãos a envelhecer no nosso organismo. Na adolescência a massa tímica é já substancialmente reduzida em relação aos primeiros anos de vida. Por isso, os idosos têm dificuldade em responder a vacinas ou infeções, porque a diversidade celular já está comprometida nessa altura”, salienta.
O caminho pela frente passa por “tentar perceber se a função da LAMP2 diminui com a idade e se esse declínio contribui para a perda de diversidade das células T. Se isso se comprovar, teremos uma oportunidade única para tentar restaurar terapeuticamente a função da LAMP2, e desta forma conseguirmos rejuvenescer a resposta imunológica de grupos de risco, como os indivíduos mais idosos ou pacientes imunocomprometidos, a novas infeções, cancro ou vacinas”, como conclui.
Nuno Alves é investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde i3S, no Porto.
#portugalpositivo