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Quinta-feira volta “Portugal Amordaçado”

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A Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM) vai lançar na quinta-feira o primeiro volume da coleção “Obras de Mário Soares”, que contém a reedição do livro “Portugal Amordaçado”, considerado um dos mais importantes da literatura política contemporânea.

Na Fundação Calouste Gulbenkian, na quinta-feira – dia em que Mário Soares completaria 99 anos -, a sessão de lançamento contará com intervenções do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, de um dos filhos do antigo chefe de Estado, João ou Isabel Soares, e do coordenador da coleção, o escritor José Manuel dos Santos, além da presença do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

O volume 0 da coleção “Obras de Mário Soares” foi lançado em dezembro do ano passado, tendo sido dedicado ao ensaio que o fundador e primeiro líder do PS escreveu sobre “As Ideias Políticas e Sociais” de Teófilo Braga.

Agora, este primeiro volume da coleção terá dois tomos, o primeiro com a publicação da versão francesa do “Portugal Amordaçado”, de abril de 1972, e da edição portuguesa, de outubro de 1974.

 José Manuel dos Santos assinala que a versão francesa, “por desejo do editor da prestigiada Calmann-Lévy, Alain Oulman, e com desgosto expresso e mesmo expressivo do autor, reduziu significativamente a dimensão do livro”.

“Apenas depois do 25 de Abril, com a edição portuguesa, a obra foi dada a conhecer na íntegra”, salienta.

De acordo com José Manuel dos Santos, que foi assessor do antigo Presidente da República entre 1986 e 1996, “a atual edição dupla é paracrítica, profusamente anotada e com exaustiva e profunda contextualização histórica, política e biográfica”.

“Para isso, é acompanhada por um notável ensaio, escrito para ela por Fernando Rosas, em que o conceituado historiador lê a obra a partir do seu contexto originário, analisando o alcance político e o relevo histórico que ela teve, quer na biografia do autor, quer na ação da oposição democrática, quer no advento da democracia”, sustenta.

Ainda neste primeiro tomo é incluída uma história do livro, elaborada, com novos dados documentais, pelos investigadores deste projeto editorial, os historiadores Pedro Marques Gomes e Teresa Clímaco Leitão”.

No tomo II, reúnem-se os prefácios às edições portuguesas e estrangeiras do “Portugal Amordaçado”, sendo divulgada correspondência inédita que a publicação do livro suscitou, acompanhada de um dicionário de figuras, instituições e acontecimentos mencionados no livro.

Na apresentação editorial, José Manuel dos Santos defende que Mário Soares, no “Portugal Amordaçado”, demonstra uma recusa do fatalismo de um país que se julgava condenado a não sair da cepa torta, impotente que para contrariar a opressão, a estagnação e o declínio”.

“Soares sabia que esta ideia negativa de Portugal, mesmo quando disfarçada pela hiperbolização glorificadora da sua história distante, e esta predisposição de menorização dos portugueses eram o grande argumento, visível ou oculto, que estava no centro da construção doutrinária e da prática política de Oliveira Salazar e de Marcello Caetano. Por isso, o anti-salazarismo de Soares, antes de ser intelectual, moral e político, era físico, visceral, instintivo”, advoga José Manuel dos Santos.

Em suma, para este escritor, o Portugal Amordaçado é um livro que se caracteriza “por um grande otimismo antropológico” e por “uma enorme confiança nas qualidades nacionais”.

“O Portugal Amordaçado é uma grande obra da literatura política contemporânea. Neste seu livro dos livros, Mário Soares mostra uma agilidade literária, uma exigência moral, uma lucidez ideológica, uma vontade incessante e uma vitalidade política que o futuro viria a confirmar e engrandecer”, acrescenta.

Já Fernando Rosas, autor do prefácio, realça que o livro “é produto dos sucessivos e forçados exílios a que o regime estado-novista sujeita o seu autor”.

“A história da oposição que Mário Soares nos propõe no Portugal Amordaçado não é obviamente neutra ou objetiva, no sentido em que não paira pretensamente assética e pura acima dos conflitos do seu tempo. Nem isso existe em História”, vinca o professor universitário.

Para o historiador e fundador do Bloco de Esquerda, este livro surge numa conjuntura em que “o tempo político corria célere em Portugal e também na Europa da primeira metade dos anos 70”.

“Mário Soares pressentia-o, mesmo que não pudesse prever a brevidade do desfecho do drama nacional. Por isso mesmo, recusaria as pressões de amigos e inimigos para adiar a publicação do livro. Por isso a pressa de o concluir e editar também em português. Os socialistas tinham de estar preparados para a tal hora da verdade que se adivinhava. Escrito com urgência à beira do fim e do princípio, o Portugal Amordaçado iria tornar-se o prefácio ao Portugal democrático por que se batera o seu autor”, conclui.

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