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J. M. Nobre Correia: média, informação e democracia

O que o motivou a reunir, agora, estes textos que estavam dispersos e foram escritos ao longo de mais de 20 anos?

A primeira razão é porque, enquanto fui professor universitário no ativo, com uma média anual de uns 900 alunos nas cinco cadeiras de que era titular, não dispus verdadeiramente de tempo para traduzir estes textos quase sempre escritos na origem em francês! E agora que disponho desse tempo, achei por bem propor aos leitores portugueses uma visão panorâmica da evolução tecnológica, económica e sociológica dos média na Europa, e do que isso implicou como mutação do jornalismo e das formas de tratamento da informação. Com as consequências que tal mutação tem no funcionamento da sociedade democrática.

Depois de reler e de rever os textos, quais as principais ideias que este livro apresenta aos seus leitores?

A partir dos anos 1960-70 assistimos a uma proliferação de média (muito particularmente em imprensa magazine, em rádio e em televisão) que se acentuou de maneira inimaginável com a digitalização das imagens e dos sons e com o aparecimento da internet nos anos 1990. Só que esta proliferação, que parecia anunciar um pluralismo nunca visto, veio redundar numa grande fragilização dos média e provocar uma enorme concentração da sua propriedade, assim como um largo empobrecimento da informação jornalística, no sentido forte do termo. Com a multiplicação das derrapagens e das instrumentalizações a que assistimos nestes últimos anos e que têm tomado por vezes dimensões preocupantes no que diz respeito ao futuro das nossas democracias…

Uma tendência habitual é procurarmos sempre as mudanças ocorridas na realidade. Mas, neste caso, perguntamos: no mundo dos media que tão bem conhece, o que persiste?

Há três clivagens que atravessam a história dos média de informação. A primeira é a que, na Europa Ocidental, separa claramente o mundo de cultura protestante daquele de cultura católica, sendo atualmente a taxa de penetração dos jornais nos países do Norte 8 a 9 superior à dos países do Sul (o mais pobre sendo precisamente Portugal). A segunda é que nos países de tradição protestante, os jornais são concebidos de maneira claramente “diferencialista” em função dos públicos-alvo a que se destinam, esta distinção da forma como do conteúdo sendo menos evidente no mundo católico. A terceira é a que consiste no facto que, desde o aparecimento da imprensa periódica em fins do século XVI-começo do XVII e de maneira mais evidente ainda desde a industrialização da imprensa no século XIX, a informação de qualidade nos planos fatual, interpretativo e analítico destina-se a um público com elevado poder de compra. A produção desta informação de qualidade, de referência, tem custos elevados, mas os meios dirigentes precisam dela e, desde logo, há sempre quem esteja disposto a pagar caro para ter acesso a ela, porque lhes é indispensável…
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J.-M. Nobre-Correia
Média, Informação e Democracia
Almedina 22,90€

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