Goa: Fundação Oriente ajuda a restaurar capela de Nossa Senhora do Monte
A Fundação Oriente juntou-se ao Governo de Goa para restaurar, naquele estado indiano, a capela da Nossa Senhora do Monte, construída no século XVI pelos portugueses, e que implica “um investimento avultadíssimo”, disse à Lusa o organismo.
“Este ano vamos fazer um forte investimento novamente na recuperação da capela, juntamente com o Governo local”, apontou o delegado da Fundação Oriente (FO) em Goa, Paulo Gomes.
A história da FO em Goa, que celebra este ano o 28.º aniversário da delegação na região, não pode ser contada sem mencionar a Capela de Nossa Senhora do Monte. Além de ter sido responsável, em 2001, pela recuperação integral da estrutura religiosa, o organismo português lançou naquele espaço, no ano seguinte, o festival de Música do Monte, “um dos cartazes culturais ou musicais mais importantes de Goa”, que já completou 21 edições de sons indianos e internacionais.
“Os períodos das monções aqui são bastante significativos para determinado património. As monções acontecem desde junho até setembro, quando chove ininterruptamente, e estes edifícios mais antigos carecem de uma manutenção diária”, disse Paulo Gomes, referindo que, ao longo das duas últimas décadas, o trabalho “para evitar que a capela chegasse a este estado não foi feito”.
Com a responsabilidade da intervenção no interior do edifício, a fundação trouxe a Goa, no ano passado, dois restauradores-conservadores portugueses. “É um investimento avultadíssimo, e o nosso compromisso é colaborar na recuperação do interior da capela que também é um investimento avultado, desde murais, eletrificação, desde os altares”, explicou o responsável, estimando que até ao final do ano, “a capela possa estar operacional”.
Questionado sobre o valor do investimento da Fundação Oriente neste projeto, o delegado preferiu não responder. A Lusa também entrou em contacto com o departamento de Arqueologia do Governo de Goa, mas até ao momento não recebeu qualquer resposta.
A recuperação do património é, segundo Paulo Gomes, “uma das apostas da Fundação Oriente” no estado indiano de Goa. Mas o apoio, assume o responsável, vai além da tradição portuguesa: “Estamos sempre disponíveis, quer seja património cristão, quer seja património hindu, para receber propostas e analisar dentro daquilo que são as nossas possibilidades”, salientou.
No que diz respeito à intenção, recentemente noticiada pela Lusa, de deitar abaixo a Capela de Nossa Senhora das Angústias, em Damão, Paulo Gomes disse não estar na posse “dos elementos necessários” para falar sobre o caso, declarando, no entanto, que “ainda não existem certezas sobre a sua demolição”.
A comunidade católica damanense está a tentar impedir a demolição do edifício religioso com mais de 400 anos, que o administrador provincial, Praful Kodhabai Pratel, membro do Bharatiya Janata Party (BJP, Partido do Povo Indiano, nacionalista conservador hindu, no poder desde 2014), quer transformar num campo de futebol.
“Estamos a preparar-nos para a eventualidade de levarmos o caso até à decisão do Supremo Tribunal em Bombaim”, disse à Lusa o padre Brian Rodrigues, que presta os serviços religiosos naquele lugar de culto ainda ativo.
Ainda no que diz respeito ao património, a FO em Goa recebeu, em fevereiro, o 7.º Colóquio Internacional Casas Senhoriais, um projeto com mais de duas décadas que até recentemente se debruçava sobre o estudo deste tipo de mansões em Portugal e no Brasil. Um “espaço de reflexão” que chegou este ano, pela primeira vez, à Índia.
“Um seminário muito bonito e com cerca de 20 investigadores, arquitetos, quer do Brasil, quer de Portugal, aos quais se juntaram arquitetos de referência de Goa”, explicou o representante da FO, notando que a própria sede do organismo em Goa é uma casa senhorial, adquirida em 1993, e que foi alvo, no início do ano, de obras de manutenção “também avultadas” na galeria de arte.
Em 2004, foi doada à FO parte da coleção de trabalhos de António Xavier Trindade (1870-1935), “pintor maior da Índia”, nascido em Goa e de origem portuguesa. Dessa herança artística, mais de três dezenas de obras estiveram expostas, entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Nova Deli.
“Foi uma das ações em que levámos também Goa, a Fundação Oriente e Portugal à capital”, disse, explicando que “a Índia, já no próximo mês, vai tornar-se no país mais populoso do mundo”, pelo que “as distâncias são enormes e nem sempre é fácil desenvolver atividades fora de Goa”.