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Bandeira e logótipo: mau gosto ou má fé?

© Raúl Reis / BOM DIA

Há exatamente oito anos entrevistei no Luxemburgo o designer Eduardo Aires que tinha viajado então até ao grão-ducado para participar numa conferência internacional de design e para ver o resultado do seu trabalho no Centro Cultural Português, que ajudou a (re)criar.

Esta semana reparei que a velha entrevista estava, de repente, entre as notícias mais lidas no jornal BOM DIA. Estranhei que um artigo de dezembro de 2015 saltasse para o top das notícias mais populares e, por isso, fui passear pelo Google para ver o que se passava…

Descobri que a notícia, intitulada “Eduardo Aires: não me revejo na bandeira portuguesa” estava a ser partilhada no contexto da polémica que surgiu à volta da imagem visual lançada há alguns meses pelo governo português, mas que só na última semana de novembro se tornou assunto extremamente polémico.

Eduardo Aires liderou o projeto de criação de um “símbolo novo e distinto, representativo do Governo da República Portuguesa” (e aqui estou a citar a carta gráfica definida pelo designer). Prudente – como ele já o tinha sido na entrevista que me deu em 2015 (veja vídeo abaixo) – o documento destaca que “o que se propõe não constitui o redesenho da bandeira (…) consagrada na Constituição”.

Está tudo claro: o governo não pretendeu substituir a bandeira, como querem fazer crer muitos críticos da iniciativa. Apesar de concordar muitas vezes com as opiniões dos autores de algumas dessas reações, devo dizer que não subscrevo minimamente o alvoroço à volta deste assunto.

O logótipo é moderno, era urgente porque substituiu outro velhinho de muitos anos (veja abaixo), e desempenha uma função simples que é a de conceder uma imagem nova a documentos, e-mails e outros suportes comunicacionais do governo português.

Acreditar que este logótipo é um “apoucamento quase criminoso” da bandeira portuguesa ou é má fé ou é mau gosto.

Na entrevista de 2015, Aires dizia que a bandeira de Portugal podia ser repensada pois é “a ponta do icebergue de uma imagem de um Portugal diferente”. O designer acrescentou que “a questão pode ferir suscetibilidades, as pessoas podem ficar feridas no seu orgulho patriótico”, mas sublinhou que não se trata de gostar mais ou menos de Portugal. Infelizmente, o governo explicou a necessidade imperiosa de criar um logótipo moderno e adaptado aos meios digitais, mas não teve a sensibilidade do criador do logótipo e integrou uma vertente ideológica, ao dizer que o símbolo é mais “inclusivo, plural e laico”, deitando assim gasolina na fogueira.

Pessoalmente, ao sair uma noite da Web Summit vi, pela primeira vez, o novo logótipo em grande formato, no largo da Altice Arena. Gostei tanto que o fotografei e o coloquei como imagem de capa no meu Facebook (veja a foto no topo deste texto). Mas acreditem que, ao contrário de Eduardo Aires, continuo a adorar a minha bandeira, apesar de concordar com ele e preferir evitar pensar na simbologia, da mesma forma como tento nunca ouvir o verdadeiro sentido da letra quando canto o hino nacional.

Raúl Reis

PS – Veja aqui a entrevista de Eduardo Aires de 2015:

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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