De quando eu morrer, já falei.
Quando eu morrer não quero por força ir de burro quadrúpede.
Quando eu morrer quero estar a morrer e a escrever.
O meu último facto, seja a opinião a morrer comigo. Tenho dito
Imensas vezes.
E a minha opinião há-de ser indefectível que não quero morrer.
Mas quando ela vier, também quero estar a escrever.
Emparelhar a maior, maior rigorosamente, parte da vida que o venho fazendo.
E no instante derradeiro, quero ter a mão dela,
A sua mão, na minha.
A sua mão, não por ser figura reverente
Mas para mostrar que é figura da classe. Que é figura
De trato por tu, mas enganar que é de você, para enganar.
Depois de cada e cada um familiar me depositar um, dois ou vários beijos
No corpo, enquanto tiver tempo e o derradeiro dos derradeiros instantes chegar
Eu quero a sua mão
Ainda que não de mão-beijada.
Aí, ainda antes de dar o último suspiro, quero aquiescer aquela
Mão e ser aquiescido em simultâneo.
E o primeiro que deixar de apertar
Será aquele que perdeu.
Será aquele que nada deu pelo enledo.
Mário Adão Magalhães 016/04/18 04, 39h