Eu já escrevi que sou um sentimentalão. Assim mesmo.
Na verdade a minha sensibilidade é atraída por algo que muitas vezes ninguém repara ou se o vê, fica indiferente.
Este meu estado de sentimentalão obriga-me a reiterar que não sou simpático, mas sou um homem de afectos.
Nesta tarde, um velho lúcido e homem sensível para além da ternura que desperta e cativa, do alto da sua autoridade de vida que são os seus noventa e três anos, proporcionou mais um momento da prática da minha posição de sentimentalão. Não foi bem ele. Ele fá-lo comigo, com o seu abraço ou as suas mãos que têm histórias de noventa e três anos.
Num espaço hoteleiro muito conhecido em Felgueiras, espaço mítico onde eu próprio já palestrei em devido tempo, a menina, empregada do referido espaço, tirava paciente e ternamente as espinhas do prato do velho senhor.
Eu não preciso de dizer mais.
Sensibilizei-me (…) e não pude evitar, mesmo sem querer, agradecer espontâneamente à menina o acto que praticara.
E eu lá me lembrei que sou um sentimentalão. Não sou simpático – não me interessa, mas ainda sou homem de afectos.
Mário Adão Magalhães 015/11/23
(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).