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A morte de vestido vermelho

A morte…
A morte bate de frente comigo,
e de repente eu, que sempre achei que queria morrer, tento resistir lhe…
Ela vem, quer levar me com ela…
E eu fujo…
Ela vem, e tenta explicar me que é a hora,
e eu, respondona, digo lhe que se vá lixar,
e que ainda é cedo de mais…

Ela…a morte, cheia de sede de mim,
vem sorrateiramente de noite
e conta me segredos, tenta convencer me
de que morrer nem é assim tão mau…
E eu chateada por ela me interromper o sono, mando lhe um grito:

– Deixa me em paz, porra!
Já te disse que não quero morrer!

– Vem comigo, aceita me, é a tua hora…
Tanto que me pediste, tanto me quiseste, que agora vim buscar te…
E olha que não tens muito tempo…

Tanto que fugi da vida,
hoje fujo da morte,
andei balanceada entre as duas,
e hoje, hoje suplico por mais tempo,
por tempo de viver o que não vivi,
de amar quem não amei o suficiente,
de conhecer tudo o que não conheci…
Hoje, quero estar aqui!
E ela, a morte, quer levar me com ela…
Mas porque não me dá ela mais uns anos?
Preciso de tempo…
E ela, ela quer roubar me o direito a respirar, de respirar o ar fresco e doce
que paira em mim,
quer roubar me do mundo físico…

Morte, minha morte, vai devagar,
dá passos longos e demorados
até me alcançares…
Dá me tempo, tempo de me preparar,
ainda não terminei de arranjar o cabelo,
ainda nem as unhas pintei,
tenho de escolher um vestido vermelho
que me assente bem…
Vá, e daqui a uns tempos,
podes levar me contigo…
Mas aviso te, vou demorar uma eternidade
até acabar de me preparar…
Quem sabe, acabas por ficar sem paciência
e levas me contigo de repente…

Morte, lenta e sofrida morte…
Não escolhe hora, local nem idade…
É uma anónima que vem do nada,
e nos leva com ela.
Nem tempo para despedidas ela nos dá.
Hoje aqui, amanhã com ela.

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