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Lusodescendente recandidata-se face à lembrança do “não às porteiras na Assembleia”

Pela segunda vez consecutiva, Fabienne dos Santos é candidata às eleições legislativas em França depois de, em 2012, ter tido cartazes com o seu apelido riscados com a frase “não às porteiras na Assembleia Nacional”.

“Há cinco anos, quando colámos cartazes, com o meu apelido em letras grandes e a minha cara, diante de certos liceus do 17º bairro de Paris escreveram por cima ‘não às porteiras na Assembleia Nacional’. Fiquei furiosa porque não é justo reduzir toda uma população a ‘clichés’. Foi algo feito para magoar e o que me chocou foi terem-no feito diante de um liceu”, contou à Lusa a candidata de 53 anos.

Neta de um português que veio para França nos anos 30, Fabienne dos Santos é a candidata comunista às legislativas na 4ª circunscrição de Paris, ou seja, nos 16º e 17º bairros da capital francesa, uma zona considerada rica, “onde estão muitas embaixadas e consulados e onde há muitas porteiras portuguesas”.

“Mas aqui não há só ricos. Há habitações sociais e não são as pessoas ricas que moram nos estúdios do sexto andar sem elevador. Depois, há muitos idosos que compraram o apartamento há muitos anos e hoje têm reformas pequenas e não conseguem suportar os gastos”, explicou a candidata.

Ainda que tenha perdido os laços com Portugal, Fabienne sublinha ter “orgulho nas suas raízes” e está a aprender português através de aulas na internet e até sabe fazer pastéis de nata.

Cozinheira e sindicalista, a secretária da secção do PCF no 17º bairro de Paris gostaria de ver mais operários no Parlamento francês, “à imagem do povo”, defendendo que “é preciso parar de enviar especialistas da política que nunca trabalharam na vida” para a Assembleia, ainda que no parlamento cessante haja um operário lusodescendente, Patrice Carvalho, que se vai recandidatar.

Fabienne explicou que “seria preciso um milagre para ser eleita porque neste bairro o voto maioritário é para Os Republicanos”, mas decidiu candidatar-se na mesma porque “é preciso espaço para as pessoas apresentarem as suas ideias, sendo as eleições o momento propício para o fazer”.

“As legislativas são como uma terceira volta das presidenciais porque elegemos um homem sem etiqueta e agora as pessoas vão ter de se posicionar. É preciso deixar a democracia fazer o seu papel e os deputados são muito importantes para votar as leis, a não ser quando se impõem leis como a do trabalho”, afirmou em referência ao artigo 49-3 da Constituição que permitiu ao anterior Governo francês aprovar o pacote laboral sem votação dos deputados.

Fabienne dos Santos contou, ainda, que “sempre foi militante de esquerda desde pequena” e lamentou que a “avalanche Mélenchon” não tenha aproveitado a “união com os comunistas” nas legislativas porque o líder de A França Insubmissa “não se teria candidatado às presidenciais sem as 400 assinaturas de autarcas comunistas que o apoiaram”.

“É pena. Lamento muito até porque nas propostas não há muitas diferenças. O que é diferente é mais a estratégia e a postura. No Partido Comunista tentamos evitar a prevalência da postura. Para mim a postura é mais impostura que outra coisa”, concluiu Fabienne que vai enfrentar também um concorrente de A França Insubmissa na sua circunscrição.

Ainda a recuperar de uma entorse no pé e ao fim de duas horas de pé junto a uma mesa montada no “Square de l’Amérique Latine”, com cartazes do PCF, bolos caseiros e música de Manu Chao, a lusodescendente troca piadas com os camaradas, promete intensificar as ações de campanha e tem sempre pronta, na ponta da língua, a resposta aos que perguntam se “o Partido Comunista ainda existe”: “Não, o PCF não morreu”.

 

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