Que fazes tu quando o sono se exila? Vagueias pela casa, lês, escreves, olhas as paredes, olhos redondos e desconfortáveis, bebes qualquer coisa, arrumas gavetas, escolhes fotos, irritas-te?

A insónia vencendo, o soalho da casa tremendo devagarinho debaixo dos teus pés descalços… Todo o pensamento tremendo dentro, misturando imagens e palavras, doendo na testa, na nuca e até nos dedos. Às vezes olhas o telefone e perguntas-te se mais alguém estará acordado sentindo o mesmo desatino de quem está ao contrário nas horas. Pedes uma voz amiga, ou talvez não, que o silêncio daqueles que se dizem amigos e não mostram preocupação, não são companhia. Ficas tu, olhos redondos de desconforto, o teu silêncio e a solidão da insónia arranjando forma de te escravizar à madrugada.

Sabes que quando a manhã vier de mansinho, esse estar vai desanuviar. Esperas. Quem sabe o telefone toque quando o dia abrir. Ou descubras que nem precisas de o ouvir. Talvez apenas sobra o clarear do dia rompendo os vidros, um peso danado na cabeça e a consciência de que até à noite, terás de resolver o que te impede o sono. E isso parece uma tarefa quase impossível.