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Engraxadores portugueses em via de extinção

Os engraxadores de Lisboa fazem parte da tradição da cidade mas a falta de clientes ameaça extingui-los, segundo avançaram à Lusa alguns destes profissionais, pedindo apoios para se manterem numa profissão em que só sobrevivem por gosto ou hábito.

José Barros é engraxador no Rossio há 36 anos e lembra que a profissão já deu para viver “acima da média”. Hoje, no entanto, o que se ganha fica “muito abaixo do ordenado mínimo”.

Embora continue a dedicar a vida a engraxar sapatos, José Barros explica que atualmente só o faz “por gosto, nada mais”, porque “para viver já pouco dá, [agora] é para sobreviver”.

Uma mudança que Arlindo da Silva, engraxador há 51 anos, explica com o facto de, no passado, “a vida ser mais barata” e, por isso, “haver mais clientes”.

Noutros tempos, recorda, “havia, em cada café, um engraxador” e havia dias “em que tinha 20 ou 30 pessoas na fila à espera para engraxar”.

Hoje, ainda há alguns “clientes fixos”, admite António Pina, engraxador há 12 anos na Praça do Rato, mas isso é considerado “um luxo” porque “não é um bem necessário”, atendendo a que as pessoas podem engraxar os sapatos em casa com muita facilidade.

“Com o material [para engraxar] que existe hoje em dia, já não há necessidade de recorrer ao trabalho dos engraxadores”, reconheceu à Lusa um morador do Rossio.

As críticas também foram dirigidas a entidades como a Câmara Municipal de Lisboa ou a Santa Casa de Misericórdia, a quem os engraxadores acusam de falta de apoios.

Segundo José Barros, as dificuldades com a autarquia existem desde que o início da década de 2000, quando Pedro Santana Lopes ficou à frente da Câmara e cancelou um projeto de criar quiosques próprios para engraxadores.

Nessa altura, diz José Barros, o valor das licenças aumentou “para o triplo”, o que dificulta a manutenção e a renovação destes profissionais.

Questionada pela Lusa, a Câmara de Lisboa explicou que o valor cobrado a estes trabalhadores é de 6,57 euros por metro quadrado ocupado.

No entanto, a Câmara sublinha que já não é responsável por atribuir licenças novas a quem inicie agora a profissão, remetendo para as juntas de freguesia.

Para Agostinho de Freitas, engraxador nos Restauradores há 28 anos, é preciso valorizar uma profissão que faz parte da tradição de Lisboa.

Apesar de reconhecer que “ainda há pessoas que dão valor à tradição, [o número de apoiantes] não é suficiente para manter a profissão”.

Ainda assim, sublinha, a valorização dos engraxadores não deve ser feita com iniciativas como as da Santa Casa, que lançou em 2011 o projeto “Tradição-Engraxadores”, que visava diminuir o desemprego através da recuperação de profissões tradicionais e do empreendedorismo.

O projeto tinha como meta dar formação aos trabalhadores, mas, ao longo de 2012, vários engraxadores queixaram-se de falta de pagamento ao longo da formação.

Embora tenha feito parte do projeto, Agostinho de Freitas garante que, “dos 14 engraxadores que receberam formação da SCML, só dois continuam” a exercer, já que a instituição não levou a iniciativa avante por falta de recursos humanos.

Opinião contrária tem António Pina, para quem o projeto da Santa Casa teve bons resultados.

“As pessoas [começaram] a vir cá de propósito para engraxar os sapatos”, disse, defendendo que o projeto da SCML devia continuar como “forma de manter a tradição e de recriar a profissão de engraxador”.

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