De que está à procura ?

Lifestyle

Já chupou a gancha?

Vila Real cumpriu esta quarta-feira a tradição de os homens oferecerem a gancha à mulher, um doce típico que é vendido apenas nesta altura em algumas pastelarias da cidade ou pelas cinco ‘marianas” que mantêm vivo este costume antigo.

Aprenderam com as avós e mães e todos os anos, nos dias 02 e 03 de fevereiro, juntam-se na zona da Vila Velha de Vila Real para vender as ganchas caseiras, que dão corpo à tradição e ajudam a ganhar algum dinheiro.

As “marianas” são atualmente quatro irmãs e uma sobrinha, conquistaram o nome à custa da “tia Mariana”, que durante muitos anos confecionou e vendeu estes doces feitos de açúcar e água que reproduzem o báculo (bengala) bispal de São Brás, o “padroeiro” das doenças da garganta e cujo dia se assinala hoje.

Tem raízes religiosas mas transformou-se numa tradição popular que se repete todos os anos: o rapaz oferece a gancha à rapariga que retribui com o pito, outro doce típico, e são agora pessoas de todas as idades as que aderem a esta brincadeira que foi passando de geração em geração.

“Isto já vem dos meus avós, da minha tia e da mãe e depois ficamos nós para não deixar morrer a tradição”, afirmou à agência Lusa Fátima Pinto, de 45 anos.

As “marianas” prepararam para estes dias cerca de 38 quilos de açúcar. “Isto já vem desde há muitos anos mesmo. O doce custa um bocado a fazer, dá-nos bastante trabalho. Mas pronto, é uma vez por ano”, salientou Natália Pinto, 39 anos, que por estes dias tira folga no emprego para ir vender as ganchas junto ao Museu da Vila Velha.

Está casada há 19 anos, mas hoje foi a primeira vez que Maria Jordão recebeu ganchas oferecidas pelo marido Alberto Ribeiro e que foram compradas a uma das “marianas”.

“Levo três mas é para uma mulher só. É, brincamos à conta desta tradição por causa dos nomes”, salientou Alberto Ribeiro, que explicou que esteve emigrado durante 30 anos e que regressou agora a Vila Real.

Para além das mulheres que confecionam nas suas casas, também as pastelarias da cidade fazem por estes dias as tradicionais ganchas.

“Este é um doce muito difícil de fazer e só o fazemos hoje para honrar a tradição que já tem muitos anos. A massa de açúcar tem que se trabalhar logo em quente. É só açúcar e água e depois o segredo de as moldar rapidamente”, frisou Rosa Cramez, da Casa Lapão.

Dezenas de crianças passaram pela cozinha desta pastelaria para ficarem a conhecer mais pormenorizadamente o processo de fabrico desta iguaria tão tradicional em Vila Real, numa iniciativa promovida pelo Museu da Vila Velha.

“Esta é uma tradição já bastante antiga que junta um pouco do sagrado com o profano, pegando num símbolo de um santo, neste caso o São Brás, e transformando-o num rebuçado em forma de báculo que é oferecido pelos homens às mulheres nesta data”, explicou o diretor do museu, João Ribeiro da Silva.

E, para o responsável, uma das situações que torna esta tradição mais atrativa é “a parte mais marota” que resulta dos nomes dos doces.

“O que nós fazemos é aproveitar essa parte da brincadeira para contarmos a história que dá origem à tradição”, salientou.

Nesta iniciativa, o Museu aproveita para mostrar “a verdadeira” capela de São Brás, que está dentro do cemitério desta zona da cidade, e ainda a capela de Santo António Esquecido, localizada bem ao lado do edifício museológico mas que muitas vezes é confundida com a de São Brás.

Isto porque, inicialmente, as ganchas eram vendidas junto à original capela de São Brás, só que com a construção do cemitério as mulheres tiveram que procurar outro local, acabando por se “apropriar” da pequena igreja dedicada a Santo António, levando para lá uma imagem do padroeiro das doenças de garanta.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA