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Veados têm impacto positivo na serra da Lousã

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Projeto de doutoramento na Universidade de Coimbra concluiu que os veados da serra da Lousã assumem um papel na dispersão de sementes de espécies nativas arbustivas pelo território, podendo cada animal dispersar mais de seis mil sementes por dia.

A tese de doutoramento, realizada por Fernanda Garcia, investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, procurou analisar os impactos dos veados na Serra da Lousã, reintroduzidos no território a partir de 1995.

Defendida em dezembro de 2023, a tese apresenta como uma das principais conclusões a forma como os veados assumem um papel importante na dispersão de sementes de espécies nativas de arbustos e herbáceas por toda a serra da Lousã.

No caso daquele território, importava perceber se os veados também dispersavam sementes de espécies exóticas, como as acácias ou os eucaliptos, que estão cada vez mais presentes na serra da Lousã.

“Sendo o veado uma espécie que tem uma área vital muito grande – percorre quilómetros e quilómetros por dia -, era importante perceber se dispersavam invasoras ou não”, disse à agência Lusa Fernanda Garcia.

Nesse sentido, a investigadora recolheu 265 amostras de excrementos de veados, recolhidas na Serra da Lousã ao longo de cerca de um ano, e analisou todas as sementes encontradas.

“Registámos 3.403 sementes e não encontrámos sequer uma semente de invasora”, notou.

Apesar disso, Fernanda Garcia constatou que os veados “comem acácia”, apesar de não ser a sua espécie favorita, levantando a hipótese de estes animais mastigarem as sementes de acácia, por terem alguma dimensão, em vez de as engolirem inteiras.

Essa hipótese, a confirmar-se, demonstraria um contributo ainda mais positivo dos veados para a conservação dos ecossistemas da Serra da Lousã, “porque não só não dispersariam sementes como as destruiriam”, notou, salientando que “as acácias têm um gigante banco de sementes”.

Segundo Fernanda Garcia, nas sementes recolhidas, foram encontradas 21 espécies diferentes de herbáceas e arbustos que fazem parte de matos “nativos e característicos de zonas mediterrânicas”.

No seu projeto de investigação, estimou que cada indivíduo pode dispersar mais de seis mil sementes por dia (o veado tem uma taxa de defecação de 25 vezes por dia).

A maioria das fezes analisadas continha, pelo menos, uma semente, e das sementes analisadas e recolhidas, 48 germinaram.

Apesar de uma relação baixa entre a quantidade de sementes dispersada e aquelas que poderão germinar, a população de veados na serra da Lousã, face à estimativa da sua densidade, terá capacidade para dispersar mais de três milhões de sementes por dia, conclui a investigadora.

Para além deste impacto positivo na dispersão de sementes de espécies nativas, Fernanda Garcia mostrou também que os níveis de densidade de veados na serra da Lousã estão num nível intermédio e, portanto, não têm um aparente impacto negativo na compactação do solo, registando-se uma média de 8,9 indivíduos por quilómetro quadrado, nos 60 pontos de amostragem analisados na zona central da serra.

O estudo conclui também que, face à densidade existente na serra da Lousã, há um equilíbrio entre as plantas presentes naquele território e os veados, não existindo “uma alteração ao nível dos atributos das plantas”.

Segundo Fernanda Garcia, “não foi identificado nenhum impacto negativo” no decorrer da tese, que realça os serviços que os veados prestam ao ecossistema onde estão inseridos.

No entanto, a investigadora salientou que parte desse contributo positivo está também relacionado com uma “densidade intermédia” da população, sendo necessário acompanhar a evolução e a dinâmica da população de veados na serra da Lousã, já que “densidades muito elevadas poderão ter efeitos negativos”.

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