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“Preta fufa”

“Preta fufa”. É isto que o José Pacheco Pereira gostaria de ter a liberdade de me chamar ou que outros me chamassem.

E se eu seguisse os desejos do José Pacheco Pereira e não me deixasse levar por uma “linguagem sanitariamente pura” também o poderia chamar de palerma branquela LGBTfóbico e também lhe poderia dedicar esta imagem. Mas não o faço porque sou… sei lá… no mínimo educada. Já o disse aqui noutro contexto, nós aprendemos desde a infância imensas formas de respeito, formas de “saber estar” que é o mínimo requerido do “saber ser”. Não tratamos por tu qualquer um/a, dizemos bom dia, obrigada, etc. E ainda por cima Portugal é especialista do “não nos toquem nos títulos de doutores e engenheiros”.

José Pacheco Pereira está preocupado com o empobrecimento da língua, que chatice vamos perder o “preto”, o “paneleiro”, a “bicha”, a “fufa”, e agora vamos chamar estas pessoas de quê?

JPP preocupa-se mais com a língua do que com as pessoas, que caricato, para quem diz estar preocupado com a democracia. Que alguém lhe explique que a democracia não é um dicionário, são pessoas cidadãs de carne e osso, assim com sentimentos e tal e com Direitos, e já agora que Cigano não é um insulto e se tiverem tempo porque é que “branquelas” não é “atingido pelo opróbrio” como “preto” ou “monhé”. É porque há assim uma coisa que se chama História, mas bom, ele é que é o especialista. Ele é que sabe muitas datas, e muitos nomes de acontecimentos e tal, mas ai LGBTQIA+ é muito difícil, são precisos dois doutoramentos para saber o que significa a sigla misteriosa. Cruzes, aprender isso tudo… que trabalheira. E eu tenho de ir para a praia, está calor… não posso chamar a tudo de “fufas e paneleiros” e está o caso arrumado?

Não existe uma “*doença* obsessiva da identidade” (e que bem que JPP escolhe as palavras), existe uma coisa que se chama progresso, existe uma coisa que se chama o resultado de muitas e muitas lutas que permitem que pessoas deixem de estar fechadas em armários e sejam completamente invisibilizadas pela “identidade neutra e universal” dos JPP desta vida. E ainda há tanto caminho a percorrer…

JPP quer continuar a beneficiar dos privilégios dessa sua identidade invisível, quer poder continuar a falar de colonialismo e feminismo sem que ninguém repare que é homem e branco, enquanto negros e mulheres são vista/os como suspeita/os, subjetiva/os, não-científica/os quando falam dos mesmos temas. O sentimento de supremacia também é isto.

JPP continua a sua narrativa lamuriante de vítima das “modas”, porque passou, vejam lá, a fazer parte do fim da fila, de “tudo o que de pior se pode ser nestes dias”. Mais uma vez as palavras são bem escolhidas, sabendo que as pessoas das “modas” que são só umas letras misteriosas, são agredidas, mortas, discriminadas em todo o lado. Sabendo que algo de tão básico como dar a mão na rua a quem se ama pode ser e é alvo de insultos quando não é pior.

Não me vou alongar mais com o JPP porque a energia e o tempo que se perde com estas pessoas dá-me náuseas. E até porque ele não é o único, continuam a ser publicados textos e declarações absolutamente LGBTfóbicas sem que se pense nunca na juventude que as lê e no impacto que isso tem. E eu gostava de lhes dizer a todas, todes e todos, o quanto é bonito e uma alegria amar uma mulher. ❤ Mas não é num texto sobre o JPP que o vou fazer. Não se mistura beleza com mediocridade.

Luísa Semedo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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