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O terminal

No terminal, o movimento é constante, ininterrupto. Todas as manhãs se repete o processo, enquanto eu espero, sentado junto da máquina de venda automática. Os autocarros chegam e partem como chegaram – apinhados de viajantes, buzinando para abrir caminho. Neles viajam as gentes em pendulares rotas, cada um com o seu próprio sentido, todos na mesma direção.

Também o terminal é uma paragem: a reta de partida ou a meta final. Um ponto em comum de incessante alarido: de um lado, ouve-se, ao megafone, a chamada: “viatura 5, Nazaré, linha 10”, e um burburinho de gente se levanta de imediato, a mãe grita pelo filho, não quer perder a “camionete”; do outro, as vozes misturam-se num indecifrável bambaré – amigos reencontram-se, trocam-se palavras entre colegas de horários. E há sempre um rapazito a pedir um cigarro. Aos sábados, partem os autocarros internacionais, onde a despedida é partilhada com prévia nostalgia. E resto eu, vendo as despedidas entre amantes cúmplices e famílias ansiosas, os solitários para quem a viagem já seria rotina e os nervosos estreantes nas lides da emigração.

Observo-os, à distância, até trocar olhares com um petiz, que não devia ter mais de oito anos, agarrado pela mão da mãe. A irmã mais velha conversava com o pai, e eu sabia que chorava. Notava-se ao longe. Fiquei a vê-los rodear o veículo, confirmando que era o certo, a colocar as malas na bagageira, a aguardar pelo motorista. Eventualmente, todos começaram a lacrimejar, à exceção do resignado pai, que afagava as crianças, uma mão sobre o ombro da esposa. À hora marcada, dirigiu-se para a fila que se formava à porta do autocarro e ouvi-o, ao longe, dizer:

– Não precisam de ficar! Há sete anos que é a mesma coisa – e riu. Todos riram.

Trocaram abraços e, ignorando os avisos, a família esperou, mãe, filha e filho de mãos dadas. Apenas o mais novo chorava, agora. Só quando, por fim, a viatura dobrou a curva junto ao Lúcio da Silva, é que os três abandonaram o local. Daí uns meses estariam de regresso para receber o patriarca. O hábito acumula-se numa cíclica aventura. A saudade adapta-se com os quilómetros de viagem.

O terminal de autocarros é, ao mesmo tempo, partida e chegada. Início e fim. Uma nova vida e uma vida nova. O movimento é constante, ininterrupto.

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