Catarina Martins apesar de estar nos meus antípodas ideológicos reconheço que deixa um legado admirável à sua sucessora no Bloco de Esquerda e a Portugal.
Os anos de geringonça que o país viveu, garantiram uma estabilidade social aos portugueses que fez a diferença pela positiva, principalmente relativamente às classes mais carenciadas e às classes mais necessitadas em termos económicos, tendo existido um aumento real dos seus salários e a melhoria da sua condição de vida.
Por outro lado, o diálogo interno que certamente Catarina Martins levou a cabo com marxistas, leninistas, etc… a propósito da guerra da Ucrânia, dentro do seu partido foi um sucesso. A líder do Bloco de Esquerda conseguiu o apoio destes “radicais de esquerda” desde o início da guerra para a causa ucraniana, ao contrário do PCP. Este trabalho certamente não deve ter sido fácil não tendo havido qualquer “salpico” sobre este assunto para o espaço público. É um trabalho político louvável com tantas tendências políticas existentes dentro de um partido com origens diversas dentro da Esquerda, incluindo o PCP. Catarina Martins conseguiu com bastante eficácia o apoio do partido, numa só voz contra a invasão russa.
Outro legado que a ex-líder do Bloco de Esquerda deixa ao partido foram os resultados eleitorais nas primeiras eleições a que foi a votos. Os níveis de simpatia, de popularidade que Catarina Martins alcançou garantiram ao Bloco, não só a manutenção nos diferentes órgãos de poder pelo país como também garantiu o seu crescimento eleitoral numa primeira etapa dos seus mandatos. Catarina Martins conseguiu que o partido fizesse parte de uma solução governativa nunca experimentada e com relativo sucesso.
Claro que desde há dois anos, a esta parte, a vida complicou-se para Catarina Martins, tanto na geringonça devido ao mau relacionamento com António Costa, tanto nos resultados eleitorais obtidos nas últimas eleições legislativas, no entanto o seu trabalho político mais moderado fez com que o seu partido fosse olhado com uma credibilidade que poucos líderes conseguiram.
Quanto à nova líder, Mariana Mortágua, posso dizer que é uma líder mais preparada nos assuntos económicos e políticos, mas duvido que nas urnas ultrapasse a simpatia que o povo português demonstrou por Catarina Martins. A agressividade de discurso da nova líder parece-me não entrar de modo tão eficaz num eleitorado mais moderado que entregou o seu voto a Catarina Martins…
Veremos no futuro se a História me dará razão…
Paulo Freitas do Amaral