Lusodescendente dá voz às comunidades através da 7ª arte
A lusodescendente Maria Helena Freitas apresentou, em Caracas, uma nova edição de nove curtas-metragens do programa Fábrica de Cinema, que promove os Direitos Humanos e dá voz às comunidades, de baixos recursos, através da 7.ª arte.
“Fábrica de Cine (FC) é o nosso programa emblemático. (…) Já chegámos a mais de 7.000 jovens em Caracas e agora também em Maracaibo”, disse a diretora do evento à agência Lusa.
Segundo Maria Helena Freitas, ao longo de dez edições, o FC apresentou “51 curtas-metragens de mais de 10 minutos cada, dedicadas aos Direitos Humanos, que abordam as questões que mais afetam as pessoas, não apenas na Venezuela, mas em todo o mundo”.
“Os Direitos Humanos são universais (…) Promovemos a democracia participativa, a cultura de paz, a inclusão, o diálogo e sobretudo um debate de ideias onde todos cabemos, onde todas as ideias podem convergir para desenvolver um país mais amplo, mais aberto a todos”, frisou.
Filha de madeirenses, Maria Helena Freitas explicou que faz parte do Circuito Gran Cine, organismo que desde há 28 anos difunde e promove a cultura cinematográfica na Venezuela.
“Promovemos os Direitos Humanos (…) e reforçámos esse objetivo em 2006, com a criação de um diplomado [curso] em Direitos Humanos e Cinema, e depois com programas de desenvolvimento e responsabilidade social (…) Criámos uma rede audiovisual em Caracas e noutros estados venezuelanos, para difundir a construção da Venezuela que queremos”, disse.
Segundo Maria Helena Freitas, o FC tornou-se numa ferramenta audiovisual de divulgação, promoção, educação, mas também um mecanismo para ensinar que todos são importantes, que cada parte dessa máquina tem o mesmo objetivo.
“E quais são os objetivos, a construção? Garantir que, a partir de pequenas, médias ou grandes áreas de atuação, todos contribuam (…) O FC, é inclusão, diálogo, desenvolvimento, pensamento crítico, debate de ideias, mas sempre numa cultura de paz, promovendo a democracia e a participação de todos”, frisou.
Para a lusodescendente, “o cinema, além de ser um entretenimento, transmite mensagens, ideias, muita informação (…) e, quando bem gerido, torna-se uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento social nas comunidades, porque é mais permeável e gera muitos empregos”.
Maria Helena sublinhou que o FC está a dar a oportunidade, a muitas pessoas, de não abandonarem a Venezuela, porque há muito para fazer no país.
Questionada sobre as temáticas, explicou que não fazem imposições, que os jovens escolhem os temas que lhes interessam ou afetam, em consonância com os Direitos Humanos e a igualdade de género.
“Para nós é importante promover o empoderamento da mulher e a luta constante contra a violência de género. Também o direito à saúde, à educação (…) ultimamente temos estado a abordar as deficiências motoras e outras, a forma como as pessoas, as famílias, as organizações e o país lidam com quem tem algum tipo de deficiência e que opções temos”, disse.
As minorias, a comunidade LGBTQ+, e o direito a votar, a democracia participativa e cidadania, são outros temas em desenvolvimento.
Por outro lado, Bernardo Rotundo, presidente do Circuito Gran Cine explicou à Lusa que o “ponto de vista é crítico e reflexivo”.
“Queremos que os cidadãos tenham uma atitude deliberativa e participativa, que sejam capazes de refletir sobre o seu entorno”, declarou.
Bernardo Rotundo salientou que mais de 8 milhões de venezuelanos abandonaram a Venezuela “e isso mudou o ecossistema audiovisual venezuelano, porque emigrou o público que assistia às exibições”.
“Estamos a formar novos públicos e uma das estratégias é ir às comunidades ensinar técnicas cinematográficas, programação cinematográfica, realização de filmes, porque não se trata de uma escola de cinema, trata-se de fazer ativismo social e comunitário”, frisou.