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João Pedro Rodrigues: um português em Silicon Valley

Interessado em medir a matéria de que são feitas as galáxias, João Pedro Rodrigues candidatou-se, no final de 2016, a quatro vagas: duas em universidades americanas, uma no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), onde são feitas descobertas de grande impacto científico, como a partícula que poderá explicar o aparecimento do universo, e para uma universidade na Suíça. Todas quiseram contratá-lo, conta o Jornal de Notícias.

No fim das contas, o cientista optou pelo Centro de Aceleração Linear de Stanford (SLAC), na Califórnia, onde integra a equipa de Instrumentação Avançada para Investigação. É um dos dezassete laboratórios federais liderados e financiados pelo Departamento de Energia do governo dos Estados Unidos e tem «um papel central na investigação científica e tecnológica mundial». O papel de João é, nas suas palavras, «preencher o espaço entre a ciência e a tecnologia». Desenvolve máquinas que medem o que até há pouco parecia impossível, seja a matéria negra do universo ou a velocidade dos átomos.

«Sabemos que no movimento das galáxias existe mais matéria do que aquela que conseguimos observar.» Mas como esta não absorve, nem reflete, nem emite luz, o engenheiro português desenvolveu o «sistema nervoso do maior detetor de matéria escura no mundo». É uma máquina controlada por mais de dez mil canais, com oito por seis metros, enterrada a 1,5 quilómetros da superfície, numa antiga mina de ouro no estado norte-americano do Dakota do Sul.

Mas aquilo que na verdade importa perceber é a matéria negra, da qual muito pouco se sabe. «É uma massa extra sem a qual as galáxias se desintegrariam.» Na cosmologia, ela costuma ser definida como a energia invisível que permite a gravitação das estrelas, que, se quisermos, as ordena fisicamente no espaço. Estudá-la é visto, no universo da engenharia astrofísica, como um dos maiores desafios da atualidade. «Tudo o que conhecemos e vemos no universo é apenas quinze por cento de toda a matéria que nele existe», explica João Pedro Rodrigues.

Tem novos projetos e agora passa os dias sentado numa cadeira e a controlar uma mão-cheia de computadores que funcionam em simultâneo. João está por estes dias empenhado na operacionalização do LCLS, acrónimo de Linac Coherent Light Source, o acelerador de partículas e laser raio X mais potente do mundo. Um instrumento tão intenso e tão rápido que consegue «ver e fotografar átomos», ou seja, registar reações químicas a acontecer em câmara lenta.

O sistema de monitorização desenvolvido pelo cientista de Coimbra pode ser essencial noutras áreas de conhecimento, nomeadamente na saúde. «Pode acontecer não lançarmos mais sondas para outros planetas porque alguém toma a decisão de que os custos ultrapassam largamente os benefícios, mas a saúde humana nunca terá preço.»

Estas partículas aceleradas que agora trabalha podem eventualmente ser usadas para penetrar no corpo humano e destruir células cancerígenas. Além disso, poderão também ser utilizadas na criação de isótopos «para radiodiagnósticos médicos».

Também está empenhado na criação da nova geração de equipamentos científicos para o SLAC. «O nosso foco está na utilização da inteligência artificial para aumentar a fiabilidade e a segurança dos equipamentos.» Outra das suas funções é adaptar estas tecnologias às reais necessidades da sociedade. «O objetivo é transformar as tecnologias de ponta desenvolvidas nos laboratórios para aplicações mais práticas, como por exemplo equipamentos médicos, veículos autónomos ou sistemas de controlo industrial.»

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