Num dia destes, estava a fazer uma candidatura a uma oferta de emprego aqui para as Américas e, depois de uma extensa introdução de informação e de escrutínio da minha pessoa, apareceu uma secção descrita como de preenchimento voluntário. Qual não é o meu espanto quando, atrás de algumas perguntas, aparece um asterisco onde não me deixa submeter a candidatura, sem estarem respondidas. Ou seja, mais informação pessoal que entregamos a uma data de gente e que nunca saberemos quem são e o que irão fazer com ela.
A primeira pergunta estava relacionada com o meu género: “masculino, feminino, neutro ou prefiro não responder”. Embora a minha vontade fosse “preferir não responder” porque as perguntas eram voluntárias e obrigatórias ao mesmo tempo, cliquei na opção feminino, ou melhor “woman”.
A questão seguinte era se me considerava uma minoria. Nunca tinha pensado nisso e, pessoalmente, não me considero uma minoria pois faço parte da classe trabalhadora, estou em fase ativa da minha vida e escolhi selecionar “não”.
Como boa curiosa que não sou, fui ver quais as opções, caso eu tivesse escolhido que me considerava uma minoria. Ali encontrei a opção mulher, asiático, “African American”, indígena, entre outras.
Parei, congelei, fiquei em estado catatónico, entre outros adjetivos que me poderia lembrar agora. Ser mulher é pertencer a uma minoria? Minoria em relação a quê?
Pensei então que teria de pesquisar sobre isto. Será que existem assim tão poucas mulheres no mundo para sermos consideradas minoria aos olhos de uma empresa ou do mundo? Pedi ajuda ao meu amigo G (sim, eu sei, poderia ter ido ter com o outro amigo da moda, mas decidi usar o modo ainda tradicional) e escrevi “Quantas mulheres existem no mundo?”. Tentei pesquisar o mais possível e obter valores mais fidedignos e encontrei que, em 2021, as mulheres representavam 49,5%, arredondando as coisas, considerando somente o género sexual com que nasceram e não com o que se identificam mais tarde na vida. Então 49,5% é considerado uma minoria?
Novamente, por curiosidade, fui procurar os dados estatísticos para os Estados Unidos e, aqui, são 50,8% os que nascem com o genótipo XX. Então nos EUA, onde se fazem a maioria destes inquéritos, estatisticamente nascem mais mulheres que homens? Devo ser eu a não perceber nada de estatística ou a minha definição de minoria está completamente errada. Logo questionei a minha noção de minoria. O que é afinal uma minoria?
Mais uma vez, podia ter usado a ferramenta da moda e optei por um método mais “arcaico”.
Minoria, segundo o dicionário da Porto Editora, significa “inferioridade em número, ou parte menos numerosa num conjunto de pessoas ou coisas”. Ou seja, a diferença de 0,5 % faz-me ser considerada uma minoria?
Na mesma página estava também a definição de minoria étnica: “Conjunto de pessoas que possuem unidade cultural, consciência de pertença de grupo, sem dispor de território próprio.”
Hum…Fiquei ainda mais intrigada. Sem território próprio? Fui novamente ver as opções de minoria. Nada se enquadra na minha definição ou na do dicionario. Asiáticos? Fui novamente ao meu amigo G. 59,5% da população está na Ásia, não considerando quem partiu em busca de uma vida diferente. Populações indígenas? Esses podiam ser uma minoria na primeira parte da definição mas vivem, na maioria das vezes, em territórios próprios, que lhes pertencem desde sempre. E quanto ao” African American”? O que querem dizer com esta definição? Estarão a referir-se a “Black American”? Pois a maioria são “American Americans” ou “ Caribean Americans” , mas continuam a ser Americanos.
Fui novamente pesquisar sobre a distribuição da população no mundo. Se, em dados de 2021, aproximadamente 59, 8% da humanidade está sediada na Ásia, 17% em África e América do Norte surge em quarto lugar com 7%, quem é considerado uma verdadeira minoria, segundo o conceito realista da palavra?
Eu sei, há empresas que têm de ter uma percentagem mínima de mulheres, indígenas entre outras, mas porquê considerar minoria? Podia haver uma espaço em que as pessoas fossem livres de colocar o que acham que são e não serem rotuladas estatisticamente quando todos os dados indicam exatamente o contrário do que é pertencer a uma minoria.
Cada um sabe de si e identifica-se com o que quiser e como quer. Eu não considero que faça parte de nenhuma minoria, não me considero menor do que ninguém, não me interessa qual o meu género, a minha cor de pele (que nem sei bem definir, principalmente quando estou cheia de manchas de todas as cores no Verão!) ou onde nasci.
Porque continuamos a colocar rótulos nas pessoas?
Eu tenho o meu lugar neste mundo, assim como tu, todos nós, e vós e eles.
Lese Costa Pinto