Mineiro de Machado, o ator Chico Martins nasceu em 27 de maio de 1924. Ainda jovem transferiu-se para a capital paulista, ingressando, em 1954, na Escola de Arte Dramática, à época dirigida por Alfredo Mesquita.
Começou a carreira de ator no 1º Festival de Estudantes de Paschoal Carlos Magno, em 1958, passando a integrar, pouco tempo depois, o elenco do Teatro Oficina. Foi lá que começou a namorar a atriz Etty Fraser, que conhecera em As Feiticeiras de Salém, no Teatro Maria Della Costa, com direção de Antunes Filho. Casaram-se em 1962 e Etty seria sua companheira até o final da vida.
No Teatro Oficina, a primeira peça em que atuou foi A Vida Impressa em Dólar, de Clifford Odets, participando, a seguir, de antológicas encenações, como Os Inimigos, de Molière, e O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. Costumava dizer que sua integração com o grupo dirigido por José Celso Martinez Corrêa “era tão grande que durante muito tempo sentiu medo de não mais se adaptar a outros métodos teatrais”.
Certamente um dos maiores êxitos de público e crítica dos primeiros tempos do Teatro Oficina foi a montagem, em 1963, de Os Pequenos Burgueses, de Gorki, autor cuja obra conhecia profundamente e era um de seus preferidos. Nela interpretou Pertchikin, personagem cujo modo de compreender a dinâmica social do mundo pode ser resumido numa de suas mais expressivas falas, que sempre gostava de lembrar: “nesta terra, os homens tiram o pão uns da boca dos outros.” Em contraponto, dizia: “eu não, eu tiro o meu pão diretamente do ar, me alimento das aves que voam no céu.” Voltaria a interpretar Pertchikin em remontagens do clássico russo, no ano de 1977, com direção de Renato Borghi, e em 1990, dirigido por Jorge Takla.
Em entrevista ao jornal Última Hora, em 1978, sob a ditadura militar, corajosamente declarou: “censura é uma palavra que não deveria existir nem no dicionário. Ela é distribuída sem critério, está sempre na mão das pessoas erradas. Veja só um pouco de tevê. A gente consegue ver coisas horrorosas, cabeludas, no horário das crianças. E a qualquer hora acontece isso. Aqueles jornais especiais, cheios de coisas feias e chocantes, muita violência, tudo isso pode. E no cinema é pior ainda. Filmes pornográficos, qualquer coisa e tudo vale. Chega a vez do teatro, não sei por quê, mas tudo é pecado, tudo é proibido. A mão da censura é muito forte quando se trabalha no palco.”
Dirigido por alguns dos maiores diretores de seu tempo, como Alfredo Mesquita, Ademar Guerra, Antunes Filho, Antonio Abujamra, José Celso Martinez Corrêa e Augusto Boal, seus últimos trabalhos foram com o Grupo Tapa, sob direção de Eduardo Tolentino de Araújo, em textos memoráveis como O Telescópio, A Megera Domada e A Importância de Ser Fiel, peça cuja temporada não concluiu, por ter adoecido.
Embora tenha sido um ator essencialmente de teatro, teve incursões importantes na televisão, sobretudo na antiga TV Tupi, a partir dos anos 1960, como em Nino, o Italianinho, O Machão, Os Apóstolos de Judas e Meu Rico Português, assim como na TV Globo, na adaptação do romance Olhai os Lírios do Campo, de Erico Verissimo, nos anos 1980. E ainda no cinema, onde participou de Panca de Valente, de Luís Sérgio Person, e das adaptações dos romances Dôra Doralina, de Rachel de Queiroz, e Senhora, de José de Alencar.
Chico Martins faleceu em São Paulo, em 23 de abril de 2003, aos 78 anos.
Ângelo Mendes Corrêa
Angelo Mendes Corrêa é doutor em Artes pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo(USP), professor e jornalista.