Tondela: Festa das Cruzes candidata a Património Imaterial
O município de Tondela candidatou a secular Festa das Cruzes ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, anunciou aquela câmara do distrito de Viseu, numa nota enviada às redações.
O anúncio da apresentação da candidatura foi feito no sábado pela presidente da autarquia, Carla Antunes Borges, durante as celebrações daquela que é uma das maiores e mais antigas manifestações religiosas do concelho, realizada anualmente no Guardão, e que atraiu na edição de 2023 largas centenas de pessoas, refere a nota de imprensa.
Há um ano a autarquia já tinha revelado a intenção de avançar com a candidatura com vista “ao registo e reconhecimento” desta manifestação de fé com mais de 300 anos.
“Esta é uma festa que temos obrigação de cuidar e preservar, queremos que seja uma festa de todos, uma festa nacional e, por isso, é com regozijo que vos transmito que na quinta-feira [Dia da Ascensão] tivemos a oportunidade de apresentar o pedido de inscrição desta importante festa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial”, reforçou Carla Antunes Borges, citada na nota.
A autarca considerou que a tentativa de elevação da Festa das Cruzes a um patamar nacional era “uma obrigação do município de Tondela”.
O pároco do Guardão, António Ferreira Duarte, também citado na nota, agradeceu a iniciativa e enalteceu a ajuda do poder local neste processo.
O sacerdote adiantou que a candidatura a Património Imaterial vem “engrandecer um evento religioso que os crentes têm mantido vivo ao longo dos séculos e que nesta edição teve uma das maiores adesões em termos de público nos últimos anos”.
De acordo com informação da autarquia, a Festa das Cruzes acontece há mais de 300 anos juntando as povoações de Castelões, Santiago de Besteiros e Campo de Besteiros, comunidades que anualmente, por altura da Ascensão, sobem à serra, juntando-se aos habitantes do Guardão, para cumprir “a promessa antiga” de agradecimento à Nossa Senhora dos Milagres pela sua ajuda na expulsão dos mouros.
Na festa utilizam-se cruzes, engalanadas com grinaldas, motivos vegetais, como flores ou frutos e legumes da época, metais preciosos, como ouro, e pérolas, ladeadas por lanternas.
Os féis das três freguesias percorrem o mesmo itinerário ancestral, da Capela de São Bartolomeu até ao Guardão, ao som de ladainhas, para o abraço das suas cruzes com as da freguesia anfitriã, sob uma chuva de pétalas de flores.
A singularidade desta manifestação reside no momento em que as cruzes se tocam, duas a duas, repetindo o abraço do povo aquando da expulsão dos mouros.
A cerimónia acontece no marco do encontro, um local na calçada já gasta pela repetição desta tradição ao longo dos séculos.
Após o abraço, acontece uma eucaristia, que culmina com uma bênção dos campos e um grande desfile em que participam as cruzes das quatro paróquias e largas centenas de romeiros oriundos das localidades envolvidas no ritual, mas também dos mais recônditos recantos serranos e de outras terras da região.
A Festa das Cruzes realizava-se tradicionalmente na quinta-feira de Ascensão (40 dias depois da Páscoa), tendo passado em 2022 a acontecer no sábado seguinte para que mais pessoas pudessem participar no evento religioso.