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O fruto proibido é o mais apetecido

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Conhecidos os resultados das eleições legislativas, podemos perceber que a política em Portugal não será mais a mesma. O Partido Chega contou com mais de um milhão de votos, elegendo, desta feita, quase 50 Deputados à Assembleia da República. Importa perceber este fenómeno paranormal, em que uma terceira força política vem por fim ao bipartidarismo em Portugal.

Quando, em 2019, o Partido Chega apareceu na vida dos portugueses, poucos imaginavam que, passados cinco anos, o partido de André Ventura seria a terceira força política, cada vez mais próxima das duas maiores forças políticas em Portugal. Talvez nem o próprio André Ventura acreditasse que, em tão pouco tempo, poderia obter um resultado tão positivo. E, com isto, há que lhe dar mérito. É verdadeiramente notório aquilo que uma só pessoa conseguiu fazer. Sim, porque quem vota no Chega está a votar na pessoa André Ventura, e não no Partido como um todo. A verdade é que quem votou no Chega não deve reconhecer mais de quatro caras do partido.

O grande derrotado destas eleições legislativas é, sem sombra de  dúvidas, o Partido Socialista. Passar de uma maioria absoluta para uma percentagem de menos de 30% dos votos, no curto espaço de 2 anos, é ilustrativo do mau desempenho que cunhou o executivo de António Costa. O Serviço Nacional de Saúde está um caos, as escolas não têm professores para lecionar, as polícias saem à rua em defesa dos seus merecidos direitos, há uma falta de segurança nas ruas de Portugal… enfim, que (des)Governo. Se tudo isto não bastasse para reconhecer um desempenho insuficiente do Governo de António Costa, ainda foram encontrados 75 mil euros no escritório do Chefe de Gabinete de António Costa. E ainda dizem que bastava uma mudança de Governo, mas com o mesmo líder e a mesma cor política. Ora, se, convocadas eleições antecipadas, o PS, que tinha oportunidade de mudar, apresentou nas suas listas as mesmas caras que marcaram a desastrosa maioria absoluta, de que modo podemos acreditar que o Partido Socialista iria ser capaz de alterar os componentes da sua maioria. Não é credível e demonstra bem que o Presidente da República tomou a decisão certa em convocar eleições. 

É absolutamente lamentável culpar o Presidente da República pela instabilidade política em que Portugal está mergulhado. É de uma falta de caráter culpar o Professor Marcelo Rebelo de Sousa pelo Governo fracassado do Partido Socialista, enraizado em sucessivas demissões, indemnizações dúbias, bicicletas voadoras e decisões por WhatsApp. O executivo de António Costa estava desgastado, esgotado. Não estavam reunidas as condições mínimas para manter estável um Governo instável liderado pelo então Primeiro Ministro. Era necessário convocar eleições e apurar a vontade popular, que tornou notório o descrédito da população no Partido Socialista e nas suas políticas, que conduziram, em 8 anos, Portugal a um festival de problemas.

Para além do PS ter obtido uma quebra abrupta nos seus resultados, observou-se um aumento significativo do número de votos no Chega. E este aumento ficou refletido no descontentamento profundo de parte dos cidadãos portugueses, que vêem agora como imperativa uma mudança drástica no rumo que Portugal deve seguir. Este crescimento do Chega deve-se, sobretudo, à tenebrosa gestão do país erguida pelo Partido Socialista, que levou 18% dos eleitores a votar em André Ventura. Não vejo, ao contrário do que muitos dizem, o Chega como um partido de direita ou de extrema-direita. Vejo-o como um partido radical, disruptivo e oportunista, que apresenta propostas pouco exequíveis, mas que vão de encontro ao que muitos portugueses querem ouvir. E devo salientar que o facto de o Chega contar com a oposição da comunicação social e dos comentadores políticos potenciou este resultado tão positivo para André Ventura.

Como se costuma dizer, “o fruto proibido é o mais apetecido”. Criou-se um enredo tão pejorativo deste partido que, ao contrário do pretendido, fez com que muitos se relacionassem com ele em tom de apoio ao partido “atacado por todos”, e defendido por poucos. Manifestamente, os partidos não estão a conseguir lidar com o Chega. Os partidos de esquerda repetem o discurso do fascismo, O PSD ignora e desvaloriza, e o IL, na minha perspetiva o partido que melhor contraria André Ventura, tenta provar que o Chega é um partido contraditório, que tanto “joga” para a esquerda como para a direita. A melhor forma de fazer oposição ao Chega, se assim for pretendido, não passa por desvalorizá-lo nem por intitulá-lo de extrema-direita, mas por desconstruí-lo e demonstrar que as suas propostas não são tão coerentes e verosímeis como André Ventura faz parecer serem. 

Agora que a Aliança Democrática venceu democraticamente as eleições legislativas, é imperativo que se reúnam as condições necessárias para que tenham a possibilidade de governar o país. O Partido Socialista não pode opor-se veemente a uma coligação entre a AD e o Chega, mas depois não viabilizar um Orçamento de Estado apresentado pela AD, com uma maioria relativa representada no Parlamento. Seria do mais antidemocrático que o Partido Socialista podia fazer. Com guerras a emergir por todo o mundo, não é altura para Portugal ter uma instabilidade política. Nos 50 anos do 25 de abril, há que respeitar a Democracia, e não defendê-la na teoria, mas não a pôr em prática. Uma coisa é certa, historicamente, quem é responsável por criar uma instabilidade política, é responsabilizado pelos portugueses em tempo de eleições. Se Pedro Nuno Santos não é capaz de respeitar a Democracia, que se sirva dos dados que marcam a história. 

Francisco Pereira Baptista

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