De que está à procura ?

Colunistas

Climáximo da desordem pública

© DR

Ver jovens a praticar o direito à manifestação não é nem deve ser novidade para ninguém. Sendo este um direito para mostrar ao mundo uma dada insatisfação, deve ser aproveitado e utilizado para promover causas justas, de forma ordeira e dentro das devidas legalidades. Esta forma pacífica de manifestação tem sido posta em causa por ativistas mais radicais, que parecem ter como ideologia criar a desordem pública.

Não coloco em causa os princípios que são defendidos nas mais recentes manifestações praticadas por jovens em defesa do ambiente. Não pretendo avaliar, com este artigo, os preceitos que motivam as respetivas manifestações. Concordando mais ou menos com as motivações dos protestos, penso que cada pessoa deve ser livre de se manifestar, desde que não ponha em risco a tranquilidade da restante sociedade. Ora, quando os protestos ultrapassam o bom senso e o respeito pelos outros, o caso muda de figura. Foi com estas características imperfeitas que o grupo Climáximo se manifestou em favor do ambiente. Primeiro, atacando o Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, durante uma conferência, arremessando-lhe tinta verde, ato este gravíssimo e perigoso, que podia ter tido consequências danosas para o Ministro. Este ataque, que adjetivo de muito infeliz e ridículo, demonstrou o radicalismo com que o grupo de ativistas se pretende fazer ouvir. Para além deste ataque a uma pessoa, os ativistas julgaram por bem bloquear a segunda circular, em Lisboa, imobilizando o trânsito e impedindo os cidadãos de se deslocarem para o trabalho. Apenas com o esforço dos condutores dos veículos presos naquela desordem foi possível retomar a “normalidade” da respetiva estrada, que contou com dois manifestantes pendurados numa ponte, sujeitos a cair e a provocar possíveis acidentes a pessoas que nada tinham a ver com os protestos. Não bastando estes acontecimentos insólitos, os ativistas do grupo Climáximo decidiram pintar a sede do grupo REN de vermelho. É, de facto, lamentável que estas ideias radicais, que já eram vistas noutros países europeus, estejam a ganhar vida em Portugal. Faltam os adjetivos para qualificar estes atos birrentos e desmedidos.

Não entendo, de verdade, o objetivo destes manifestantes extremistas. Uma manifestação deve servir para unir o máximo possível de pessoas por uma causa digna e importante. Pelo contrário, apesar de a causa ser relevante, a forma como se processam as manifestações trazem o efeito inverso ao supostamente pretendido. Bloquear as ruas leva à revolta e à insatisfação da população, que já vive contra o relógio, por natureza, e ainda tem de perder tempo à espera de reacionistas desordeiros. Atacar pessoas e vandalizar sedes demonstra uma enorme falta de noção e proporciona uma ridicularização em torno da forma de manifestar, não realçando os verdadeiros motivos que levaram a curso a manifestação. E eu questiono-me qual o verdadeiro motivo dos protestos. Chego a ter dúvidas se estes ativistas pretendem não só lutar pelas suas causas, mas também ser mediáticos a ponto de aparecer em tudo que é telejornais e redes sociais. 

Espero que estes radicalistas sejam punidos de forma correta e exemplar. Porque se a lei abre exceções e atribui benefícios para aqueles que se consideram ativistas, então, caros leitores, aconselho vivamente que todos se intitulem de ativistas. Como referiu a Senhora Doutora Manuela Ferreira Leite, por quem tenho grande estima e admiração, no programa Contra Poder, na CNN Portugal, “Eu não sei como se adquire o estatuto de ativista, porque eu gostava de ter […] não sei se é na Junta de Freguesia, se na Loja do Cidadão…”. E eu faço destas minhas palavras. Se com tal estatuto são atribuídos benefícios jurídicos, então será aselha, passo a expressão, quem não o obtiver. Apelo a que a justiça seja aplicada de forma coerente, justa e sem receios. Ou temos uma lei igual para todos, ou corremos sérios riscos de descredibilizar o Direito e potenciar ainda mais estas manifestações reacionistas, radicais e extremistas.

Francisco Pereira Baptista

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA