Três irmãs ajoelhadas nas lajes de pedra fria
no templo do senhor
de olhos fechados, cabis-baixas,
fiéis, devotas e devolutas
parecem orar, mas na verdade
o que pedem é vida, mais vida, outra vida.
Uma cisma no marido
que nunca lhe aquece a cama
nem a ela, mesmo quando está de corpo presente.
A outra chora o namorado impotente
que por oito vezes na última semana
não soube provar-lhe o vigor do seu amor.
A terceira faz voto de castidade semanalmente
mas o cio que lhe trava as pernas
e molha as virilhas ameaça torná-la demente.
O prelado aproxima-se das três
e bem-diz o seu movimento genuflexório penitente,
não sabe nem conhece as razões das suas aflições,
acaricia-lhes a fronte e o rosto com ternura
e repete que o senhor as ama incondicionalmente.
“Estais prontas a receber o senhor em vós?”
Elas acenam em silêncio que sim
e abrem a boca docilmente.
Com a taça do vinho bom numa mão
e a promessa de salvação na outra,
ele coloca cuidadosamente
nas suas línguas e nas suas bocas
a promessa de vida, absolve-as
e liberta-as dos seus pecados.
Elas sentem-se finalmente salvas
naquele gesto puro de dádiva divina
provam gulosamente o seu amo e senhor
provam gulosamente ao seu amo e senhor
como o amam também
fielmente.
“Esta é a Oração da vida,
da vida que se dá e se toma.”
De seguida, as três penitentes deixam-se
compenetrar pela alegria e pela felicidade de sentirem
o criado e criador em si
e anseiam pelo derradeiro momento do êxtase
que só as bem-aventuradas podem experienciar.
O êxtase vem finalmente em ondas eléctricas
que lhes percorre o corpo,
lhes ferve o sangue,
para depois caírem no chão como exangues.
No final, as três irmãs vestem
as máscaras sociais novamente
e voltam para os seus maridos e famílias,
para as suas vivendas floridas
atapetadas de cozinhas americanas e sofás italianos,
para os seus empregos perfeitos
nas torres de vidro e marfim da grande cidade.
JLC13082017