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Viagens de um solteiro: todo esse fiambre para mim?

A Polónia foi o primeiro e único país em que vivi sem dominar a língua. Ou seja, sabia algumas palavras, mas para falar fluentemente, tinha ainda muito caminho a percorrer!

Primeiro comecei por fazer um tandem com uma polaca que também vivia na residência de estudantes em Zurique e que queria melhorar o seu alemão. Depois, já na Polónia, fiz o mesmo com um advogado que queria melhorar o seu português. É uma forma divertida e económica de aprender idiomas! Com a rapariga reunia-me sempre na sala de música da residência de estudantes onde vivíamos em Zurique. Com o advogado reunia-me na biblioteca da Universidade de Varsóvia, já agora um excelente lugar a nível arquitectónico.

Mas em ambos os casos, sentia-me tão irritada. Sempre pensei que era óptima a aprender idiomas. Era, correcto. Não com o polaco. Que frustração quando aprendi o primeiro grupo de vocabulário e tentei construir as primeiras frases. Se em alemão, a minha segunda língua, há quatro casos de gramática, que alteram apenas o artigo do substantivo e o adjectivo de nominativo para acusativo, dativo ou genitivo, em polaco existem sete casos. E tudo muda, até o término dos substantivos.

A situação mais caricata foi quando alguém me chamou uma vez “Pano Marto” (Pan significa Senhora). Eu pensei, não pode ser para mim. O meu nome é Marta. Sim, era para mim. Estavam a chamar-me, usando então o vocativo, em que até o meu nome muda, o que em Português ficar a soar a nome masculino.

Bem, isto para dizer que tive vários problemas de comunicação durante o tempo que vivi na Polónia. Uma vez fui ao supermercado, um enorme supermercado com milhares de marcas para cada produto. E pedi 50 de fiambre. Dizer 50 em polaco já era uma grande conquista para mim, mas como não sabia como dizer fiambre, apontei para o mesmo. Fiquei feliz, tinha conseguido comunicar. E, nem olhei para o que a senhora estava a fazer.

Quando ela me deu o fiambre, olhei para ela e disse: eu disse-lhe 50 e não 500. Contudo, claro, com gestos, como ela não falava inglês nem alemão e eu não me conseguia exprimir bem em polaco. Fiquei tão frustrada, mas pensei: bem, eu quero comer fiambre, então vou levar.

Semanas depois, ao contar o incidente a alguns amigos, disseram-me: claro, Marta, é que na Polónia medimos o fiambre em decagramas e não em gramas. Ah, óptimo, agora sei!

Noutra vez estava numa grande loja de roupa. Estava a experimentar uma saia. Entretanto, alguém de uma embaixada ligou-me e escrevi todos os detalhes da conversa e contactos num pequeno pedaço de papel. Depois da chamada, olhei para mim com a saia e eu não gostei. Não me cabia. Era muito curta. Mudei para a loja seguinte e, de repente, percebi que tinha perdido o pequeno pedaço de papel.

Bem, e agora, como vou explicar que perdi? Sem preocupações, vou ao provador e tento explicar com as minhas mãos. Adivinhem? Estive lá dez minutos tentando o meu melhor e a senhor não percebeu o que eu queria. Perdi o relatório perfeito que tive da conversa com o diplomata.

O terceiro, ou melhor, a situação mais traumática de que me recordo, foi quando me fui registar no sistema polaco. Fui a um prédio antigo com pessoas idosas. E pensei, bem, isto é o mesmo que em Portugal ou na Suíça, tenho que sorrir, ser educada e eles vão-me ajudar a preencher essas horríveis coisas burocráticas que nunca na vida entenderemos.

Pois bem! Muito optimista como sempre. A senhora não falava nenhuma das minhas seis línguas e apontou para um papel totalmente preenchido pendurado na parede. Oh, Marta, agora adivinha o que significa nome, endereço e data de nascimento. Dei o meu melhor, mas até hoje não sei se as autoridades polacas entendem que não me chamo “Porto” e nasci “em Marta”.

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